A terapeuta da terapeuta

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Desde o início do ano tenho vivido a experiência de atender online no estágio em clínica psicanalítica uma estudante de psicologia de uma faculdade de Brasília. De estudante para estudante e de futura terapeuta para futura terapeuta nossa relação tem sido rica e amistosa, colecionando valiosos episódios de transferência positiva a despeito das inegáveis adversidades.

É preciso lembrar que em A Dinâmica da Transferência de 1912, Freud explica “como surge necessariamente a transferência numa terapia analítica e como ela chega a desempenhar seu conhecido papel no tratamento” (FREUD, 2010, p. 101).

Todo ser humano teria um modo característico de conduzir a vida amorosa, no que tange: às condições que estabelece para o amor, aos instintos que satisfaz e aos objetivos que coloca. E esse padrão é repetido diversas vezes em diferentes relacionamentos experimentados pelo sujeito. Contudo, somente parte do mencionado padrão, “impulsos que determinam a vida amorosa”, estaria acessível à personalidade consciente daquele que o pratica, outra parte está inconsciente. Ou seja, “foi detida em seu desenvolvimento, está separada tanto da personalidade consciente como da realidade, pôde expandir-se apenas na fantasia ou permaneceu de todo no inconsciente, de forma que é desconhecida da consciência da personalidade”  (FREUD, 2010, p. 101).

A teoria freudiana identifica tipos de transferência de ocorreriam no contexto da análise e deveriam ser manejados com destreza pois seriam significativamente capazes de interferir nos resultados dela.

Fonte: encurtador.com.br/emyNP

Contudo, o desafio não para por aí, no manejo dos investimentos libidinais que a colega, potencialmente conhecedora dos conceitos e teorias de psicologia e psicanálise, endereçaria a minha pessoa. Mas, acima de tudo, a angústia gerada pela responsabilidade de conhecer o papel e os efeitos da minha contratransferência na relação com ela.

Confesso que este componente, terapeuta da terapeuta, não tem impedido nosso trabalho de alcançar alguns frutos valorosos, colhidos do relato pessoal da paciente nas sessões. E, acima de tudo, da permanência dela nas sessões validando o desejo da futura analista que vos fala acerca da continuidade da análise.

Mas, não é possível ignorar que o mencionado componente caracteriza nossa relação terapêutica e causa repercussões nas relações transferenciais e contratransferências num esforço conjunto de medir as palavras, acertar os conceitos e demonstrar uma segurança teórica e técnica no decorrer das sessões.

Destaco especialmente a sessão em que a paciente dedicou-se a uma fala longa e detida para explicar como tinha compreendido parte dos apontamentos que eu fizera nas sessões, bem como o uso de algumas técnicas de pontuação do discurso dela a partir do texto as “Cinco lições de psicanálise” escrito por Freud em 1909.

Fonte: encurtador.com.br/nKL58

Noutro momento, ainda, foi marcante para mim, enquanto terapeuta em formação, as precisas observações que a colega fizera sobre meu hábito, nada correto de anotar as falas dela na sessão e das minhas notas coletar apontamentos. De tal modo que ela confessou fixar sua atenção nas minhas expressões e no que eu poderia estar anotando para antever aquilo que poderia ser pontuado e, defender-se ou preparar-se para aquilo.

De pronto devo dizer que, após o choque da fala da paciente e do coerente feedback da minha orientadora/supervisora, abandonei o hábito de anotar nas sessões. Passei a dedicar meus esforços ao exercício da atenção flutuante.  

Tal situação, de fato, consiste em verdade na mais pura resistência da minha parte a ser vencida ou ressignificada em cada nova sessão como terapeuta em formação. E a ser trabalhada tanto na supervisão técnica quanto em minha análise pessoal de modo a garantir a qualidade mínima exigida pelo tripé psicanalítico.

