Tudo bem não ser normal: It’s Okay Not Be Okay

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“Quando você está cheio de emoções e você está perdendo o foco e você se sente exausto demais para respirar. Não se perca no momento ou desista quando estiver o mais perto. Tudo que você precisa é de alguém para dizer – “Tudo bem não estar bem” (Marshmellow feat Demi Lovato).

“Não se esqueça de nada. Lembre-se de tudo e supere. Se não superar, sempre será uma criança cuja alma nunca floresce.” (Ko Moon Young).

Essas duas frases nos levam a refletir que as pessoas nem sempre estão bem, elas em muitos momentos da vida irão se sentir péssimas por algum motivo. E tudo bem não se sentir bem, tudo bem não ser normal. O que precisamos é saber que não somos determinados por tudo que acontece conosco, somos sim influenciados por aspectos biopsicossociais e espirituais, mas até isso pode haver ou não relação com o que pode está acontecendo conosco. Não podemos mudar nosso passado, mas podemos aprender com ele, podemos utilizar as experiências complexas e difíceis para seguir em frente, para aprendermos a viver de outras formas, para que possamos vislumbrar dias melhores.

A canção do Marshmellow foi lançada em um período que as pessoas podem estar se questionando de como tem vivido a vida. Da mesma forma temos um Dorama que foi lançado nesse ano, mostrando pessoas diferentes, passando por momentos difíceis, sentindo-se desesperadas em suas vidas e não conseguindo até certo momento viver de outra forma. A música enfatiza bastante isso “Se sentindo perdido na ilusão, e ultimamente você está isolado pensando que você nunca terá sua chance, sentindo que você não tem solução, é só porque você é humano sem controle, está fora de suas mãos. Mesmo em situações angustiantes e que causem tamanho sofrimento, é possível pensar “Tudo bem não estar bem, tudo bem não estar bem, quando você está pra baixo e se sente envergonhado, tudo bem não estar bem”.

Para muitos a pandemia do Covid – 19 tem sido um divisor de água, muitos sobreviveram e outros mais irão sobreviver. Mas é possível mensurar todas as questões que atravessaram esse período de pandemia? Para Cepedes (2020) e Ornell, et al. (2020), em contextos de epidemia, muitas pessoas são afetadas psicologicamente e esse número costuma ser maior do que os atingidos pela enfermidade, podendo ainda haver mais da metade da população com consequências psicológicas.

Fonte: encurtador.com.br/EIT25

Revisão de estudos sobre situações de quarentena apontou alta prevalência de efeitos psicológicos negativos, especialmente humor rebaixado e irritabilidade, ao lado de raiva, medo e insônia, muitas vezes de longa duração (BROOKS et al., 2000). Contudo, dado o caráter inédito do distanciamento e isolamento sociais simultâneos de milhões de pessoas, o impacto da atual pandemia pode ser ainda maior, levando à hipótese de “pandemia de medo e estresse” (ORNELL et al., 2020). O que sabemos que as pessoas já viviam como podia, em contextos de crise, algumas conseguem acessar reservas emocionais que transpõem certas questões. Porém outras infelizmente são transbordadas de tal forma que podem piorar quadros clínicos já existentes ou manifestar outros jamais concebidos.

Uma forma positiva de ver situações complicadas com outra perspectiva é entrando em contato com outras realidades, mesmo aquelas às vezes fictícias. No drama “Tudo bem não ser normal” é contada a história de uma escritora de livros infantis com problemas de socialização e um enfermeiro que trabalha em hospitais psiquiátricos. Ko Mun Yeong é a típica narcisista, que faz tudo o que quer e sempre que quer algo vai atrás sem medir esforços. Já Moon Gang-Tae é um rapaz que vive para cuidar do irmão mais velho que apresenta diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA), por terem que se mudar regularmente Gang-Tae não tem muitos amigos e se isola de quase tudo, trabalha com doentes mentais e prioriza seu irmão, ao invés si mesmo.

Os dois se cruzam depois de muitos anos, ambos vivem realidades muito diferentes, mas por conta do acaso passam a conviver novamente na pequena cidade onde moravam quando crianças. Época essa que marcou de forma terrível a vida dos protagonistas, os irmãos Moon tiveram que ir embora às presas, pois a mãe foi vítima de assassinato e a mãe de Mun Yeong desapareceu de forma misteriosa. Depois de muitos anos os três irão descobrir os fatos que culminaram na mudança dramática de vida deles.

Fonte: encurtador.com.br/dwEK3

Mas antes disso, é perceptível que os personagens principais estavam estagnados, quase que respiravam para sobreviver e não para viver. Mun Yeong tinha tudo para ter uma vida digamos agradável, era uma escritora bem sucedida, reconhecida pelo talento herdado pela mãe (também era escritora, porém de suspense), contudo sentia que as coisas estavam sem sentido. Quando reencontra Gang-Tae começa a reconhecer as emoções de modo real e quanto mais tempo convive, não apenas com ele, também com seu irmão, seu maior fã. Sente que pode pela primeira vez voltar viver de novo, ou seja, começa a ir em busca da superação de seus medos e traumas do passado, como ela mesmo diz na trama “Um trauma deve ser encarado de frente, e não mitigado por trás”. A mesma tinha pais muito rígidos e não permitia que se vinculasse com ninguém. Por fim, a mãe lhe causava muito medo e angustia por querer lhe controlar (não é pouco controle, ela afastava todos do caminho da filha).

Já Gang-Tae sente que nunca viveu de fato, sempre teve que cuidar de seu irmão, mesmo quando a mãe estava viva tinha que fazer de tudo para que nada de ruim acontecesse com ele. Quando um infortúnio aconteceu, seu irmão quase se afogou e ele por um instante hesita em salvá-lo (por achar que todos seus problemas seriam resolvidos), passa a se culpa cada vez mais e depois que sua mãe morre, cuida do irmão e o coloca sempre em primeiro lugar. Nunca criando raízes, nunca fazendo o que gosta, pois assim acha que o irmão será de fato preservado. Quando vê novamente Mun Yeong começa a despertar para novas possibilidades, embora hesite em se aproximar da moça, por achar que ela vai atrapalhar ainda mais suas vidas. No fim, os dois tentam encontrar formas de equilibrar suas histórias, mas tudo que envolve o drama de suas vidas é ainda mais complicado do que parece, de alguma forma a morte e o desaparecimento de suas mães estão interligados.

Por fim temos o fofo e brilhante Moon Sang-tae, um homem muito inteligente, que adora dinossauros e pinta extremamente bem. Um dos problemas evidenciados no personagem é sua dificuldade em socialização e em aceitar que novas pessoas se vinculem a ele a seu irmão. Outro ponto é o seu trauma de borboletas, problema este que começou quando era mais jovem, por conta disso sempre que chega a primavera e as borboletas começam a aparecer em maior frequência, ele e o irmão precisam se mudar. No começo da trama quando Mun Yeong está determinada a se aproximar de seu irmão e o usa como desculpa para esse fato, ele não se incomoda de início, mas no decorrer da história isso traz complicações para os irmãos e muitas questões dolorosas vem à tona.

Fonte: encurtador.com.br/ALOT2

Tudo bem não ser normal, demonstra uma delicadeza e muita leveza os problemas advindos da vida complicada e marcada por traumas. Tudo isso mostrado através do poder das artes e as fortes ilustrações nos livros infantis. Por meio de histórias fortes, resilientes e muito dolorosas, que eram contadas em forma de metáfora em cada episódio. Marcando ainda mais quando a última publicação da autora é exposta, revelando a força existe das relações e os vínculos com as pessoas queridas. Pois, a forma que Mun Yeong encontrava para extravasar e demostrar suas emoções era por meio da escrita e muitas vezes na tentativa de evitar se transformar naquilo que mais temia, a mãe dura e medonha.

