Maisa Carvalho: Consultório na Rua, Políticas Públicas e Cidadania

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O conceito de cidadania é discutível em relação às pessoas em situação de Rua, pois, ter uma certidão de nascimento é dado como o ponto principal de cidadania. Quem não viu a propaganda que passava na TV “Eu tenho nome e quem não tem? Sem documentos eu não sou Ninguém, eu sou Maria, eu sou João, com certidão de nascimento, sou cidadão”?!. A falta de documentos pode ser um empecilho para o exercício da cidadania, acerca disso os profissionais do Consultório na Rua tem como objetivo a busca por Cidadania daqueles que estão em situação de rua. É importante diferenciar a cidadania do direito à dignidade, onde o MPDF (2018) menciona a Constituição Federal quanto ao dever de promoção do bem-estar de todos sem quaisquer tipos de preconceitos com foco na redução das desigualdades sociais.

Nesta entrevista para o (En)Cena, a Assistente Social Maisa Carvalho nos traz um conteúdo muito enriquecedor acerca do trabalho com as pessoas em situação de rua e a prática das políticas públicas na busca pela cidadania dessas pessoas. Ela é graduada pela Universidade Federal do Tocantins – UFT (2016), especialista em Gestão de Redes de Atenção à Saúde pela Fundação Oswaldo Cruz – FIOCRUZ (2018), especialista em Saúde Mental pelo Centro Universitário Luterano de Palmas e Fundação Escola de Saúde Pública, através do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde Mental – ULBRA/FESP (2020), Responsável Técnica do Programa Piloto de Justiça Terapêutica do Tribunal de Justiça do Tocantins, atualmente atua na equipe de saúde Consultório na Rua e é pesquisadora nas temáticas voltadas para Saúde e Direitos Humanos: saúde mental, população em situação de rua e feminização de substâncias psicoativas.

Fonte: Arquivo Pessoal

(En)Cena: A questão da cidadania em relação aos documentos, quando não há esse documento e às vezes é muito difícil correr atrás e o paciente precisa ser atendido em alguma unidade, é negado? Como funciona?

É atendido sim, até porque não conheço nenhum protocolo ou uma lei que impeça que a pessoa seja atendida na saúde se ela não tiver documento. No entanto, se ela for encaminhada para a atenção especializada, se for cirurgia, um exame específico, acredito que dificulta mais. Isso vai depender de quem atende, do protocolo do local, vai depender de qual que é o procedimento, porque o primeiro passo é ter o cartão do SUS. A pessoa tendo um cartão do SUS, ela vai ser atendida independente de ter documento ou não.

Até hoje não tivemos negativa nenhuma, quando tem uma situação assim a gente acompanha, procura explicar “olha é um paciente em situação de rua, ele é acompanhado pelo Consultório na Rua, que é um serviço que atende esse público, que faz parte da Rede, etc.” Porque tem pessoas que não conhecem o serviço e a gente tem que chegar nos lugares explicando o que fazemos, quem somos, para dar mais visibilidade também. O nosso serviço deveria ter literalmente portas abertas em todas as unidades, porque nós somos um ponto da Rede de Atenção Básica, as unidades de saúde elas o nosso apoio. Exemplo, se a gente precisa imprimir documentos, precisa pegar a medicação na farmácia, precisa de atendimento, inclusive de consulta, esse serviço não deveria ser burocratizado, porque a gente faz parte da rede, não somos um outro serviço de fora, mas em algumas unidades ainda não é tão facilitado esse acesso, no entanto isso vem melhorando muito. As unidades que já conhecem, são super abertas, tem atendimento rápido, dão prioridade para os pacientes.

É um serviço de formiguinha que dá essa abertura muito tranquilo, agora quanto a outros serviços realmente não tem acesso. Se você precisa de uma matrícula escolar você precisa de documento, se você precisa fazer um título de eleitor, fazer uma carteira de trabalho, de identidade, se você precisa acessar habitação, você precisa de documento, infelizmente não conseguimos dar prosseguimento sem documentação. E é onde os pacientes ficam de fora se eles não tiverem. Já encaminhei vários ofícios de solicitação de isenção de certidão de nascimento aos cartórios, somando aos enviados e aos documentos que já chegaram, somam-se uns 20 documentos.

