Sejamos todos feministas

“Eu não serei livre enquanto houver mulheres que não são, mesmo que suas algemas sejam muito diferentes das minhas” Audre Lorde

O livro “Sejamos Todos Feministas” de Chimamanda Ngozi Adichie (2014), é a transcrição de um discurso proferido no TEDxEuston, em 2012. Com uma linguagem acessível, a escritora nigeriana fala sobre os motivos que a tornaram uma feminista. Diferindo de alguns livros teóricos mais conhecidos sobre o feminismo, a leitura é fácil e espontânea. Chimamanda sabe contar uma história e talvez por esse motivo, seja uma das escritoras atuais mais conhecidas e influentes.

Fonte: encurtador.com.br/gipDN

A princípio, ela expõe situações comuns na Nigéria (e nesse ponto, notam-se grandes semelhanças com o Brasil e países da América Latina), em que o machismo é imposto de forma velada. Situações que ela presenciou e vivenciou e que a tocaram profundamente. Na primeira vez em que foi chamada de “feminista” (e não foi como elogio), ela fingiu saber o que era e continuou a conversar normalmente. Mas ela não sabia. Entretanto, a definição que encontrou mais tarde no dicionário, que consiste em uma pessoa que acredita na igualdade social, política e econômica entre os sexos, se aproximava do que ela acreditava e defendia.

Foi a partir de então, que Chimamanda começou a se posicionar como uma feminista. Desde a dificuldade inicial em estar sempre reafirmando que apesar de feminista não era uma pessoa que odiava homens, que sim, adorava usar maquiagem, que não era uma pessoa infeliz, até o ponto de receber conselhos para não ser tão feminista, já que poderia sofrer sanções por isso. Ela nos conta as situações que foram moldando sua cada vez mais resoluta convicção em lutar contra as opressões de gênero.

Fonte: encurtador.com.br/sHS78

“Feminista: uma palavra que mais de nós deveria reivindicar”

O diferencial de “Sejamos Todos Feministas” é a capacidade de abordar temas delicados com uma simplicidade tocante. Também há humor, por vezes ácido, mas sem perder, jamais, a gentileza e capacidade de comunicação não-violenta. O livro introduz temas largamente discutidos no feminismo, exemplificando com questões do dia-a-dia, as quais todos nós já passamos e presenciamos.

Sobre o preterimento da mulher em favor dos homens, ela ilustra, por exemplo, a situação em que, quando criança, mesmo tendo conseguido a melhor nota em uma disputa na escola, não conseguiu ser monitora da turma. O escolhido foi um menino, que tirou a segunda melhor nota, porque segundo a lógica da professora “era óbvio que quem seria monitor, teria obrigatoriamente de ser homem”.

Sobre a esperada posição submissa da mulher, principalmente dentro de relacionamentos, Chimamanda ilustra com a recorrente situação em que mulheres abrem mão de coisas importantes como os estudos, a carreira e outros sonhos pelo bem do relacionamento, enquanto homens não precisam se incomodar com isso.

Fonte: encurtador.com.br/chMQX

E dessa forma, temas como a farsa do pós-feminismo, que é a crença de que o feminismo já não é mais necessário e de que uma mulher não consegue, sozinha, se sustentar; a desproporcionalidade entre quantidade de mulheres na população mundial e quantidade de mulheres em cargos de poder; a invisibilidade e silenciamento de mulheres; a necessidade que as mulheres têm de serem “aceitas” e por esse motivo, se anulam e fingem ser o que não são… Todos esses temas que possuem imenso arcabouço teórico em outros livros, que são extensivamente explicados sociológica e filosoficamente, são abordados e exemplificados de acordo com as vivências da própria autora e de mulheres conhecidas.

Com poucas páginas (64), “Sejamos Todos Feministas” possui o mérito de abordar um tema tão complexo e abrangente, de forma clara e pontual. É um chamado para que todos – e isso inclui homens – revejam seus conceitos e atitudes relacionados à opressão de gênero. Com certeza deve ser lido como um texto introdutório para o estudo do feminismo.

FICHA TÉCNICA:

Fonte: encurtador.com.br/gipDN

Título: Sejamos todos feministas
Autor: Chimamanda Ngozi Adichie
Editora: Companhia das Letras
Ano: 2014

REFERÊNCIA:

ADICHIE, Chimamanda.N. Sejamos todos feministas. 1.ed. São Paulo:Companhia das Letras, 2014.