Outro ponto bastante relevante na trama são as histórias por trás dos pacientes psiquiátricos do Hospital OK, lugar este que visava ressignificar e tratar de forma humana os traumas, os transtornos e os problemas advindos da vida deles. Todos os personagens principais percebiam o peso que era carregar um estigma na sociedade, sendo muitas vezes evidenciado no discurso por exemplo nos familiares dos pacientes, em amigos etc. Eles conseguiram também mesmo com dificuldades se inserir na vida destas pessoas, que de certa forma também auxiliam na tomada de consciência, de que a vida muitas vezes é complicada por muitos fatores. Todavia, quando se há perspectivas futuras, uma rede de apoio para abarcar tais questões, tratamento e intervenções pautadas nessas necessidades, é possível haver diferença significativas, que irão transformar a vida dessas pessoas.

It´s Ok Not Be Okay mostra que é possível ressignificar traumas, conflitos e pensamentos de impossibilidade. O ser humano é dotado de inteligência, habilidades e capacidades inimagináveis, é preciso falar sobre as dificuldades, dar uma chance para resolver os problemas da vida. Tudo bem não ser normal, pois não somos feitos de fatos ou de momentos, somos feitos de tudo. É importante lembrar que todo mundo pode passar por um momento difícil da na vida, que tal contexto não nos define e de perto ninguém é normal.

“O que a bruxa sombria tinha roubado deles não eram seus rostos de verdade, mas sua coragem de encontrar a felicidade.” (Ko Moon Young).

#psycho but it's okay from only kim hanbin
Fonte: encurtador.com.br/kmqPR

REFERÊNCIAS

BROOKS, S. K., et al. The psychological impact of quarantine and how to reduce it: rapid review of the evidence. The Lancet, v. 395, n. 10227, p. 912-920, March 2020.

CENTRO DE ESTUDOS E PESQUISAS EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES EM SAÚDE; FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ. Saúde mental e Atenção Psicossocial na Pandemia COVID-19: Recomendações gerais. Brasília, 2020 a.

ORNELL, F. et al. “Pandemic fear” and COVID-19: mental health burden and strategies. Braz. J. Psychiatry, São Paulo, 2020. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-44462020005008201&lng=en&nrm=iso>.

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My Shy Boss: chefes também podem ser introvertidos?

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“Por que você observa secretamente as pessoas por trás? Por que nunca está na frente delas? É porque você não consegue? Achei que você desprezasse as pessoas. Será que talvez você… tenha medo delas?” (Chae Ro Woon).

Não é de hoje que as pessoas introvertidas sofrem por não poderem ou não conseguirem expressar seus sentimentos ou pensamentos, mas o que seria uma pessoa com essas características? São pessoas que se comportam de maneira mais restrita, não se manifestam tanto quanto outras, geralmente são mais calmas, quietas e não gostam de falar sobre seus sentimentos. Também gostam de fazer auto análises, dando ênfase a seus sentimentos e pensamentos diante de situações vividas, mas muitas vezes preferem não manifestar o que se passa na sua cabeça.

Até certo ponto isso pode não ser nenhum problema, mas quando tais comportamentos e pensamentos começam a trazer conflitos para as pessoas, pode-se dizer que elas podem desenvolver o transtorno de ansiedade chamado de fobia social. No DSM-IV-TR (APA, 2002), é expressado que a fobia social se caracteriza por um medo acentuado e persistente de uma ou mais situações sociais ou de desempenho. As pessoas com sintomas de fobia social podem ter receio de agir e que isso possa trazer humilhação, constrangimento ou sentimentos de frustração, e a exposição a um contexto social aversivo pode provocar respostas ansiogênicas intensas, sendo capaz de gerar um ataque de pânico. Assim indivíduos com tais características evitam estas situações ou as suportam com intenso sofrimento.

Para D’El Rey e Pacini (2006), a fobia social se expressa de modo significativa interferindo nas rotinas de trabalho, acadêmicas e sociais e/ou sofrimento acentuado por ter a fobia. O medo social na grande maioria das vezes está associado às situações de desempenho, como falar em público, as interações sociais do dia-a-dia, como ir a uma festa, uma entrevista de emprego, etc (FURMARK, ET AL., 2000; STEIN, TORGRUD, WALKER, 2000). As pessoas diagnosticadas como fóbicas sociais apresentam uma hipersensibilidade a críticas, mantêm uma avaliação negativa a respeito de si mesma, sentimentos de inferioridade, e apresentam grande dificuldade em serem assertivas (LAMBERG, 1998; STOPA, CLARK, 1993).

Fonte: encurtador.com.br/kBST1

O Dorama Coreano “My Shy Boss” retrata a história de Eun Hwan Gi, o CEO de uma grande empresa de relações públicas na Coreia do Sul. Ele é um rapaz muito inteligente, consegue ter boas ideias em seu ramo, porém ele não consegue falar em público, todas suas propostas são executadas por seu melhor amigo, que também cuida das comunicações com imprensa e com todos os funcionários. Assim, Eun Hwan fica apenas nos bastidores, observando tudo o que acontece nas sombras. Ao contrário de nosso chefe tímido, temos a personagem Chae Ro Woon, uma mulher muito extrovertida, animada e bastante comunicativa, seu sonho é ser uma grande atriz, mas um evento desencadeado na empresa de Eun Hwan faz com que ela mude seus planos e comece a trabalhar lá.

Os dois não se conhecem pessoalmente, mas ambos têm uma conexão como um fato traumatizante, Eun Hwan se aproxima primeiro de Chae Ro por culpa e acompanha seus passos mesmo distante, ele tenta falar com ela em diversas ocasiões, mas sua timidez e seu medo lhe coíbem. Já ela tenta se aproximar para desvendar a identidade de um suposto chefe que maltrata os funcionários, no entanto eis um desafio: Como se aproximar de alguém pouco acessível, que foge de tudo e de todos?

Aos poucos todos na empresa começam a conhecer o chefe tímido, é proposto pelo presidente dela que uma nova equipe seja montada a “Silent Monster” (uma referência a forma como os funcionários chamavam o chefe) e que o CEO enfim possa enfrentar seus medos. Ao se deparar com os desafios de fazer esse novo grupo dar certo, Eun Hwan enfrenta seus medo e traumas do passado, começa a deixar seus funcionários se aproximarem dele, além de deixar que seus pensamentos e sentimentos sejam expressados para o mundo exterior.

Fonte: encurtador.com.br/mtDU9

Modelos mais antigos de explicação da fobia social se focalizaram no condicionamento clássico e postularam que uma experiência traumática, como um embaraço momentâneo em uma situação social, poderia ser responsável pelo início da fobia (ÖST, HUGDAHL, 1981). No drama é visto que o personagem principal sempre era inibido por seu pai, que esperava mais de seu herdeiro e em um episódio na faculdade quando ele queria se declarar para uma garota, ela levou uma grande plateia, para ele aquilo era para “humilha-lo e rejeita-lo”, o que o levou a fugir de situações sociais que exigissem demonstração de afeto.

O preconceito acerca das pessoas é algo ainda a ser enfrentado, especulações, falatórios magoam e impedem com que os indivíduos se abram para o mundo, que eles possam se expressar de modo genuíno e sem julgamentos. Nesse dorama é possível perceber o desenvolvimento dos personagens, eles aos poucos começam a ressignificar questões passadas, que antes não havia entendimentos. Chae Ro como todos na obra tinha uma visão deturpada de seu chefe, chegando a pensar que uma pessoa assim não deveria liderar e ainda mais se importar com seus funcionários e com a empresa.

No fim, eles se permitem conhecer um ao outro sem preconceito, os dois se aproximam e desvendam a verdade sobre o passado. Um drama divertido, com comédia, romance, fofo, muito fofo e que trata questões complicadas como suicídio e depressão. Do qual os personagens são convidados a repensarem suas vidas, a forma como tem lidado com ela e se abrindo a novas oportunidades de relacionamentos com os outros e com eles mesmos.

FICHA TÉCNICA

Fonte: encurtador.com.br/pAU58

Título original: My shy boss
Direção: Song Hyun Wook
Duração: 960 minutos, 16 episódios
Classificação: 16 anos
Ano: 2017
País: Coreia do Sul
Gênero: Comédia, Drama, Romance
Onde assistir: Netflix

Referências

APA. DSM-IV-TR: manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. , 4ª ed. rev .Porto Alegre: Artmed. 2002.