O contexto das ruas é de vários tipos de exposição e um deles é a deterioração desses documentos ou até mesmo percas, furtos, eles estão ali alguém vai rouba essa pessoa, leva a carteira, alguma bolsa com dinheiro e leva tudo junto. A certidão de nascimento é um documento que não há necessidade de você andar com ele, você não apresenta em qualquer lugar, você apresenta o RG, que também é fácil para tirar de novo. O que é mais difícil é o registro nascimento, então a gente sugere deixar com uma pessoa confiável, um familiar, um amigo ou uma pessoa próxima, ou então a gente tem também um acordo com o CREAS que é o Centro de Referência Especializado de Assistência Social. Caso a pessoa não tenha ninguém para deixar, nenhum local, deixamos o documento lá até que a pessoa em situação de rua volte para casa, ou se restabeleça, ou caso ela precise, tenta pegar quando é em último caso porque é um documento que você pode não conseguir de novo, para liberar uma vez o cartório libera, mas duas vezes pode ser que não, e aí já foge da nossa governabilidade.

Fonte: encurtador.com.br/nCDHX

(En) Cena: Como funciona a questão do custo desses documentos? O governo arca com isso?

Depois que eu entrei no serviço, construí juntamente com a equipe um fluxo com os cartórios para acessar a segunda via de registro de nascimento, porque para tirar a certidão de nascimento a gente precisa entrar em contato com os cartórios, onde essa pessoa foi registrada e fazer a solicitação. Para que o cartório seja ressarcido desse valor, é necessário que seja encaminhado um ofício e uma declaração de hipossuficiência assinada pelo usuário.Com esse documento, a gente traz todo o histórico da pessoa, que ela mora em situação de rua, quanto tempo, qual é o problema dela, que é acompanhado pelo Consultório na Rua e faço uma breve contextualização do que é esse serviço, trago também algumas partes da lei, onde garante que ela tenha acesso a esse documento, se ela não tiver como pagar, no entanto, ela não consegue chegar lá e simplesmente dizer “então eu preciso da certidão, me ajudem, eu não tenho dinheiro”. Ela não vai conseguir, a gente sabe que não é assim, mas ela tem esse direito. Faço este ofício, o mesmo é enviado para a secretaria de saúde e é assinando é o secretário de saúde, eu faço o documento, ele assina e encaminha para o cartório via Correios juntamente com a declaração. Recebendo, lá eles protocolam e mandam o documento pelo mesmo endereço que a gente encaminha, sendo paga essa ida e a volta do documento. Então, a cidade consegue gratuitamente, não tem nenhum problema, é só mandar um ofício com essa declaração de onde a pessoa declara que não tem condição de pagar que o cartório é ressarcido posteriormente.

Quanto à carteira de identidade que já é um outro processo em outro local que é o Instituto de Identificação aqui em Palmas, as vezes conseguimos, as vezes não, então a gente tenta na conversa “Olha fulano precisa para fazer tal coisa, ele foi contemplado com a unidade habitacional, com algum outro serviço que possa trazer benefício, se não conseguir documento ele não vai conseguir ter acesso a esse benefício.” Tentando sensibilizar quanto a essa necessidade, às vezes liberam, às vezes não. E aí, quando não liberam há uma taxa de 25 reais, mais as fotos que é em torno de 20 reais, vai dar 45 reais no total para ter acesso a identidade. Então, quando eu já peço o documento ou a certidão eu deixo claro “Olha procura se organiza, procura tirar a parte do auxílio que você recebe, para custear a identidade”, porque para poder tirar tem esse custo que é de 25 reais, muitas vezes eles conseguem, porque sabem o preço que é, da certidão, já teve valor próximo de   300 reais, devido ser de outro estado, de longe, que realmente é caro. Então, eu falo “olha, a gente conseguiu um documento de 120,200…e só precisa de 25 para conseguir outro”. É mais na base da conversa, quando a pessoa não tem documento aqui no Estado, e nunca tirou, é de graça, não precisa pagar. Mas, se já tirou a primeira via aqui no Estado, a segunda via precisa pagar. É difícil conseguir de graça, consegue, mas nem sempre, é um trabalho que a gente faz, o “não” a gente já tem, corremos atrás do “sim”, mas é isso, a gente trabalha priorizando o acesso.

(En)Cena: Sendo Palmas a capital, vocês têm acesso a dados do Estado, há uma ligação com os outros municípios no Estado? As políticas públicas que se aplicam aqui em Palmas, se aplicam em Araguaína ou em Gurupi? Como funciona?

O Consultório na Rua só existe em Palmas. Ele não tem em outro lugar (do Tocantins), devido a questão populacional mesmo. Para ter o Consultório na Rua depende do número mínimo de pessoas na cidade, também de investimento da prefeitura. Até onde eu sei só tem em Palmas, quanto aos números de pessoas em situação de rua é impossível saber precisamente, mas em Palmas, passa de 100 pessoas. Não me recordo precisamente. Mas esse número pode ser maior, mas, para ser incluído como um usuário, acompanhado pelo Consultório na Rua, tem que estar cerca de 3 meses em Palmas, é preciso estar acompanhando ele durante 3 meses, porque ele pode estar aqui e ir para outro lugar no mês que vem, ele pode estar em Araguaína, em São Paulo, em outro lugar. Então, não tem como incluir essa pessoa dentro do nosso cadastro de atendimento, por isso não temos um número exato. No entanto, essa pessoa não deixa de ser atendida, ela vai ser atendida normalmente.