Fonte: encurtador.com.br/cjwzJ

Porém, a despeito do caráter especialmente desafiador de atender uma futura colega de profissão que conhece bem as técnicas que estão sendo utilizadas no setting e que aponta na minha fala a percepção que teve sobre o manejo destas durante a sessão, trata-se de uma experiência riquíssima e um exercício ímpar que tem me permitido experimentar e treinar, sob qualificada supervisão, a arte de estar no lugar de objeto resto a despeito de quem seja aquele que ocupa a poltrona à minha frente.

Referências:

FREUD, Sigmund, 1856-1939. Observações psicanalíticas sobre um caso de paranoia relatado em autobiografia: (“O caso Schreber”): artigos sobre técnica e outros textos (1911-1913) / Sigmund Freud ; tradução e notas Paulo César de Souza. — São Paulo: Companhia das Letras, 2010.

FREUD, Sigmund, 1856-1939. Cinco lições de psicanálise, Leonardo da Vinci e outros trabalhos (1909) / Sigmund Freud ; file:///C:/Users/User/AppData/Local/Temp/freud11.pdf.

Santos, Manoel Antônio. A transferência na clínica psicanalítica: a abordagem freudiana. Temas psicol. vol.2 no.2 Ribeirão Preto ago. 1994.

ISOLAN, Luciano Ransier. Transferência erótica uma breve revisão. 189. Transferência erótica – Isolan Rev Psiquiatr RS maio/ago 2005;27(2):188-195

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Quando bonecos substituem pessoas: o que está por trás desse fenômeno?

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Já pensou ter um filho que não chora e que você só precisa limpar a fralda quando bem quer? Ter um namorado/namorada que não discute a relação com você, mas pode realizar todas as suas fantasias sexuais? Graças à fabricação de bonecas hiperrealistas, isso tem se tornado um desejo possível, mas muito além de uma mera satisfação, existem fenômenos relacionais que permeiam o tema.

Bonecas hiper-realistas são objetos customizados por artistas ou empresas, que se parecem o máximo possível com pessoas reais; entre a febre do mercado temos os bebês reborns que costumam ser feito artesanalmente de forma minuciosa, onde se adicionam atributos físicos como cabelos, cor dos olhos, cílios e unhas, de acordo com gostos e critérios do cliente. O público majoritário que adquire esses produtos costuma serem crianças. Quanto a isso Barry Kaufman, PhD em psicologia cognitiva pela Universidade de Yale, acredita que: brincadeiras de “faz de conta” melhoram a comunicação, criatividade e empatia, além de serem fundamentais para o desenvolvimento do senso de responsabilidade das crianças. Podendo essas bonecas ser um importante instrumento no desenvolvimento infantil.

Era apenas brincadeira de criança até os adultos começarem a optar por reborns em vez de bebês reais. No documentário MOV.doc “Pais de bebê reborn: a rotina de quem formou uma família com bonecas realistas“, podemos ver detalhadamente o dia a dia de quem faz essa escolha, formando famílias com as bonecas inanimadas.

Fonte: encurtador.com.br/rL013

Outra realidade que vemos crescer, no ramo de bonecas hiper-realistas, são as bonecas sexuais, usadas para satisfazer desejos e fantasias, por muitas vezes suprindo a solidão de quem não tem uma companheira. Colocando em destaque uma situação problemática sobre a distorção da realidade e o ideal da mulher perfeita, sendo responsável pelo fortalecimento de padrões inalcançáveis e a objetificação do corpo feminino.

O que motiva as pessoas a buscarem por relações com bonecas ao invés de cultivar relações com pessoas reais? O Sociólogo Zygmunt Bauman nos traz a ideia de modernidade líquida, onde o desejo parte do acúmulo de bens em quantidade, sendo assim algo superficial, que acompanha a moda e o pensamento da época. A ciência, a técnica, a educação, a saúde, as relações humanas, tudo que foi criado pelo ser humano, são submetidos à lógica capitalista de consumo. Vemos cada vez mais a indústria investindo recursos para esses objetos, legitimando as idealizações criadas pelos seus clientes, ao mesmo tempo incentivando um mecanismo desejoso de consumo, fortalecendo o imperativo da modernidade líquida; prazer a qualquer custo.