D’ EL REY, G. J. F; PACINI, C. A. Terapia cognitivo-comportamental da fobia social: modelos e técnicas. Psicol. estud. vol.11 no.2 Maringá May/Aug. 2006.

FURMARK, T. et al. Social phobia subtypes in the general population revealed by cluster analysis. Psychological Medicine, 30(6), 1335-1344. 2000.

LAMBERG, L. Social phobia: Not just another name for shyness. Journal of American Medical Academy, 280(8), 685-686. 1998.

ÖST, L. G.; HUGDAHL, K. Acquisition of phobias and anxiety responses patterns in clinical patients. Behaviour Research and Therapy, 16(3), 439-447. 1981.

STEIN, M. B.; TORGRUD, L. J.; WALKER, J. R. Social phobia symptoms, subtypes and severity. Archives of General Psychiatry, 57(9), 1046-1052. 2000.

STOPA, L.; CLARK, D. M. Cognitive process in social phobia. Behaviour Research and Therapy, 31(2), 255-267. 1993

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Dorama “O que houve com a secretária Kim?” é um gênero doce e que fala de coisas sérias

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Todos os momentos foram você. Quando eu amei, e quando senti dor. Até mesmo em nossas despedidas, você era o mundo inteiro para mim. Sem você… Eu não acho que possa explicar toda a minha vida até agora.
Lee Young-joon

Não é raro nos dias de hoje as pessoas ainda se derreterem por um belo romance, daqueles que nos fazem sorrir, chorar, amar aqueles personagens fofos e lindos, odiar aqueles personagens malvados e se frustrar bastante com uma shippagem errada. Assim são as famosas novelas asiáticas mais conhecidas como J- Dramas (Japones); K-Drama (Coerano); TW- Drama (Taiwan), de modo geral são os Doramas. Mais nem só de romance é falado nos Doramas. Eles falam sobre a luta dos personagens para lidar com as vidas duras (na Ásia nem tudo são flores), ainda mais na Coreia do Sul, que para sobreviver em muitos casos deve-se ter muitos empregos de meio período, estudar muitas horas para poder entrar em uma universidade e ainda tentar um emprego estável. Também retratam a importância de valorizar sua cultura, vista nas comidas típicas (quem não gosta de um miojo), nos ritos fúnebres e no reconhecimento de suas famílias (na Coreia as pessoas levam primeiro o sobrenome, para mostrar a importância de suas famílias). E no mais mostram a realidade do país, como a busca pela beleza (a Coreia tem um dos maiores índices de cirurgias plásticas do mundo). Quem não conhece o grande sucesso de Bandas Sul coreanas como o BTS e BLACKPINK, sendo fruto desse grande rigor de perfeição na Ásia e no mundo todo.

Além disso, os Doramas retratam mesmo de forma leve temas sérios como traumas e transtornos mentais. Eles mostram que nem tudo consegue ser perfeito, todos podem passar por traumas e desenvolver vidas complexas, mesmo quem tem muito dinheiro ou pessoas próximas. Isso é uma das coisas que se passa no Dorama “O que houve com a secretária Kim?”.

A estória se inicia de forma glamurosa em uma festa, onde se encontra a elite da Coreia, lá é visto um ser peculiar, Lee Yeong Joon, um CEO de uma grande empresa. Apesar de toda a perfeição retratada no personagem, ele possui muitos segredos e medos dos quais prefere não falar, como por exemplo não aceita ser tocado por outras mulheres que não seja sua secretária Kim Mi So. Yeong Joon é ainda um homem narcisista, que se preocupa muito com sua aparência e com sua empresa, é ainda uma pessoa que não gosta muito de relações sociais, diferente de Mi So sendo uma secretária bastante qualificada, amada por todos na empresa e por sua família, que depois de nove anos trabalhando para ele decide pedir demissão. É aí que a história começa a se desenrolar; vendo que irá perder sua secretária fiel Yeong Joon decide sair de sua zona de conforto e fazer de tudo para não perder sua companheira.

No decorrer dos episódios é possível perceber que a estória dos dois personagens não aconteceu por acaso. Quando crianças ambos passaram por eventos traumáticos que mudariam suas vidas. Kim Mi So, desenvolve fobia de aranha e seu chefe de ser amarrado. Ambos se encontravam em uma situação estressante e antigênica, causando medo. O medo é uma resposta adaptativa do organismo, que se manifesta em situações ameaçadoras. Porém, quando o medo se torna mais intenso do que a situação justificaria, ou começa a ocorrer em situações impróprias, caracteriza-se um transtorno de ansiedade (MARKS, 1987; ÖHMAN, 1993). Neste caso os dois desenvolveram transtornos de ansiedade especifico, sendo desenvolvido diante de situações adversas, do qual o medo é expressado pela presença de estímulos aversivos (situação fóbica). A fobia é ainda definida como um medo persistente, desproporcional e irracional de um estímulo que não oferece perigo real ao indivíduo (OMS, 1993). Envolvendo ansiedade antecipatória, medo dos sintomas físicos e esquiva e fuga (ARAUJO, 2011). Quando o medo excessivo apresenta estímulo definido, denomina-se fobia específica (LOTUFO NETO, 2011).

Na personagem Mi So houve o transtorno de ansiedade chamado de aracnofobia, considerada uma das mais comuns fobias específicas.

Os sintomas da aracnofobia são similares aos das outras fobias de animais. Por exemplo, sujeitos aracnofóbicos se esquivam de locais onde sabem que habitam aranhas ou onde já observaram aranhas e mostram comportamento de fuga e reações de ansiedade quando se deparam com aranhas (GRANADO, PELÁEZ, GARCIA-MIJARES, p. 126, 2005).

Já a fobia de Lee Yeong Joon é desenvolvida por ter sido amarrado contra sua vontade e de experimentar um medo diante da situação. Não tendo recebido tratamento adequado na época, por querer proteger sua família e fugir de sua realidade, prefere evitar qualquer estímulo que o lembre da situação aversiva. Magee. et al (1996), afirma que os pacientes que não procuram atendimento médico psiquiátrico em função desse tipo de fobia, podem apresentar comorbidades ou outros transtornos. Isso se deve ao fato de a fobia, geralmente, estar associada a um sofrimento mais leve ou a uma menor interferência no funcionamento pessoal do que os demais diagnósticos (TERRA, GARCEZ, NOLL, 2007). Por isso o personagem evidencia uma personalidade narcisista, a fim de evitar expor sua condição “vulnerável”.

O tratamento para este tipo de transtorno é feito atrás de terapia nas abordagens comportamentais e em caso de agravo é necessário também auxílio de medicação. Mas tudo ainda dependerá do nível da intensidade e da predominância do medo. No que tange a terapia pode haver estratégias como dessensibilizarão sistemática.  A dessensibilização sistemática, baseada na extinção, no contracondicionamento e na habituação visa eliminar os comportamentos de medo e evitação com emissão de respostas assertivas (TURNER, 2002). Nela, o cliente é levado à exposição gradativa ao objeto fóbico, precedida pelo relaxamento (VERA, VILA, 2002). Wright, Basco e Thase (2008) destacam que, para promover respostas contrárias à ansiedade, inicialmente é necessário aprender as técnicas de relaxamento e a respiração diafragmática. Também pode haver reestruturação cognitiva das crenças e pensamentos que levam ao medo, substituindo-as por cognições mais realistas e assertivas e psicoeducação, que para Knapp (2004), ensina o cliente sobre a terapia, seus pressupostos e sobre o transtorno.

O que então faz com que esses dois possam superar tais complicações em suas vidas? Parece até clichê, mas é algo a ser valorizado, ainda mais porque ambos se encontravam em grande sofrimento por não poderem viver suas vidas como gostariam. A secretária Kim sempre quis conhecer o garoto que lhe salvou a vida na infância, e Yeong Joo só queria poder passar por cima de tudo e estar perto de sua amada. Ambos tiveram as vidas marcadas por situações adversas, mas apenas o bom e velho clichê do Amor é que fez tudo fazer sentido.