Tem a população em situação de rua que é flutuante, ela pode ir para a rua somente quando ela está alcoolizada, somente quando tem uma briga com a família, ela fica 2 ou 3 dias, ela não é uma pessoa considerada moradora de rua, ela tem uma casa, ela tem um vínculo, só que por algum motivo ela está na rua. Já os andarilhos são pessoas que também estão em situação de rua, mas eles estão aqui, daqui a pouco podem não estar mais. Há uma oferta de atendimento também. No entanto, eles não entram no cadastro por isso, porque é um número que vai ficar flutuando muito, muitas vezes estão mesmo de passagem pois estão sempre andando, mas também fazem parte do nosso público.

Quanto ao contato, fazemos também, as vezes os serviços de outros municípios entram em contato pedindo informações de pacientes, há essa troca sim.

Fonte: encurtador.com.br/ajCM2

(En) Cena: Você entrou em 2019 no consultório na rua, sendo que o mesmo foi implementado em Palmas somente em 2016, de forma mais tardia, por assim dizer. Nesse Período, o que você percebeu de mudanças significativas? Houve aspectos positivos e negativos com essas pessoas em situação de rua?

No trabalho da saúde mental, o Consultório na Rua é um dos pontos da Rede de Atenção Psicossocial, é um trabalho de formiguinha, talvez o que eu falar como evolução, seja visto pelas pessoas como “só isso?” Mas que na realidade podem ser grandes evoluções, para nós e para quem se beneficia dessas mudanças, é um trabalho que não é somente a pessoa parar de usar álcool, ou ela ficar organizada mentalmente, a gente trabalha muito com a redução de danos, existe uma política que rege toda a nossa atuação em cima disso. Então, por exemplo, se a pessoa está em uso durante a vida toda ou passou esse ano todo fazendo uso de álcool e outras drogas sem pausa, ela já está bem emagrecida, a pessoa já tem alguns problemas de saúde em decorrência do uso dessas substâncias, ela já não trabalha mais, ela já não tem vínculo familiar mais, ela está literalmente prejudicada por causa desse uso de substâncias, se a gente consegue com que essa pessoa diminua esse uso já é um avanço muito grande, se a gente consegue que a pessoa, mesmo usando a droga, ela consiga se cuidar, ela consiga por exemplo, buscar uma unidade de saúde, ela consiga se hidratar, se alimentar, ela consiga talvez tomar um banho, já é um avanço muito grande. Agora avanços significativos de mudanças radicais de vida, temos também vários, poderia ter mais?! Poderia! Mas esse contexto de uso de álcool e outras drogas não é bem o contexto do que as pessoas esperam, uma pessoa sair daqui contente da rua, morar numa casa, passar a trabalhar, ter uma vida “bonitinha”, ser uma pessoa aceita. Então assim, esse padrão aí pode ser que não seja alcançado sempre. A gente trabalha com pequenas coisas, com pequenos passos, mas sim nós temos pacientes que moravam de baixo de árvore, por exemplo, que hoje têm acesso a moradia, passaram a ter essa vivência do que é pagar uma água, pagar uma luz, desses compromissos de morar numa casa, e por mais que ela passa a morar numa casa a gente atende até hoje, porque o nosso público não é quem mora em casa, nós trabalhamos com moradores de rua, pessoas em situação de rua, no entanto essa transição é uma fase também de difícil adaptação, e a equipe participa disso.

Tem um casal no qual eles ganharam uma casa, não foi uma conquista de quando eu estava no Consultório na Rua, mas eu já estava como residente, eu pude acompanhar o processo de adaptação e quando eles moravam na rua também eu já era residente. Então eu tive esse acompanhamento, não como profissional da equipe, mas como residente. Eles moravam em uma casa de papelão, quando chovia caia tudo, estavam no relento, e quando eles passaram a ter a casa tiveram dificuldades, por exemplo, de fazer comida, dificuldade de tomar banho, dificuldade de dormir numa cama, porque não é o contexto deles, parece algo tão natural, dormir na cama, usufruir de tudo. Mas a gente as vezes chegava lá eles estavam cozinhando sebo de fazer, por exemplo, porquê era a realidade que eles tinham lá fora, de comer qualquer coisa, de comer qualquer hora, de não ter essa responsabilidade de pagar água, luz, parcela da casa, por que não é 100% dada para as pessoas, ela tem um valor pequeno, geralmente uns 80 reais. Tem os apartamentos que são 100% de graça, mas que para eles não era o ideal, tudo isso foi avaliado em discussões de caso, inclusive com outros serviços, então o melhor seria uma casa, um espaço mais tranquilo e reservado.