Freud diz que “o princípio do prazer é caracterizado pela procura do mesmo, ao mesmo tempo em que se evita a dor, sofrimento ou tensão”. Se relacionar com uma boneca, seja criando uma família ou seja de forma sexual, nos permite o distanciamento dessa realidade, não precisamos lidar com emoções, sejam elas positivas ou negativas, apenas com o prazer em sua forma pura ou fetichista, onde imperam fantasias e ideias do id. Freud (1920 p.20) também nos alerta que:  ‘’O princípio de prazer é próprio de um método primário de funcionamento por parte do aparelho mental, mas que, do ponto de vista da autopreservação do organismo entre as dificuldades do mundo externo, ele é, desde o início, ineficaz e até mesmo altamente perigoso‘’. Ou seja, estar preso em um mundo idealizado onde tudo parece perfeito, pode em um primeiro momento te afastar dos problemas, mas logo acaba por evidenciar dificuldades em lidar com eles, mantendo um despreparo da vivência real e o reforçamento de comportamentos delirantes ou infantis.

Faz-se necessário a busca pelo princípio da realidade o qual Laplanche e Pontalis (1988) “consideram-no como um princípio regulador, já que ele modifica o princípio do prazer no que diz respeito aos caminhos percorridos para se atingir a satisfação”. É a busca de um equilíbrio para que o sujeito não se distancie ou distorça a realidade, gerando assim um sofrimento psíquico, de difícil reconhecimento pelo mesmo, esse princípio ainda permite o enfrentamento de frustrações e questões internalizadas. Cabe ao texto reflexões de até que ponto o  relacionamento com essas bonecas faz com que seus usuários  se distanciam das emoções, tanto as suas como a do outro, fortalecendo o conceito de amor líquido, onde se destaca a fragilidade dos laços humanos. Enxergando por uma ótica positiva, algumas dessas bonecas podem ser de grande representação ao que engloba a elaboração do luto ou as questões relacionadas à solidão ,podendo se tornar um mecanismo benéfico se usado de maneira adequada.

Fonte: Documentário ”Os bordéis de bonecas sexuais na Europa”

Fonte: Documentário ”Os bordéis de bonecas sexuais na Europa”

Fonte: Documentário ”Os bordéis de bonecas sexuais na Europa”

Referências

Modernidade liquida – Francisco Porfirio

Princípio do prazer versus princípio da realidade em contos infantis.

Estud. psicanalista. [online]. 2015, n.43, pp. 139-144. ISSN 0100-3437.-

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Sessão de Terapia – Nando: impotência sexual como inibição

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Sessão de Terapia é uma série brasileira, um drama televisivo original da Globo Play, dirigida e estrelada por Selton Melo. A produção lançada em 2012, ilustra bem o que seria um consultório de psicanálise e acompanha a rotina de um analista e seus analisandos.

A série tem relevante valor pedagógico para os estudantes de psicologia e psicanálise pois as histórias descritas descrevem, muitas vezes, os abstratos e desafiadores conceitos e institutos da obra freudiana entre os quais: transferência; complexo de édipo; inibição sintoma e angústia.

No presente texto apresentaremos uma proposta de como o caso Nando, retratado na 4ª temporada da série, pode ser utilizado para facilitar a compreensão da inibição sexual em Freud.

Nando é um personagem complexo que traz ao telespectador diversos conteúdos relevantes para o estudo e o tratamento dos sofrimentos emocionais na atualidade.

O analisando/paciente é apresentado como sendo um executivo de multinacional, muito bem-sucedido na carreira, que vem apresentando um curioso problema de disfunção erétil, impotência sexual, que por meses o impedira de manter relações sexuais com sua esposa Maria Lúcia.