FICHA TÉCNICA:

O QUE HOUVE COM A SECRETÁRIA KIM?

Direção: Park Joon-Hwa
Elenco: Park Min Young; Park Seo Joon;
Ano: 2018
País: Coreia do Sul
Gênero: Comédia, Romance, Drama

REFERÊNCIAS:

GRANADO, L. C. PELÁEZ, F. J. R. GARCIA-MIJARES, M. Estudo no contexto brasileiro de três questionários para avaliar aracnofobia. Aval. psicol. v.4 n.2 Porto Alegre nov. 2005.

KNAPP, P. (2004). Principais técnicas. In P. Knapp (Org.), Terapia cognitivo-comportamental na prática clínica (pp. 133-158). Porto Alegre. Artmed.

LOTUFO NETO, F. Fobias específicas. In B. Rangé (Org.), Psicoterapias cognitivo-comportamentais: Um diálogo com a psiquiatria (pp. 19-310). Porto Alegre: Artmed. 2011.

MAGEE, W.J. et al. Agoraphobia, simple phobia, and social phobia in the National Comorbidity SurveyArch Gen Psychiatry 53(2): 159-168, 1996.

MARKS, I. Fear, Phobias And Rituals: Panic, Anxiety And Their Disorders. New York: Oxford University Press, 1987.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE – OMS. Classificação de transtornos mentais e de comportamento da CID-10: Descrições clinicas e diretrizes diagnósticas. Porto Alegre: Artmed. 1993.

ÖHMAN, A. & SOARES, J. F. On the automatic nature of phobic fear: conditioned electrodermal responses to masked fear-relevant stimuli. Journal of Abnormal Psychology, 102 (1), 121-132. 1993.

TERRA, M. B.; GARCEZ, J. P.; NOLL, B. Fobia específica: um estudo transversal com 103 pacientes tratados em ambulatório. Rev. psiquiatr. clín. vol.34 no.2 São Paulo 2007.

TURNER, R. M. A. Dessensibilização sistemática. In V. E. Caballo (Org.), Manual de técnicas de terapia e modificação do comportamento (pp. 167-195). São Paulo: Santos. 2002

VERA, M. N.; VILA, J. Técnicas de relaxamento. In V. E. Caballo (Org.), Manual de técnicas de terapia e modificação do comportamento (pp. 197-223). São Paulo: Santos.   2002

WRIGHT, J. H., BASCO, M. B., & THASE, M. E. Aprendendo a terapia cognitivo-comportamental: Um guia ilustrado. Porto Alegre: Artmed. 2008.

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Koi no Katachi: a voz do silêncio

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“Naquela época, se pudéssemos ter ouvido as vozes um do outro, tudo teria sido muito melhor”. (Shouya Ishida)

O bullying nas escolas é um fenômeno bastante antigo e conhecido; para muitos autores são brincadeiras de mau gosto, num cenário em que os alunos são motivados pelo preconceito, por atenção, e pelo poder sobre o mais fraco. Tudo isso são motivos que os “bullys” utilizam para agredir, intimidar e perseguir de modo repetido seus colegas, também utilizam de agressões verbais, físicas e psicológicas para subjugar as vítimas consideradas por eles “diferentes”.

Para Silva e Borges (2018), o bullying envolve ainda atitudes hostis, intimidadoras sem nenhum motivo aparente, na maioria dos casos em relações de desigualdade entre agressores e vítimas, marcada pelo uso da força física, também na maioria dos casos, em que se estabelece uma relação de poder. No Brasil tem sido estudado a partir de 2005, quando os casos de agressões nas escolas se intensificaram de modo mais aparente. Embora os estudos sobre o bullying escolar no Brasil sejam recentes, o fenômeno é antigo e preocupante, sobretudo em função de seus efeitos nocivos (LOPES, 2005; TREVISOL & DRESCH, 2011). Um exemplo desses efeitos desastrosos do bullying nas escolas foi o atentado de 1999 na escola de Columbine nos Estados Unidos, que ganhou grande repercussão mundial, pois dois jovens abriram fogo contra os colegas de escola. Depois de doze anos foi a vez do Brasil em 2011 presenciar o massacre de Realengo, na Escola Municipal Tasso da Silveira, quando um ex-aluno abriu fogo contra os alunos da escola e matou doze deles. Em 2019 outro grande massacre, agora em Suzano, chocou o Brasil, onde dois jovens mataram cinco estudantes e duas funcionárias da escola. O que todos esses fatos têm em comum? Todos esses jovens sofreram bullying nas escolas e isso pode ter sido um dos maiores fatores que os levaram ao ato, além disso todos se suicidaram em seguida.

Fonte: encurtador.com.br/aipMW

Segundo Oliveira e Antonio (2006), nota-se que o bullying se origina a partir de intimidações discriminatórias e prática frequente de violência no cotidiano escolar, versando sobre exclusão social intimidadora, opressora que machuca sem ter sido declarada de fato.

O bullying causa sérias consequências as vítimas e as famílias, como por exemplo: depressão, baixo autoestima, angústia, isolamento, evasão escolar, autodeflagração, muitas apresentam comportamento agressivo, déficit de concentração, prejuízos no processo socioeducativo e nos casos mais extremos o suicídio (SILVA, BORGES, p. 31, 2018).

Observa-se que a maioria das vítimas de bullying pode ter sentimentos de raiva e vingança, podendo atingir pessoas próximas ou estranhas da mesma forma que foram afetadas. Mas nem todos fazem isso, há pessoas que sofrem sozinhos calados, e suas vozes podem nunca ser ouvidas.

Fonte: encurtador.com.br/glm09

Esse tipo de história é retratado no filme Koe no Katachi, do qual Nishimya Shoto é uma garota com deficiência auditiva. Ela se muda ainda no ensino fundamental para uma escola nova; além dela ter que se adaptar ao novo ambiente seus colegas se deparam com algo diferente, pois Shoto não consegue se comunicar com eles a não ser pela linguagem de sinais. A escola passa então a oferecer a disciplina para que os colegas possam interagir melhor com a nova colega, mas alguns alunos se incomodam com ela e começam a tratá-la mal. Dessa forma, a menina passa a ser alvo de bullying e o principal responsável por isso é o aluno Ishida Shoya, ele é típico aluno que gosta de pregar peças nos colegas, mas com a aluna nova é ainda mais cruel, passa a infernizar a vida da menina jogando seus materiais escolares em uma fonte, coloca frases maldosas no quadro da sala e fala mal dela junto com os amigos. Vendo que suas atitudes não afastam a menina do ambiente escolar, ele passa a jogar fora seus equipamentos auditivos.

Percebendo a dificuldade da filha com a escola, a mãe de Shoto vai ao estabelecimento saber o que está acontecendo; o diretor investiga e descobre que Shoya e seus amigos maltratam Shoto por ela ser diferente deles. O rapaz não aceita ser punido sozinho e acaba delatando seus companheiros, depois disso Shoya passa a receber o mesmo tipo de tratamento dado a Shoto, passando pelas mesmas situações que a colega.

Fonte: encurtador.com.br/eqH08

Anos depois os dois se mudam de escola e passam a viver de modo diferente, mas uma coisa que nunca mudou foi que Shoya passou ser um aluno letárgico, não possuía mais amigos, se culpava pelo o que tinha feito com Shoto e tinha sintomas depressivos que lhe levavam a ideação suicida. Já Shoto não guardava rancor do colega, tudo que queria era ser amiga dele e de alguma forma queria ser ouvida. Eles se passam a ser bons amigos, a aprender juntos as formas de curar as feridas passadas e tornam-se responsáveis pelos sentimentos um do outro.