 Então eles passaram a ter alguns compromissos e isso foi muito engraçado porque a equipe viabilizou o acesso da casa, entrar com processo para receber Benefício de Prestação Continuada (não recebem ainda), mas tiveram acesso ao auxílio emergencial, e assim que eles receberam o dinheiro ficaram sem saber o que fazer, e aí a gente orientou “olha você precisa pagar esse valor aqui que é da água, você precisa pagar essa energia, você precisa pagar esse valor que é da prestação da casa” e tudo isso para eles era muito estranho, e se a gente não participasse desse processo, correria o risco deles voltarem para a rua novamente, mesmo tendo a casa.

Fonte: encurtador.com.br/fFVW5

O trabalho não é muito fechado, não é somente trabalho in loco, ali com a pessoa na rua. A gente vai além disso. Além desses, tiveram outros casos que foram beneficiados com unidade habitacional com o apoio da equipe, porquê tem que montar todo um dossiê, tem que ter relatório, tem que ter tudo isso. A gente apoia, acompanha os pacientes nesse processo, quando sai por exemplo nome deles na lista eles não tem acesso à internet, telefone, como é que vão saber?! A gente que acompanha também, se sair o nome pra gente ajudar com a documentação e ir atrás.

Temos pacientes que voltaram para casa, às vezes estavam em situação de rua por uma desorganização mental, em surto, e a gente entra em contato, muitas vezes com familiar de outro Estado, caso seja preciso a pessoa ser internada no HGP, também com a gente articulando, é um avanço muito grande, talvez estava na rua somente por um surto psicótico. Às vezes deu uma desorganizada, está sem usar medicação e acabou indo para a rua.

Acesso ao trabalho, com paciente que voltou a ter essa vida ativa no trabalho, às vezes não é um trabalho formal, mas uma venda de picolé, trabalho artesanal, um trabalho de garçom. Infelizmente não são muitas opções ofertadas para essas pessoas. Para as pessoas com formação, já é difícil, imagina quem não tem estudo, informação ou vive nessas condições?  os trabalhos deles são quase sempre subempregos, é uma verdade, trabalhos informais, mas que são trabalhos, que antes as pessoas não tinham, então a gente tem que incentivar isso também. E, tem pessoas que já estão nesse processo do mercado de trabalho, seja autônoma ou seja inserido mesmo com carteira assinada.

A gente tem um paciente que morou muitos anos na rua, que foi acolhido pelo “Palmas que te acolhe” que era um projeto que tinha aqui na cidade, mas que já finalizou, o qual que acolhia a população de rua em um espaço, com dormida, com incentivo a emprego e renda etc. Era uma equipe multidisciplinar que dava esse suporte aos pacientes em situação de rua. Na época, ele foi acolhido por esse serviço e também acompanhado pelo Consultório na Rua. Logo depois, ele foi contratado pela prefeitura, e até hoje ele continua. Ou seja, um paciente que saiu da rua, do consumo abusivo de álcool e mora numa casa, consegue pagar aluguel, se alimentar melhor, ele saiu desse contexto de uso abusivo de álcool, porque a gente sabe que o uso em si as vezes é decorrente de outros problemas.

Por quê que a gente trabalha tentando resolver algumas questões e não em cima do parar de usar drogas, da abstinência? Porque talvez possibilitando o acesso aos direitos sociais básicos, ao reestabelecimento dos laços, ofertando cuidados em saúde em geral, a pessoa pode parar de usar por si só. Não é uma regra, trabalhamos com possibilidades.  Se a gente consegue restaurar o vínculo familiar, se a gente consegue ter acesso a moradia, acesso ao trabalho, já são conquistas que contribuem para a reinserção social. Essa pessoa pode diminuir o uso e o prejuízo sem a gente fazer “nada” especificamente sobre o uso. O mais difícil é essa questão trabalho e renda, porque são casos bem específicos, ainda mais agora que estamos em um contexto de desemprego com níveis talvez nunca antes vistos, tem o contexto de pandemia, contexto social e econômico que o país vive. Para eles não é diferente, para eles é até pior essa questão do acesso ao trabalho, realmente é um desafio que a gente tem muito grande. Mas tem pessoas que estão no mercado de trabalho ou que estão com trabalho autônomo, por isso é importante o acesso a moradia, educação, até mesmo a redução em si do uso de álcool e outras drogas, redução de danos.