Para esclarecer a queixa ilustrada, a série indica que as dificuldades de ereção estariam limitadas à específica relação com a esposa, apontando que Nando haveria afastado sintomas físicos após consulta a um urologista, bem como, que este estava apto para outras formas de satisfação sexual (masturbação e até sexo com outras mulheres).

Fonte: encurtador.com.br/cpCH6

Não havendo causas físicas, ou patológicas, coube a ele buscar apoio profissional para um possível sofrimento psicológico que levava a uma limitação na sua função sexual.

O caso Nando ilustra o conceito freudiano de inibição e, ainda, a distinção proposta pelo autor entre inibição, sintoma e angústia no seu texto de 1926.

Ao propor a psicanálise como cura pela fala, Freud, tinha a linguagem como instrumento e a livre associação como metodologia. Para o autor, deste modo, era relevante indicar as distinções conceituais entre significantes próximos que pudessem gerar confusão acerca de fenômenos parecidos, porém distintos.

Deste modo, a teoria freudiana trata a inibição como a restrição de uma função do corpo, mas que não significa necessariamente algo patológico. Deixando os conteúdos patológicos ligados ao conceito de sintoma (FREUD, p.14).

No texto de 1926, Freud esclarece que “a função sexual está sujeita a muitos transtornos, a maioria dos quais tem o caráter de inibições simples”. (FREUD, p.14). Estas inibições são classificadas como impotência psíquica e, no homem, seria possível identificar os seguintes estágios, além dos distúrbios de natureza perversa ou fetichista:

O afastamento da libido no início do processo (desprazer psíquico), a ausência da preparação física (falta de ereção), a abreviação do ato (ejaculatio praecox), que também pode ser descrita como sintoma, a interrupção do mesmo antes do desfecho natural (ausência de ejaculação), a não ocorrência do efeito psíquico (da sensação de prazer do orgasmo) (FREUD, p.14).

Fonte: encurtador.com.br/bcfFI

O pai da psicanálise inova ao apontar a ligação entre a inibição, falha da função e a angústia, sofrimento emocional de ordem inconsciente. Para ele, “várias inibições são claramente renúncias à função, pois o exercício desta produziria angústia”.

No seu texto, Freud nota que procedimentos bastante diversos podem perturbar a função, inclusive a função sexual e destaca dentre eles: o afastamento da libido; a piora no cumprimento da função; a dificuldade desta pelo desvio para outras metas; sua prevenção através de medidas de segurança; sua interrupção mediante o desenvolvimento da angústia, quando seu começo não pode mais ser impedido; e, por fim, uma reação a posteriori, que protesta e busca desfazer o acontecido, se a função foi mesmo realizada (FREUD, p.16).

No caso do personagem Nando, em Sessão de Terapia, o desenrolar dos episódios leva a audiência a constatar que uma causa inconsciente para a queixa inicial. A mudança de status de Maria Lúcia no contexto do casamento, que deixou de ocupar o ideal de esposa e mãe submissa muito associada à memória que Nando tinha da própria mãe dele, passando a ganhar mais do que ele, tornando-se uma palestrante e escritora famosa internacionalmente e, ainda, respeitada militante pelo direito das pessoas negras, haveria dado causa a um desejo inconsciente de não fazer sexo com ela e, com isso puni-la, além de ter provocado crise de masculinidade.

Durante as 6 sessões programadas para o personagem, o público vai acompanhando os esforços do analista de promover espaços de fala e livre associação que oportunizassem a Nando reconhecer sua angústia de ser superado por sua esposa em termos profissionais e ressignificar sua posição de masculino construída à luz dos exemplos obtidos ao observar a relação conjugal dos pais na infância, para, com isso, recuperar a funcionalidade plena da sua atividade sexual.

Por fim, vale destacar a relevância deste personagem para os estudos da influência de questões raciais na prática da psicologia e psicanálise. Isso porque, Nando é um homem negro cuja angústia passa pela necessidade de ressignificar o que é ser homem, revisando conceitos machistas, e o que é ser negro, revisando a reverberação inconsciente de experiências de racismo na psique do sujeito e, na construção da sua expressão de masculinidade.