Mesmo o bullying sendo um fenômeno ruim e perigoso para quem sofre, ele pode ser enfrentado de inúmeras maneiras e uma delas é o combate dele pela escola, pela família e sociedade. Muitas crianças sofrem caladas por medo de serem ainda mais punidas e no caso da personagem do anime por não poder falar tudo o que queria. Não legitimar qualquer tipo de violência contra o ser humano é algo a ser valorizado, mesmo se tratando de “brincadeiras” não deixa de ser algo com finalidade maldosa de atingir a pessoa. Dessa forma, não existe motivos que justifiquem a prática do bullying, pois as pessoas merecem ser tratadas com dignidade e suas vozes não devem estar preenchidas pelo silêncio.

REFERÊNCIAS

LOPES, A. A., NETO. Bullying – comportamento agressivo entre estudantesJornal de Pediatria81(5), 164-172. 2005.

SILVA, L. O.; BORGES, B. S. BULLYING NAS ESCOLAS. Direito & Realidade, v.6, n.5, p.27-40/2018.

OLIVEIRA, A. S.; ANTONIO, P. S. Sentimentos do adolescente relacionados ao fenômeno bullying: possibilidades para a assistência da enfermagem nesse contexto. Revista eletrônica de enfermagem, v.08, n.01, p.30-41. 2006.

TREVISOL, M. T., & DRESCH, D. (2011). Escola e bullying: a compreensão dos educadores. Revista Múltiplas Leituras4(2), 41-55.

FICHA TÉCNICA

Título: Koi no Katachi (Original)

Ano produção: 2016

Direção: Naoko Yamada

Gênero: Anime, Drama, Romance

País de Origem: Japão

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Spin Out: a beleza de um esporte e o estigma de um transtorno mental

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Patinar é como respirar. Nem imagino não patinar. E, se eu paro, sinto que estou me afogando.
(Kat Baker)

Ser um atleta profissional exige muitos sacrifícios. Uma rotina diária de treinos intensos, motivação e espírito esportivo é só algumas das exigências para se alcançar a glória no esporte. Sem levar em conta cada perda ou sofrimento suportado pelo atleta, os telespectadores como os próprios atletas não exigem menos que a medalha de ouro, além do mais é preciso que o espetáculo valha cada tempo gasto assistindo a performance e a perfeição de cada movimento marcam esportes como a patinação artística no gelo.

Spinning Out é uma série que trata deste tema de modo espetacular, além de mostrar a luta árdua de jovens atletas para se consolidar na patinação no gelo, ela fala sobre a saúde mental do desportista. Se tratando de um esporte que exige grandes habilidades artísticas, beleza e perfeição em cada movimento é o que chama atenção nesse jogo e um transtorno mental pode ser considerado a “imperfeição” que o competidor não quer trazer à tona.

 A série conta a história de Kat Baker, uma patinadora artística de alto nível que pensa em abandonar a carreira, após um evento traumatizante. Kat passa a temer patinar como antes, evita efetuar manobras arriscadas como saltos triplos; além de ter tido sequelas físicas ela também passa a ter grande sofrimento mental, como episódios de automutilação e flash backs do acontecido.

Não conseguindo superar seus medos, Kat recebe uma nova oportunidade de fazer o que mais ama, na patinação. É então convidada para ser parceira de um talentoso patinador. Com o tempo a protagonista passa a ter mais confiança em si mesma e a entender seus problemas, porém isso faz com que seus segredos venham à tona e ela acaba expondo que possui o Transtorno Afetivo Bipolar.

O Transtorno Afetivo Bipolar (TAB) é um transtorno de humor, considerado crônico, caracterizado por episódios agudos e recorrentes de alteração patológica de humor, podendo persistir por semanas ou meses, fazendo assim com que os pacientes não possam prever seu próprio estado emocional, já que a pessoa pode passar de um estado depressivo de extrema apatia para um estado de mania com extrema exaltação, daí o transtorno ser denominado de bipolar (BIN, et al, 2014, p. 143).

Na série é visto claramente os episódios da patinadora, especialmente quando para de tomar a medicação. Contudo, Kat sofre não apenas pelo estigma de ter uma doença mental em um meio preconceituoso; sua relação com a mãe é péssima e um dos motivos disso acontecer é porque a mãe tem o mesmo transtorno e teve que abandonar sua carreira quando jovem. Isso pode ser explicado por razões genéticas, cujos fatores epigenéticos exprimem que as mulheres têm mais tendência a desenvolver o transtorno do que os homens, um dos elementos que comprovam essa teoria é o Imprinting.

Imprinting refere-se a um padrão de herança não-Mendeliana em que a transmissão do fenótipo depende da origem parental do alelo associado à doença (MICHELON, VALLADA, 2004). Observa-se que pacientes bipolares possuem com maior frequência mães afetadas do que pais afetados e mais ancestrais maternos afetados que ancestrais paternos (WINOKUR, REICH, 1970). A série explora a relação conturbada de mãe e filha, com os altos e baixos de ser viver com um transtorno mental.

Em paralelo com a trama da série é possível perceber que há muitos esportes, cuja exigência é mais do que as habilidades dos atletas, como perfeição dentro e fora do ambiente competitivo. Fazendo com que os indivíduos sofram tentando esconder suas dificuldades, a fim de mostrar apenas o que a sociedade considera agradável. Na série a personagem principal tenta esconder sua condição por medo de ser julgada incapaz de atuar dentro do esporte, fazendo com que não desfrute de modo pleno todo o seu potencial e não se sinta bem consigo mesma.

Para Mazzaia & Souza (2017), o bem-estar das pessoas que tem esse transtorno pode ser prejudicado devido às próprias características da doença, porque, nas fases de mania e hipomania, os sintomas de felicidade e confiança, estão disfarçados pela sensação de poder e capacidade que proporcionam. O que é perceptível quando a personagem decide parar o uso do remédio para patinar melhor e se deixa levar pelos sinais de seu problema mental.

Outro ponto abordado na série é a pressão da família, o abuso e a exposição do atleta para não perder e nem abandonar as competições. Isto é visto na melhor amiga de Kat, a patinadora Jenn Yu, cuja lesão no quadril lhe faz levar seu corpo e mente ao limite da dor, tentando muitas vezes anestesiar com fármacos, na tentativa de não se submeter ao fracasso diante de toda a família.

Além da intolerância em relação a saúde mental, a série mostrar outras formas que o esporte erra ao submeter o atleta ao estado de excelência. A treinadora da dupla e campeã olímpica Dasha Fedorova treinava em uma época que pessoas do mesmo sexo em hipótese alguma poderiam se relacionar. Tal afronta poderia leva-la a abusos ainda maiores e por medo teve que esconder seus sentimentos. Já Marcus, é um jovem rapaz negro que gosta do esqui no gelo, esporte predominantemente executado por brancos e dessa forma tem problemas por causa de sua cor. Por fim, temos Justin o parceiro de Kat, cujo desempenho é associado apenas ao grande investimento do pai em sua carreira, não acreditando em si mesmo, acaba deixando de apoiar Kat no seu momento mais difícil, estando sofrendo por não saber lidar com a dificuldade de sua companheira.

FICHA TÉCNICA:

SPIN OUT

Título original: Spinning Out
Direção: Elizabeth Allen Rosenbaum, Jon Amiel, Matt Hastings;
Elenco Kaya Scodelario, Evan Roderick, January Jones, Amanda Zhou;
País: EUA
Ano: 2020
Gênero: Drama.

REFERÊNCIAS: 

BIN, et al. (2014). Significados dos episódios maníacos para pacientes com transtorno bipolar em remissão: Um estudo qualitativoJornal Brasileiro de Psiquiatria, 63(2), 142-148. doi: 10.1590/0047-2085000000018.

MAZZAIA, M. C.; SOUZA, M. A. Adesão ao tratamento no Transtorno Afetivo Bipolar: percepção do usuário e do profissional de saúde. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Porto, n. 17, p. 34-42, jun.  2017.

MICHELON, L.; VALLADA. H. Genética do transtorno bipolar. Rev. Bras. Psiquiatr. Vol.26 suppl.3 São Paulo Oct. 2004.

WINOKUR, G.; REICH, T. Two genetic factors in manic-depressive disease. Compr Psychiatry. 1970;11(2):93-9.