REFERÊNCIA

MPDFT – Ministério Público do Distrito Federal e Territórios. Direitos Das Pessoas Em Situação De Rua. Brasília-DF, julho de 2018. 1ª Edição. 2018.

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O SUS por novas lentes: o produto da informação e a experiência

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Epidemias, hanseníase, AIDS, varíola. Vacinação obrigatória. Saúde ao alcance apenas dos trabalhadores de carteira assinada, assegurados pela previdência social. Custos altíssimos de tratamentos. Pessoas morrendo por falta assistência em saúde. Movimentos sociais, constantes lutas pela ampliação de direitos e cidadania. Fatores que influenciaram estreitamente para surgimento do SUS. E a concepção do que hoje é saúde como um direito de todos e dever do Estado. O relato aqui apresentado trata-se de uma vivência de estágio e o contato concomitante com a disciplina de Saúde, Bioética e Sociedade.

Fonte: https://goo.gl/C6N5Kg

Meu contato com o SUS de modo geral é comum aos jovens do século XXI que pouco sabem e se interessam pelo sistema. Como usuária, ao procurar tratamento de saúde e alívio para dores, recebia atendimento e solução para o problema. Porém na minha perspectiva de leiga o SUS era apenas isso, a certeza de ter um lugar falho, que eu poderia recorrer quando a “dor apertasse” ou a doença se instalasse. De modo que, se antes dessas vivências eu fosse falar ou avaliar o programa provavelmente traria muito mais coisas negativas do que relevantes. Remetendo ao caos na saúde brasileira, as grandes filas de espera para receber qualquer atendimento, a escassez de materiais, a superlotação, aos relatos de outros usuários, reportagens de jornais, a situação dos Hospitais Gerais, etc.

Fonte: https://goo.gl/BEU52p

Apossando-me daquele velho discurso, “SUS não muda, e nem adianta esperar muita coisa, afinal é público”. A falta de informação e conhecimento sobre o serviço gera pessoas alienadas, que acreditam e percebem apenas de acordo com experiências ruins passadas ou ouvidas e segue reproduzindo discursos do senso comum. De maneira que ao invés de atuar como agentes de mudanças, estão constantemente em busca de atribuir culpas e falhas a outros. Tencionando percorrer caminhos cada vez mais fáceis. Situações essas que começam de nós usuários, profissionais, povo que possuem direitos, mas esquece também dos deveres e compromisso com o SUS.

Espaço que se encontra lotado de especialistas no apontar problemas, mas escasso de pessoas que apresentam soluções, assumem responsabilidades com a visão de sociedade e cidadania. Aspirando unir forças para formação de um sistema melhor. Prova disso são as rivalidades presenciadas nos estádios entre torcedores, nas redes sociais pela divergência de opiniões, em tempos de política nas escolhas de representantes, na intolerância religiosa. Literalmente coisas simples de lidar, mas que tornou sinônimo de caos, guerras e até mortes nos dias atuais. Não conseguimos exercer de forma madura nem a democracia e a liberdade de expressão, imagina as demais coisas.

Vivemos em uma sociedade enraizada na cultura egoísta que não pensa no coletivo, mas obriga este a concordar com ele, não segue regras e assume compromissos, pois sempre tem um “jeitinho brasileiro” pra tudo. Corrupções são justamente produto de pensamentos e atitudes egoístas. Atitudes essas que começam por atos pequenos, inofensivos até chegar em congressos, políticos e refletir em toda uma sociedade, pois são parte de um povo, da cultura de um país. Daí eu te pergunto será mesmo que o problema é do SUS? E digo o problema não é do SUS. Mas está nele diariamente, pois somos nós, são os representantes que escolhemos, sendo então dilemas e responsabilidades que devem ser assumida por todos.

Fonte: https://goo.gl/2WLfLF

A experiência que tive como estagiária de psicologia no SUS me obrigou a enxergar diferente, e a trocar minhas lentes por essas que trago no presente. Por tempos me encontrei focada apenas nas falhas e opiniões do senso comum, e claro na revolta de usuária que como todos, espera por um serviço eficaz, humano e completo. Pois sim, para esta troca eu precisei passar para o outro lado, e comprovar quantas falhas e faltas há, como o SUS caminha em meio a grandes dificuldades. Contudo o mais bonito de ver é que apesar das grandes dificuldades e burocracias ele ainda acontece.