Fonte: encurtador.com.br/cpCH6

FICHA TÉCNICA

Sessão de Terapia

Ano produção: 2012
Dirigido por: Selton Melo
Gênero: Drama

Referência:

FREUD, Sigmund. Obras Completas Volume 17, Inibição, sintoma e angústia, O futuro de uma ilusão e outros textos. (1926/1929). Tradução Paulo Cesar de Souza. 1ª Edição. Companhia das Letras. 2014.

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“Elize Matsunaga – Era uma vez um crime”: conteúdos psicológicos da controversa série brasileira

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A série brasileira “Elize Matsunaga – Era uma vez um crime” é um documentário televisivo original da Netflix em parceria com a produtora Boutique Filmes, dirigida por Eliza Capai. A produção lançada em julho de 2021, tem conteúdo com censura 14 anos, melancólico focado, especialmente, nos sintomas psicológicos e jurídicos da autora confessa de um dos crimes mais impactantes da história recente do país ocorrido em 19 de maio de 2012.

Figura 1 – (Crédito: Reprodução/Netflix)

A série explora fotos e vídeos de conteúdo intimista do antigo casal, apresenta vasto material jornalístico veiculado à época do julgamento, as falas de amigos, familiares e de especialistas sobre o caso oferecendo, e, por fim, destaca-se por conter muitas horas de declarações diretas de Elize tomadas durante uma saída oficial do ressesso de páscoa da prisão de Tremembé em 2019, falando em primeira pessoa, com iluminação e enquadramentos ajustados para fazer audiência sentir-se em frente a ela, olhando nos olhos, com expressiva proximidade.

Os episódios da série são: 1 – Estado civil: viúva; 2 – Uma vida de princesa; 3 – A infeliz ideia de Eliza e 4 – Ecos de um crime.

Figura 2- (Crédito: Reprodução/Netflix)

São apresentados temas de muito relevo para a psicologia e psicanálise, sadismo, masoquismo, depressão, e psicopatia foram conceitos diversas vezes mencionados pelos que tentavam enquadrar e compreender a subjetividade complexa da autora do crime bárbaro.

No julgamento, tanto a defesa como a acusação fundavam seus argumentos e aspectos psicológicos relativos a Elize. Os primeiros arguiam que a pena do crime deveria ser afastada, atenuada ou reduzida, pois no momento que atitou no marido, e esquartejou o corpo dele e o transportou em malas, ela não respondia por suas ações, pois estava tomada por violenta emoção.

Segundo a defesa, a autora do crime teve uma crise de ansiedade decorrente de longo período do medo que sentia de ser machucada e morta pelo marido, e tal medo estaria justificado no longo período de violência psicológica sofrida por ela contexto do casamento.

Já a acusação também faz uso da psicologia para pedir aumento da pena de Elize, que teria cometido o crime por motivo torpe, por mero ciúme e a associa a figura estigmatizada da mulher que deseja ser Cinderela, e ter “uma vida de princesa”, deixar as raízes humildes e ascender socialmente por meio do casamento do qual ela não estaria disposta a abrir mão.

Figura 3 – (Crédito: Reprodução/Netflix)

Neste contexto, entre argumentos de defesa e de acusação as personalidades de Elize e do marido assassinado tornam-se objeto de diversas discussões e especulações ao longo da série num esforço de compreensão e categorização da barbárie.

Como exemplo, tem-se a apresentação ao público de “fatos novos” que poderiam justificar para o público os comportamentos de Elize. Isso porque, foi descrito o impacto da morte prematura do pai na história dela. Foram retratados a vida difícil em termos de condições materiais que a família enfrentava e o contexto rural e muito rústico que ela viveu a infância e adolescência.

Além disso, tem-se um possível abuso sexual que ela teria sofrido aos 15 anos, perpetrado pelo padrasto e que teria marcado profundamente sua subjetividade e, por fim, a experiência vivida como profissional do sexo que a levou a sair do contexto familiar e a conhecer o futuro marido.