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Uma segunda chance para amar: uma canção de natal

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“Seja boa consigo mesma pois ninguém mais tem o poder de te fazer feliz” – George Michael

O Natal está chegando e com ele diversos filmes com temas natalinos despertam em nós uma chama de amor, bondade e sentimentos de mudança. Além dos tradicionais Movies de Natal outro elemento faz com que as pessoas despertem emoções que podem proporcionar uma atmosfera de felicidade verdadeira nas pessoas são as Músicas natalinas. Se misturar as duas coisas em uma só temos então um turbilhão de sensações, e esta é a proposta de Uma segunda chance para amar, uma comédia romântica inspirada nas músicas de George Michael, fazendo com que uma bela canção de amor valha a pena ser contada mais de uma vez.

O filme conta a história de Kate (Katarina) um ano após se recuperar de um trauma, ela vive em meio a sua autodestruição, afastada da família, amigos, cria problema no trabalho e não espera um milagre de natal. Trabalhando ainda em uma loja de produtos natalinos, Kate se frustra por não realizar seus sonhos e sente que depois do último natal nunca mais será a mesma. Eis que um rapaz surge em cena, não de modo convencional. Tom conhece Kate fora da loja e começa a questioná-la sobre seus desejos e perspectivas. A mesma não se apaixona de cara pelo Dom Juan, mas fica intrigada com suas concepções.

Tom é um londrino que vive a vida dia após dia, sem criar muitas expectativas, porém ele vive de tal forma que faz com que Kate se sinta bem, livre de preconceitos, ele apenas aceita ela como é, permitindo que sejam livres para viver intensamente seus sonhos. No entanto ele esconde um mistério, isso causará maior autonomia e autodeterminação em Kate, para que ela possa se libertar de seus medos e dúvidas que antes lhe causava dor e sofrimento.

Fonte: encurtador.com.br/aGHST

Além de um romance presente no filme, as músicas de George Michael cativam o público pela autenticidade de contar histórias parecidas com a vida real. A música utilizada como enredo para o filme Last Christimas em parceria com Wham!,   dita como a história seria no início da trama. Porém, a música que demonstra o crescimento e auto superação da protagonista é Heal the Pain, cuja amabilidade de outras pessoas podem criar condições adequadas para crescimento e mudança, embora o principal ingrediente para se alcançar o autodescobrimento é “Seja boa consigo mesma pois ninguém mais tem o poder de te fazer feliz”.

Outro tema tratado com igual relevância no filme diz respeito a xenofobia. No filme mostra que a família de Kate fugiu de sua terra natal, Iugoslávia, seus pais tentam se adaptar com as mudanças, contudo tiveram que fazer sacrifícios para cuidar das duas filhas. Uma outra questão mal resolvida na família é a sexualidade de sua irmã, que esconde de sua família sua orientação sexual, traçando um paralelo entre a aceitação homoafetiva do cantor diante de sua família.

Por fim temos a questão de caridade abordada na maioria dos filmes natalinos. Esse não é diferente, Kate muda depois que fica doente no último Natal, passando a ser uma pessoa bastante egoísta e indiferente com as questões alheias. Na sua jornada em busca de uma segunda chance a protagonista reflete sobre diversas questões inusitadas e uma delas é contribuir para que outras pessoas também tenham felicidade. Ela repara seus erros mais comuns e usa seu dom para ajudar as pessoas do abrigo e no fim junta todos da trama em um momento genuíno de altruísmo natalino.

Imagem relacionada

Título – Uma segunda chance para amar/ Last Christmas (Original)

Ano produção – 2019

Dirigido por Paul Feig

Duração – 1h43min

Elenco – Emilia Clarke, Henry Golding, Emma Thompson

Gênero – Comédia / Romance

País de Origem – Reino Unido/ EUA

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Tokyo Ghoul: a complexidade de ter múltiplas identidades

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É melhor machucar a si mesmo do que machucar os outros. Pessoas gentis podem ser felizes assim.
Ken Kaneki

O transtorno dissociativo de identidade é visto até hoje como um grande desafio para a Psicologia e Psiquiatria. Segundo Faria (2008), o transtorno de personalidade múltipla como era visto antigamente é um transtorno mental de difícil diagnóstico devido à sintomatologia diversificada e à sua forte comorbidade. Nos dias de hoje é conhecida como transtorno dissociativo de identidade, porém só ficou sendo considerado como transtorno mental, quando a Associação Americana de Psiquiatria (APA) conseguiu diagnosticar em meados de 1980. No âmago das características da síndrome, que não é um artefato iatrogênico e cuja característica essencial é a existência dentro do indivíduo de duas ou mais personalidades distintas, cada qual dominante num momento específico, encontram-se as chamadas personalidades alternativas, múltiplas ou alters (Hacking, 1995).

Outros autores fomentam que o que origina o transtorno são traumas vividos pelos indivíduos, sendo estes na infância, adolescência ou idade adulta, podendo ser físicos, psíquicos e emocionais. Ao passar por tais perturbações o sujeito pode desenvolver outra personalidade além da sua “primária”, com objetivo de defender-se do sofrimento vivido, pois esse transtorno se relaciona com processo mental dissociativo, incumbido de defender a mente, seja pela descompensação mental, cognitiva e física, seja  pela desconexão que o sujeito faz  com sua personalidade vivida naquele momento.

Para Freud (1923/1996) “(…) talvez o segredo dos casos daquilo que é descrito como ‘personalidade múltipla’ seja que as diferentes identificações se apoderam sucessivamente da consciência.” (pp. 43). Ele em conjunto com Joseph Breuer, apresentou informações que estão em consonância com os critérios diagnósticos atuais da Personalidade Múltipla:

(…) Num mesmo indivíduo são possíveis vários agrupamentos mentais que podem ficar mais ou menos independentes entre si, sem que um ‘nada saiba’ do outro, e que podem se alternar entre si em sua emersão à consciência. Casos destes, também ocasionalmente, aparecem de forma espontânea, sendo então descritos como exemplos de ‘double consciente’ (Freud, 1910 [1909]/1996, p.35).

Esse transtorno de tão complexo que é, vem sendo descrito além da literatura em outros meios de comunicação como em documentários na BBC, Discovery Home & Healph, filmes como em “Clube da luta” e o mais atual “Fragmentado” e em animes no caso de “Tokyo Ghoul”.

Tokyo Ghoul é um anime de origem japonês que se passa na cidade Tóquio, em um mundo parecido com os de hoje. Todavia, existem outros seres que habitam a grande metrópole, indivíduos quase idênticos as outras pessoas, a única diferença é que eles sobrevivem se alimentando dos seres humanos. Daí o título da animação, um lugar em que coexistem pessoas normais e outros seres considerados por muitos como “monstros”.

É certo que humanos e os ghoul vivem em guerra, uma batalha sombria que muitos preferem ignorar, os únicos humanos que enfrentam esses seres são da organização Comissão e Contra Medidas Ghoul (CCG) ou mais conhecidas pelos ghouls como “Pombas”, eles lutam contra os ghouls desde sempre e tudo começa a mudar quando alguém adentra essa história.

O protagonista da serie é um jovem estudante de literatura chamado de Ken Kaneki. Como os demais cidadãos dessa Tokyo, Kaneki não se importa com o ghouls, tudo muda quando ele conhece a linda e devoradora de livros, como ele, Rize (Atenção, alerta de spoiler). Eles saem para um encontro na cafeteria da Anteiku, quando eles terminam ela comenta que tem muito medo dos ghouls e gostaria que ele lhe levasse em casa. Tudo fazia parte dos planos de Rize, uma ghoul mais conhecida como “Gulosa”, que vivia aterrorizando o Distrito 11. Quando Kaneki percebe o plano dela já era tarde demais; Rize, do modo mais brutal possível, tenta matar ele e por sorte ela é atingida em uma construção. Contudo, Kaneki já estava muito debilitado e precisando de um transplante de órgãos, recebe então os de Rize e acaba se tornando metade ghoul, metade humano.