Foi em meio a tantos problemas que encontrei também pessoas fazendo a diferença sem medir esforços para o sistema funcionar. Na competência de promover saúde, prevenir doenças e se comprometer com um povo, com um país. Nem que para isso seja preciso levar toda equipe até casa de quem necessita ainda que essa casa seja a rua, o indivíduo precisa e é alcançado. Como é possível encontrar hoje profissionais excelentes em um trabalho conjunto aos consultórios de ruas, UBS fluviais, agentes comunitários de saúde, equipes domiciliares (NASF) fazendo cumprir o dever: “…um direito de todos”.

Fonte: https://goo.gl/vtBcvG

Quando há pessoas que se comprometem e assumem responsabilidades sendo capazes de enxergar a riqueza que é levar saúde a quem precisa. Independente do político corrupto que desviou a verba do SUS, os materiais que faltaram, ele vai funcionar, e isso faz valer a pena cada centavo que continua sendo pago. Porque não depende apenas desses políticos para que aconteça, mas depende de usuários e profissionais capacitados que lutam por aquilo que é de todos, entendendo o valor do que foi conquistado com muito esforço e hoje é oferecido de forma universal. Pois é assim que o sistema em sua grande maioria é percebido por profissionais que o compõem, dando a assistência adequada ou não a população.

Fonte: Agentes comunitários e Psicóloga do NASF (Arquivo pessoal)

Por fim, concluo esclarecendo que o SUS não é imutável, não é serviço de graça e nem apenas para pobres. É para pessoas que o procuram independente de raça, condição financeira, pois ele é universal de direito para todos. Integral que considera o ser humano como um todo. Regional organizado de forma articulada com outros serviços. Descentralizado que divide seu poder em 3 níveis de governo. Atua com a equidade de acordo com as necessidades distintas de cada um. E conta com a participação popular no seu dia-a-dia para construção de um sistema melhor.

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O psicólogo Jonatha Nunes fala do Dia Nacional da Luta Antimanicomial

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No dia 18 de maio ocorreu no Parque Cesamar, em Palmas/TO a comemoração pelo Dia Nacional da Luta Antimanicomial. O evento contou com piquenique, rodas de conversa, sarau musical, testagem rápida e aconselhamento e estava na programação entre outros eventos que ocorreram durante o mês de maio em celebração a data. Essa programação foi elaborada por um coletivo de usuários, trabalhadores e gestores de Palmas.

Dentre eles está Jonatha Rospide Nunes, graduado em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (2003), com práticas nas ênfases de Psicologia Clínica e Comunitária. Mestre pelo Programa de pós-graduação em Psicologia da Universidade Federal Fluminense (2010), tendo como tema de pesquisa a execução de políticas sociais direcionadas à garantia de direitos de crianças e adolescentes em situação de rua. Experiência profissional na área de Psicologia, com ênfase em Psicologia Educacional no Ensino Superior (ensino, pesquisa e extensão) e Clínico-Institucional (consultório particular, matriciamento em álcool e outras drogas e supervisão clínico-institucional). Tutor do Programa de Saúde Mental do Programa Integrado de Residência Multiprofissional de Palmas/TO, supervisor da equipe de Consultório na Rua do Município de Palmas. Membro do Colegiado Gestor do Conselho Regional de Psicologia do Tocantins, com participação na Comissão de Direitos Humanos e Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas.

O (En)Cena entrevistou Jonatha, que fala que a despeito da condição de saúde, todas as pessoas têm os mesmos direitos.

(En)Cena: Qual o objetivo do encontro de hoje?

Jonatha: O objetivo de hoje é comemorar a luta antimanicomial, a garantia de direito para as pessoas que tem transtorno mental, para elas terem direito como qualquer outra pessoa, a ser cidadãs. Então é comemorar, é a gente sair do modelo do manicômio e ir para o modelo dos serviços substitutivos de garantia de direito para essas pessoas.

(En)Cena: O evento está ocorrendo durante todo o mês, mas que atividades estão sendo realizadas no dia de hoje?

Jonatha: Hoje na verdade a gente está fazendo as atividades aqui no Parque Cesamar porque hoje é o dia da luta. Dia 18 de maio de 1987 foi o primeiro encontro de vários movimentos da saúde e onde se iniciou a proposta de um modelo psiquiátrico alternativo ao manicômio. Então esse encontro de hoje ele vem para a gente comemorar e celebrar essa data. Para isso a gente juntou vários serviços aqui: o Palmas que te Acolhe, o Consultório na Rua, a Fundação da Juventude, a Fundação Escola de Saúde Pública, o Centro de Saúde da Comunidade, tem também o pessoal da vigilância, da Secretaria Municipal de Saúde, os residentes da Residência Multiprofissional, com o intuito de confraternizar junto com os usuários e familiares esse momento que para nós é um momento importantíssimo, de garantir direitos para essas pessoas.

(En)Cena: O que ainda precisamos alcançar em relação à saúde mental e à luta antimanicomial?