Por fim, vale destacar a releitura feminista que a série se propõe a fazer tanto do crime em si questionando diversos pontos de pré-conceitos ligados ao fato de a autora ser uma mulher, ter sido profissional do sexo e ter agido motivada por ciúmes, destacando, ainda, diversos casos famosos como o de Ângela Dinis morta pelo marido nos anos 60. O crime de Elize teria o mesmo fim caso fosse cometido por um homem? Fica a dúvida necessária e o convite à reflexão.

FICHE TÉCNICA

Elize Matsunaga – “Era uma vez um crime”

Ano produção: 2021

Dirigido por Eliza Capai

Classificação – Não recomendado para menores de 14 anos

Gênero: Documentário

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O Estranho e suas relações com o desenvolvimento humano

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O Grupo de Estudos em Psicanálise em Palmas-TO, com o apoio do Instituto Suassuna, convida os interessados em psicanálise para participar da aula online com o professor mestre em saúde pública pela Universidade Federal de Minas Gerais, membro da Freudem Psicanálise ensino e pesquisa, Paulo Sergio dos Prazeres, que se realizará no dia 14 de agosto de 2021, sábado, às 14horas via meet.

As inscrições devem ser solicitadas com antecedência pelo Whatsapp (63) 984185596. 

 

Em conversa com a revista EnCena o coordenador do grupo, professor Luiz Cláudio Ferreira Alves, psicólogo, docente universitário, doutor em Psicologia pela UFF-Universidade Federal Fluminense, esclarece a importância do trabalho do professor convidado especialmente por ele ter uma sólida fundamentação teórica psicanalítica somada à uma inserção em ações concretas de políticas públicas de saúde mental. 

Para o coordenador, a formação teórica e a experiência de trabalho do professor Prazeres o qualificam tanto para pensar a psicanálise mais próxima da sociedade, como para apresentar propostas de ação em saúde pública com base na clínica psicanalítica com os diferenciais que o serviço público exige.

Professor Luiz Cláudio Ferreira Alves: “”.

Sobre o Grupo de Estudos em Psicanálise em Palmas-TO, o coordenador também explica que o grupo, cria o grupo  criado há dois anos para realizar seminários presenciais, na capital do Tocantins, têm se expandido durante a pandemia aproveitando a possibilidade remota de intervenções e hoje é composto por integrantes e convidados de várias partes do país. 

Segundo o coordenado do grupo, o novo formato ajuda a fortalecer a psicanálise no Tocantins, enquanto ciência, estudo e prática. 

A indicação de leitura prévia é o texto “O Estranho” inserido no livro de FREUD, Obras Completas Volume XVII.

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Minha participação no coletivo virtual Redemunho

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Ao fazer estágio no (En)Cena, tive que escolher um tema dentre 9 conteúdos; preferi a temática “Psicanálise e Política”. Um dos motivos, ao optar por esse tema no estágio, foi porque tive bastante interesse em relação à psicanálise. Assim, conheci o Redemunho. Trata-se de um coletivo suprapartidário, tem como intuito a invenção e promoção de estratégias políticas democráticas, não autoritárias e que consideram como aliados os afetos e os desejos. Muitas vezes, utiliza como ferramenta a psicanálise como forma de compreender a extrema direita e os fenômenos de massa, seu modo discursivo e de exercício de poder.

Durante os dois meses que estou no estágio, tive vários encontros online com o grupo, e compreendi a imensa importância para mim e para minha futura formação profissional. Destaque para as discussões que ocorrem entre os membros do grupo para a construção de caminhos e estratégias com intuito de suportar as consequências dos resultados das últimas eleições em nossa saúde mental, como resistir e atuar politicamente, principalmente neste novo contexto político com características fascistas no Brasil.