O transtorno de Kaneki começa quando ele percebe não ser um mero humano, com os órgãos de Rize ele ganha novas habilidades, não obstante também perde o apetite por comidas “normais”, só conseguindo se saciar ao comer carne humana. O dilema dele inicia quando este necessita comer humanos para sobreviver. Kaneki, no entanto, luta contra essa sede considerada por ele como algo abominável e até pura maldade. Embora isso aconteça, ele percebe que pode sim tentar uma vida “normal” sendo metade ghoul, metade humano, comendo somente carne de quem morreu de forma natural (sem ser assinado por ele, no caso).

Mesmo após ter lutado contra seu lado sombrio por ser ghoul, Kaneki tem uma personalidade bondosa, gentil, que sempre coloca os outros em primeiro lugar, ao invés dele. Isso muda quando ele encontra outro ghoul, Jason, que fora torturado em prisão na CCG; utilizando-se da mesma abordagem, Jason machuca das formas mais horríveis possíveis Kaneki, que não aguentando mais tanta dor, sofrimento, desencadeia uma nova personalidade, sombria, com sede de matança.

Kaneki ao todo possui três personalidades, a primeira é a sua principal, o Ken Kaneki, antes de se tornar ghoul, ele já havia sofrido muitos traumas na infância e tendo recalcado esses sentimentos, se tornou uma pessoa solitária, mas com um grande coração. O Kaneki ghoul, após ser torturado por Jason, muda completamente de personalidade, pois além de ser massacrado fisicamente e psiquicamente, ele aceita seu lado macabro ghoul que Rize lhe proporcionou. Virando um sujeito frio, com cabelos brancos, pele mais branca do que o normal, nesse estado ele tenta ainda não ferir as pessoas que gosta, mas acaba matando muitos outros, inclusive ghouls (ele até come os ghouls). Após sofrer novo trauma, a perda de um amigo e ter se entregado para a CCG, Kaneki se torna de novo outra pessoa, agora chamado de Kaise Sasaki, um membro de um grupo especial da CCG que caça e mata ghouls. Nessa nova identidade, Kaneki não se lembra de suas outras personalidades, tão pouco do que viveu no passado, ele se intitula um ser que faz a justiça acabando com os temidos monstros Ghoul.

Do personagem em questão o transtorno dissociativo de identidade é algo profundo, interessante de se ver registrado e abordado de modo diferenciado. Contudo, é importante dizer que cada pessoa passa pelo processo traumático de modo distinto, podendo ou não desenvolver tal transtorno. Em relatos de casos descritos por Santos (2015), durante a internação de um paciente, ao falar de seu passado, ou em consultas mais demoradas, o sujeito apresentava episódios característicos de dissociação, em que mudava bruscamente o tom de voz, a fisionomia do rosto, o modo de falar e respondia como sendo outra pessoa. O tratamento ideal de TDI se dá a partir do trabalho mútuo de psicoterapia e com medicação supervisionada, prescrita por um psiquiatra. O que se espera do tratamento é que a pessoa possa equilibrar as personalidades. Um desafio e tanto para a Psicologia e a Psiquiatria.

FICHA TÉCNICA DO FILME:

Diretor: Shuhei Mota
Elenco: Masataka Kubota, Fumika Shimizu, Nobuyuki Suzuki, Shun’ya Shiraishi; 
Gênero: Suspense; Terror.
País:Japão
Ano: 2014

REFERÊNCIAS:

FARIA, M. A. O Teste de Pfister e o transtorno dissociativo de identidade. Aval. psicol. v.7 n.3 Porto Alegre dez. 2008.

FREUD, S. (1996). O Ego e o ID. Em. J. Strachey (Org. e Trans.), Edição STANDARD Brasileira das Obras Psicológicas Completas. (Vol. XIX). Rio de Janeiro: Imago. (Original publicado em 1923).

FREUD, S. (1996). Cinco Lições de Psicanálise. In. J. Strachey (Ed. e Trans.), Edição STANDARD Brasileira das Obras Psicológicas Completas. (Vol. XI). Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original publicado em 1910[1909]).

HACKING, I. (1995). Múltipla Personalidade e as Ciências da Memória. Rio de Janeiro: José Olympio.

SANTOS, M. P.; GUARIENTI, L. D.; SANTOS, P. P.; DAURA, E. F.; DAL’PIZOL, A. D. Transtorno dissociativo de identidade (múltiplas personalidades): relato e estudo de caso. Revista Debates em Psiquiatria, 2015.

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The Boys: Heróis Ou Vilões?

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“Os heróis são aqueles que tornam magnífica uma vida que já não podem suportar.” – Jean Giraudoux

Imagine heróis fora do comum, não apenas por terem super poderes, salvarem vidas e fazerem do mundo um lugar melhor. Heróis contemporâneos, controlados por uma grande corporação, que pensa nos heróis como algo rentável, cuidam do marketing para eles gerarem filmes, produtos com sua marca e procuram gerenciar toda a vida dos superes, desde sua popularidade com as pessoas, até tentam reparar seus erros na sociedade.

Esses são os heróis retratados na nova série da Amazon Prime Video. The Boys é uma série adaptada dos quadrinhos de Garth Ennis e Darick Robertson, é tida como uma das mais polêmicas e mais criticadas séries de 2019. Mesmo que não seja nem tão violenta e nem tão política quanto os quadrinhos em que é baseada, The Boys ainda assim é uma série que contempla muita tragédia e ao mostrar de forma explícita como heróis podem ser vítimas de violência extrema, ao mesmo tempo em que não se esquivam de discutir questões sociais importantes associadas à cultura de heróis. (FALANGE, 2019).

fonte : https://bit.ly/2KUnFzA

No início a narrativa aparenta ser uma boa e velha adaptação de super heróis, contudo quanto mais se assiste, mais se percebe que os heróis na verdade podem ser os verdadeiros vilões da história. O que não seria nada mal em um mundo com muita violência, corrupção e injustiça, mas o que choca mesmo no enredo é o fato de que as pessoas parecem precisar dessa “esperança” que os heróis pregam e não importa tudo de ruim que façam, desde que no fim salvem o dia e possam postar fotos.

É inegável o fato de que os super hérois viraram moda, e embora eles sejam retratados como figuras grandiosas e repletas de moral, nem sempre suas performances foram dignas de heroísmo. Mas porque eles são tão atrativos nos dias de hoje, mesmo após péssimas adaptações de suas histórias ou quando eles não são retratados como super herois? Isso se deve ao fato deles carregarem a bandeira do bem e se consideram acima do mal.  Porém, seria errado imaginar que todos tenhamos um lado sombrio? Obscuro, que absorva o lado egoísta e primitivo de nossa personalidade? Jung categorizou a sombra como um dos principais arquétipos do inconsciente.

fonte: https://bit.ly/2Mjlskg

Dentro da perspectiva do desenvolvimento simbólico, e através do conceito unificado de sombra, vista na dimensão religiosa como pecado; na jurídica, como crime; na médica, como sintoma; na ciência, como erro; e na dimensão ética, como o mal (BYINGTON, 2006). Segundo Oliveira (2010), aquilo que rompe o papel instituído na coletividade e vivido na subjetividade se configura como o mal, o amoral e a sombra, o que não é aceito pela consciência. Assim, no mundo real ela é reconhecida na violência, na guerra, na exclusão e na criminalidade.

Na mitologia o herói seria o guardião, o defensor, o que nasceu para servir. Já na linguagem contemporânea ele tem o sentido de guerreiro, está ligado à luta e as outras funções como a adivinhação, a fundação de cidades além de introduzir invenções aos homens, como a escrita e a metalurgia. (BRANDÃO, 1987). Para Jung (1975) o herói seria o mais nobre de todos os símbolos da libido, a idealização de um ser física e espiritualmente superior aos homens, que o representaria em sua totalidade arquetípica. Por mais que tenhamos ideia de como é ou deveria ser um herói, para a Psicologia Analítica, somos nós que construirmos o nosso próprio arquétipo de herói com base em nossas vivências pessoais.