Jonatha: Se formos pensar em termos mais amplos, seria essa dimensão cultural, pois ainda temos muitos preconceitos culturais em relação ao transtorno mental, ao sofrimento psíquico, enfim, em relação à saúde mental. As pessoas que fazem tratamento psicológico ou psiquiátrico não falam para ninguém, porque isso traz preconceito, as pessoas acham que o fazem porque são loucos, desequilibrados. E na verdade qualquer um de nós pode em algum momento da vida ter algum tipo de transtorno ou sofrimento psíquico. Então acho que a maior batalha que a gente tem atualmente é essa mudança na cultura, porque se a gente tiver essa mudança na cultura, não vamos ficar tão fragilizados à essas mudanças de governo, como aconteceu agora. Muda o governo, aí começa a interferir na política, começa a modificar. Tendo essa mudança na cultura a gente fica forte e não fica tão vulnerável a esses governos aventureiros que vem por aí, como esse atual.

(En)Cena: Há algumas exposições no evento realizadas pelos usuários. Como foi o processo de construção e qual o significado disso para eles?

Jonatha: Temos ali vários produtos dos grupos do CAPS, então temos ali os cordéis que o pessoal fez, temos ali as fotografias do cotidiano no CAPS, algumas fotografias foram eles que fizeram, outras foram os profissionais. Temos a atividade que eles fizeram das caixas de remédios em que eles mudaram as tarjetas e colocaram outras ideias. E os panos que eles pintaram, em que a ideia era o que a luta antimanicomial significa para eles. Então tem um coração, um símbolo do Yin Yang que é o que representa para eles. Tudo isso foi preparando para esse momento aqui. Teve um conjunto de atividades que foram anteriores a esse momento.

(En)Cena: Quais as principais dificuldades que vocês encontraram para conseguir fazer esse evento todo durante o mês?

Jonatha: As principais dificuldades é a participação dos profissionais, dos trabalhadores, dos usuários. O pessoal participar nesse tipo de atividade não é uma coisa comum e isso também está na cultura e modificarmos essa cultura não é fácil. Mas em Palmas a gente já tem um movimento há tempos, então é mais difícil conseguirmos operacionalizar coisas concretas como ônibus, comida do que conseguirmos mobilizar as pessoas, que são os trabalhadores, profissionais e usuários, porque elas já são mobilizadas, já entendem o sentido desse movimento e desse tipo de ação.

(En)Cena: Você tem alguma mensagem para aqueles que não compreendem o movimento?

Jonatha: O que eu diria para a sociedade é que é preciso se dar conta de que não é porque as pessoas são diferentes ou porque tem algum tipo de problema, algum tipo de sofrimento que elas não tenham valor, não tenham dignidade ou não tenham direitos como qualquer outra pessoa. Acho que estamos num momento muito dicotômico, ou tu é contra ou é a favor, ou tu é bom ou tu é ruim e precisamos entender que isso é muito simplista, na verdade existe uma complexidade, existe uma multiplicidade de possibilidades. Se a gente fica só nos extremos a gente fica muito limitado. Eu posso ser bom e ruim ao mesmo tempo. Então o que eu diria para as pessoas é isso, a despeito da condição de saúde, todas as pessoas têm os mesmos direitos. Isso é fundamental e é um marco civilizatório para a sociedade.

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Cidadania: um caminho subjetivo e solitário?

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Em um país onde a democracia se molda a ferro e fogo, é possível (e necessário) refletir sobre a proposta de cidadania que se achega a cada sujeito da nação. Uma cidadania percebida pelo viés do direito, mas, sobretudo, sobre o escombro do dever. Escombro este construído desde a colonização, e que a cada explosão, seja política, moral, econômica ou social, soterra um pouco mais o chamado cidadão que navega por mares agitados.

Este mesmo cidadão, metaforicamente soterrado, tem a grande oportunidade de se perceber enquanto tal, pois em meio ao caos, compreendido aqui a partir das contribuições da meteorologia (Teoria do Caos), ou seja, a criação de um novo padrão, em meio à desorganização, pode reinventar condutas pessoais que geram ações coletivas, tendo a reflexão como meio imprescindível para a sobrevivência.

De fato o que é proposto? Quem sabe, uma (re)ação a tudo que está imposto, e que fere a dignidade do cidadão, que tira a oportunidade de um bem-estar social, que lesa todo e qualquer direito previsto na Carta Magna, e que, diga-se, é legitimamente constituída. Não há anacronismo na Constituição Brasileira, há negligência, omissão, ignorância proposital. E o cidadão lembrado no início desta reflexão? Distante, bem distante dos direitos.