Durante o estágio, percebi a grandeza de Paulo Freire para a minha formação acadêmica. Entrei em contato com a literatura desse gigante da educação por meio das obras, dos artigos, dos vídeos referentes a este autor, das discussões que ocorre no grupo. Assim, a literatura de Paulo Freire me ajuda compreender a importância de escuta da fala do outro; compreendê-lo como sujeito de discurso para que eu tenha como objetivo aprender mais sobre o ambiente em que aquele indivíduo está inserido; suas vivências, seus conhecimentos, seus receios, medos, como ouvinte aprendo ter a tolerância, entrar em contato com a diversidade para eu ter uma escuta de qualidade.

Assim, lembrei de algumas falas de Riobaldo, personagem protagonista da obra Grande Sertão Veredas. Ele narra sua vida para um “doutor” (ouvinte), como “Viver é muito perigoso”, “Sertão é onde o pensamento da gente se forma mais forte do que o lugar”, “O sertão está dentro da gente”, “Mestre é aquele que de repente aprende”. Para Riobaldo, dialogar requer, necessariamente, que haja uma escuta. Em que o “Doutor”, ou “Letrado” se coloque numa posição de abertura, de forma horizontal.

Desta forma, compreendo que ao ler os textos ricos de Paulo Freire vou entrar nesse sertão imenso dentro de mim, ao estar inserida em um cenário trágico em que vivo no meu país, pois viver nunca foi tão perigoso… onde entendo que no contexto cotidiano a maldade de certos governantes expõe sentimentos de raiva, impotência e indignação. Assim, infelizmente, no momento o Brasil está convivendo com um governo de extrema direita,  uma vez que está bem nítido o descaso com a vida por meio de frases e expressões insensíveis como “Eu não sou coveiro”, “E daí?”; e ao menosprezar temas sérios, como a vacinação, com frases como “Toma vacina vira Jacaré”. 

Ao mesmo tempo tenho enfrentado os meus medos, minhas angústias em relação à pandemia que mudou meu contexto de forma mais rápida, assim, comparo-me ao Jagunço Riobaldo. Este necessita enfrentar a brutalidade, os baques, os medos, os desamparos para a travessia do sertão. Dessa forma, eu preciso perpassar pela travessia no estágio do (En)Cena com todos esses enfrentamentos supracitados para seguir o curso da minha vida, sair da minha zona de conforto para questionar a minha existência para uma dimensão política. 

Assim como Riobaldo, em suas andanças, em algumas situações caminha solitário e segue ao encontro de descobrir-se para alcançar à completude, à autonomia, sigo meu caminho. Como diz Freire: “A liberdade, que é uma conquista, e não uma doação, exige uma permanente busca. Busca permanente que só existe no ato responsável de quem a faz”. Diante disso, concluo que preciso ir ao encontro da minha autonomia, seja na dimensão psicológica ou política; preciso adentrar no sertão que há dentro de mim.

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Do psicanalês ao humanês

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O grupo de estudos FaLA – Percurso de Freud a Lacan traz, no dia 08 de julho, às 09h encontro temático virtual com Lucas Nápoli, psicólogo clínico atuante, psicanalista, doutor em psicologia clínica pela PUC RJ e mestre em saúde coletiva pela UFRJ. Nessa ocasião, o professor irá discorrer sobre o tema: “No princípio era o verbo – o que não podemos esquecer de função e campo da fala e da linguagem em psicanálise”.

Figura 1 | Foto da Lucas Nápoli extraída do site https://lucasnapoli.com/about/

O evento é uma excelente oportunidade para os interessados em psicologia e psicanálise iniciar o contato com a proposta teórica da clínica em Lacan, tendo em vista o compromisso assumido por Nápoli de traduzir, e tornar acessíveis a leigos e estudantes, conceitos complexos e abstratos da teoria psicanalítica, de modo a usar a internet para “transformar o psicanalês em humanês”.

O encontro foi organizado para atender a demanda dos participantes do grupo de estudos, “Percurso de Freud a Lacan (FaLA)”, de Palmas-TO. Contudo, há vagas disponíveis para o público em geral.

Inscreva-se no instagram: @falapercurso.