Os heróis da série retratam apenas o que pensamos ou fazemos nos dias de hoje, um mundo com pessoas mais ricas e poderosas do que outras e que são protegidas por grandes corporações, que controlam a mídia, o governo e até a justiça. e se preocupam apenas com a imagem que transmitem na frente das câmeras. Para Aristóteles (2007), no fim, quem escolhe e tenta combater um mal que ninguém imagina, são apenas pessoas tidas como “normais”, eles arregaçam as mangas para expor a fraude que são os “heróis” e o resultado não podia ser nada bom.

FICHA TÉCNICA

fonte: https://bit.ly/2YSve3g

Título Original: The Boys

Direção: Dan Trachtenberg, Jennifer Phang, Philip Sgriccia.

Elenco: Erin MoriartyKarl UrbanChace CrawfordAntony Starr.

Gênero:  Ação,Drama, Ficção Científica.

País: EUA

Ano: 2019

 

REFERÊNCIAS:

ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. 2ª edição. Tradução Edson Bini. Bauru, SP: Edipro, 2007.

BRANDÃO, J.S. Mitologia grega. Rio de Janeiro, Petrópolis. Vozes, 1987.

BYINGTON. C. A. B. Psicopatologia Simbólica Junguiana.

FALANGE. [Crítica] The Boys: Que Morram Os Heróis. 2019. Disponível em: https://falange.net/critica-the-boys/. Acesso em: 14 de agosto de 2019.

JUNG, C.G. The practice of psychoterapy. Princenton: Princenton University Press, 1975. 2nd edition.

OLIVEIRA. A. W. SOCIEDADE E SOMBRA: EXPRESSÕES NA CRIMINALIDADE. 2010. Disponível em: http://www.symbolon.com.br/artigos/SOCIEDADE%20E%20SOMBRA-%20ALINE%20WERLE%20DE%20OLIVEIRA.pdf. Acesso em 15 de agosto de 2019

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Take your Pills: a psicofarmacologia do TDAH

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No documentário Take your pills é mostrado que os Estados Unidos são o país que mais diagnosticam jovens com TDAH, em média 11% deles são identificados com transtornos e a maioria faz tratamento por meio de medicação.

De repente você toma algo (medicamento, vitamina, energético), que melhora seu desempenho no trabalho, nos estudos, amplia suas habilidades no esporte e faz com que você seja bom em quase tudo que requer atenção ou foco. Esse é um dos efeitos da Ritalina, do Concerta e da Ritalina LA, medicamentos utilizados no Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).

Sendo conhecidos como psicoestimulantes do Sistema Nervoso Central, e tendo como princípio ativo o Metilfenidado, a Ritalina pertence à família das anfetaminas, da qual são estimulantes mentais, assim são utilizadas para aumentar a concentração, a velocidade mental e a capacidade de execução das tarefas cotidianas.

Um dos processos cognitivos bastante utilizado pelo ser humano é a atenção, que pode ser definida segunda Lima (2005), como a capacidade do indivíduo responder a determinados estímulos que lhes são significativos sem prejudicar os demais. Dessa forma, o Sistema Nervoso é capaz de manter um contato seletivo com informações que chegam através de órgãos sensoriais, dirigindo atenção para aqueles estímulos relevantes e garantindo uma interação eficaz com o meio (BRANDÃO, 1995).

O processo de atenção é imprescindível para que o sujeito possa desenvolver a aprendizagem, bem como se relaciona com outros processos básicos como: inteligência, pensamento, memória, linguagem, sensação e percepção. Cuja função é fazer com que o indivíduo consiga identificar os estímulos dispostos no meio e possa ser capaz de se relacionar bem com ele, selecionando as informações, filtrando o que é pertinente e organizando as informações conforme a necessidade de serem utilizadas.

Fonte: encurtador.com.br/stD09

Logo, o ato de prestar atenção, independente da modalidade sensorial, aumenta a sensibilidade perceptual para discriminação do alvo, além de reduzir a interferência causada por estímulos distratores (PESSOA, et al, 2003).Em relação ao Transtorno de Déficit de Atenção (TDAH), as pessoas apresentam dificuldades em focar no objeto ou estímulo presente no ambiente, pois algumas áreas do cérebro são afetadas e consequentemente elas se comportam de modo distraído.

No documentário Take your pills é mostrado que os Estados Unidos são o país que mais diagnosticam jovens com TDAH, em média 11% deles são identificados com transtornos e a maioria faz tratamento por meio de medicação.

As medicações estimulantes como metilfenidato (MPH), um derivado anfetamínico, constituem-se nos agentes farmacológicos mais utilizados nos transtornos de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) e podem propiciar alívio sintomático importante, com melhora comportamental e melhora de rendimento escolar (DAMIAN, DAMIAN, CASELLA, 2010).

O problema maior expresso no filme é o uso indiscriminado do remédio, pois alguns jovens possuem interesse em ter o transtorno, assim podem fazer uso da medicação e superar suas limitações e não apenas isso, eles acham interessante terem o desempenho melhorado com o uso dela, fazendo com que haja uma disputa, por exemplo, nas universidades. Não apenas para usufruir dos benefícios delas, mas principalmente pelo fato dela poder levá-los ao sucesso.

Outros estimulantes também são mostrados no documentário, como por exemplo a Benzendrina, também composta pela Anfetamina; no começo ela foi testada para ser utilizada como um Decongestionante Nasal, porém sua composição causava sentimentos de euforia, confiança, entre outras características. Depois de anos de estudo os cientistas perceberam o potencial do fármaco para outros problemas, empregando-o na Depressão e Obesidade; também criaram a Dexendrina para cuidar de modo mais profundo dessas enfermidades.

Fonte: encurtador.com.br/pqOS0

Na obra cinematográfica os profissionais falam de como funciona esses estimulantes enunciando que “os estimulantes são drogas que estimulam as pessoas, fazem elas sentirem animadas, despertas, e ficam alegres”. Eles ressaltam que existe dois tipos principais de estimulantes: a Anfetamina e o Metilfenidato, a primeira é o princípio ativo do Adderall e do Vyvanse, o segundo resulta na Ritalina e no Concerta.

Essas classes de estimulantes agem no Sistema Catecolamina do cérebro, apresentando -se em duas partes a Noraepinefrina (também conhecida como Adrenalina) e a Dopamina. Os dois agem liberando a Catecolamina ou bloqueia a recaptação delas, aumentando também a tolerância a dor. Isso faz com que os jovens passem mais tempo realizando coisas que consideram chatas, tomando mais consciência das coisas, selecionando estímulos mais adequados para seu contexto.

É importante ressaltar que o uso de medicamentos para auxiliar em um transtorno é algo válido, desde que a pessoa seja bem informada sobre como utilizar esses remédios, além dos benefícios como aumento da capacidade de concentração e melhoramento da performance em alguns aspectos da vida. É imprescindível que saibam também dos efeitos adversos como, dores de cabeça, taquicardias, insônia, aumento da pressão arterial, crises de ansiedade e até ataques de pânico.

No mais, tais medicamentos podem causar dependência química. Então é preciso orientar os pacientes sobre os efeitos da droga no Sistema Nervoso Central, como isso pode modificar de modo significativo o comportamento do indivíduo e pode também mudar a forma dele se relacionar com o mundo.

FICHA TÉCNICA: 

Take Your Pills

Título original: Take Your Pills
Ano produção: 2018
Direção: Alison Klayman
Gênero Documentário
País: Estados Unido

REFERÊNCIAS

BRANDÃO, M. L. (Org). 1995. Psicofisiologia. São Paulo: Atheneu.

DAMIAN, D. DAMIAN. D.; CASELLA. E. Hiperatividade e déficit de atenção – O tratamento prejudica o crescimento estatural?. Arq Bras Endocrinol Metab. 2010;54/3.

LIMA, R. F. Compreendendo os mecanismos atencionais. Ciências & Cognição 2005; Vol 06: 113-122.

PESSOA. L.; et al. (2003). Neuroimaging studies of attention: from modulations sensory processing to down control. J. Neurosci., 15 (10), 3990 – 3998.

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