Fonte: Grupo de Estudos FaLA – Percursos de Freud a Lacan

E atenção! Para conhecer mais sobre o trabalho do psicanalista Lucas Nápoli na internet e ter acesso a uma diversidade de conteúdos e publicações, conheça o site  https://lucasnapoli.com/about/

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A escuta sensível na interface Psicanálise-Paulo Freire

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A Psicanálise faz uso do discurso que coloca o outro da relação na posição de sujeito e o psicanalista consegue recuar da sua posição de saber e poder para escutar o outro na sua verdade. Conteúdo este, que vem de encontro com a pedagogia de Paulo Freire com essa posição discursiva, de escutar o outro em sua verdade e, assim, produzir a aprendizagem e a comunicação política. Entra-se então a importância política da escuta, em tempos de cultura do ódio e do cancelamento.

Paulo Freire usou a escuta como uma grande ferramenta em sua teoria, essa escuta freiriana na prática pode mudar relações. O autor em sua obra Pedagogia da Autonomia (2009), aborda sobre a importância de respeitar o conhecimento que o discente leva para a escola. Isso implica na troca que pode ocorrer entre professor e aluno.

Outro ponto importante a se retirar importância de lidar com o outro, é praticar essa escuta sem objetificação. A escuta política surge como uma arma potente para aqueles que querem utilizá-la. “Tem significação precisamente porque os sujeitos dialógicos não apenas conservam sua identidade, mas a defendem e assim crescem um com o outro” (FREIRE, 2009, p. 118).

Fonte: encurtador.com.br/htFN0

Freud em sua essência traz essa preocupação com a escuta qualificada, abordando sobre o valor dado ao autoconhecimento e consequentemente a liberdade pessoal, a partir essa escuta trabalhada, isto foi considerado como um diferencial entre a psicanálise e as demais abordagens.

A importância dessa escuta para Freud é evidenciada a partir do momento em que você começa a ler os seus textos. Para além, pode observar uma crítica ao analista:

É possível pretender que fórmulas simples permitam compreender o processo analítico? Não, analisar é hipercomplexo: escutar com atenção flutuante, representar, fantasiar, experimentar afetos, identificar-se, recordar, auto-analisar-se, conter, assinalar, interpretar e construir (2003, p. 105).

Fonte: encurtador.com.br/cFJWY

Observa-se a preocupação entre os dois autores em relação a escuta, uma vez que esta prática está interligada a compreensão de realidades concretas, do seu contexto histórico, para além disso, observa a sua inserção no mundo a partir dessa escuta.

A escuta produz a conscientização libertadora e transformadora. Conscientização esta que traz um caminho para reinvenção de novos seres, cada um com a sua subjetividade, buscando a necessidade de coerência para ação e reflexão do ser existencial.

REFERÊNCIA

HORNSTEIN, L. Intersuibjetividad Y clínica. Buenos Aires: Paidós, 2003.

SOUZA, Anna Inês. Paulo Freire: vida e obra. São Paulo: Expressão Popular, 2001.

FREIRE, Paulo. Pedagogia Autonomia: Saberes Necessários à prática da educativa. Editora Paz Terra, Rio de Janeiro. 2009. Disponível: https://nepegeo.paginas.ufsc.br/files/2018/11/Pedagogia-da-Autonomia-Paulo-Freire.pdf

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Jornada do Percurso em Psicanálise XV

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A Associação Psicanalítica de Porto Alegre (APPO) realizará, sábado, 24 de abril de 2021 a partir das 09 horas da manhã, a XV Jornada do Percurso em Psicanálise. O encontro temático virtual será aberto com a fala do psicanalista Gerson Pinho e encerrado por Ieda Prates, ambos representantes da APPO, e no correr do dia serão apresentadas três mesas temáticas: Fazeres da psicanálise, Linhas da psicanálise e Articulações da psicanálise.

As inscrições são gratuitas e devem ser realizadas no site do Sympla: https://www.sympla.com.br

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