Fonte: goo.gl/KLYmkN

Por tantas quedas, que nunca terão fim, é que se torna possível levantar os olhos para o horizonte, percebendo novas formas de posicionamento social. Em meio a toda “transparência” da imundície, um grande ensinamento advém do cenário político partidário do país, a possibilidade de pequenas mudanças cotidianas que em um longo prazo, permitirão um novo paradigma cidadão. A percepção de que, o que está posto, não é suficientemente bom para ser aceito. A compreensão cidadã construída não foi suficientemente capaz de discernir que honestidade nunca será um acordo, um conchave, mas uma busca constante por mudança.

Uma proposta concreta para tal mudança é, sem dúvida, e sem medo de chavões, a EDUCAÇÃO, aquela que se converge entre as dimensões família e escola. O sistema falido a que são impostos educadores e educandos gerou um ciclo de ineficiências, que resultam em mentes imersas na letargia. Pensamento duro? Necessário para que realmente a escola se proponha ao seu papel, que não é o de resolver as mazelas sociais existentes, mas de dar subsídios para que o cidadão se perceba enquanto agente de mudança. E se, mestre e aprendiz, não se propõem à parceria de viver a realidade e transformá-la, em vão, dividem o mesmo espaço educativo.

Fonte: goo.gl/jN2CJU

A Cidadania, nesta perspectiva do perceber-se, não pode calcar-se somente em subjetividades pessoais e solitárias, pois a cada circunstância, se está bom para o indivíduo, esquece-se da coletividade. Trocando em miúdos, se o mais importante continuar sendo a vantagem de cada um, como propor um presente e um futuro menos desigual?

Se você estiver se perguntando como? Não pense que, aqui, lhe será privado o direito de pensar por si só, mas comece pensando sobre o que tem feito de bom ao redor. Sobre como tem empregado direitos e deveres para o bem comum. Sobre qual a concepção tem construído sobre a escola para seus filhos e seus pares. Sobre quais são, verdadeiramente, seus requisitos para a escolha dos representantes políticos do seu bairro, cidade, Estado, Nação. Sobre qual é, de fato, sua atuação enquanto cidadão. Não sendo uma caminhada solitária, começa sempre pelo EU que vive com o OUTRO.

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Efeitos Negativos da Tecnologia na Infância

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Primeiramente convém analisar o significado de vida social, entender o que vem a ser o viver em sociedade.  O termo “sociedade” vem do Latim societas cujo significado é “associação amistosa com outros”. Trata-se de um grupo de pessoas que compartilham semelhanças e experiências, estabelecendo interdependências, e que ao mesmo tempo são distintas umas das outras tanto em seus aspectos exteriores quanto em seus interesses subjetivos.

Branco (2011, s.p.) escreve que o primeiro grupo social no qual um indivíduo está inserido é a família, onde a criança gradativamente descobre o mundo além de seu lar. Considerando, então, que a família é o primeiro exemplo de sociedade que envolve uma pessoa, deve-se antes focar a tecnologia e sua direta atuação no ambiente familiar.

Fonte: http://zip.net/bhtJxn

Uma pesquisa feita com 1.521 crianças de 6 a 12 anos por uma revista infantil norte-americana mostrou que 62% das crianças reclamam da demasiada distração dos pais a ponto de estes não ouvirem os filhos. A pesquisa constatou que os celulares eram os principais responsáveis nesses casos. Além disso, celulares, TV’s, smartphones e tablets juntos foram a causa do distanciamento entre filhos e pais em 51% dos casos (SALEH, 2014).

Nem mesmo quando a família está à mesa para refeições os smartphones são poupados. Momentos que deveriam ser oportunidades únicas para dialogar e estreitar laços familiares são desperdiçados, o que é lamentável principalmente quando os próprios pais não dão o bom exemplo nesses infrequentes momentos em que estão perto dos filhos. Em virtude disso, os filhos pequenos seguem o mesmo caminho, o que traz mais danos ao ambiente familiar e afetarão negativamente outras áreas da vida.

Fonte: http://zip.net/bptJ4b

Paiva e Costa (2015, p. 4) ressaltam que desde muito cedo a criança tem contato com tecnologias como celulares e tablets, o que provoca questionamentos devido ao fato de tratar-se de um ser que ainda não tem maturidade para lidar bem com esses aparatos.  Diante de variadas opções de entretenimento, a mente de uma criança logo se apega a esse impressionante mundo virtual, caracterizado por jogos eletrônicos, jogos onlines e redes sociais, gastando tempo e energia.

Inevitavelmente são menosprezadas as brincadeiras tradicionais tais como amarelinha, pega-pega, esconde-esconde e jogar bola, atividades que envolvem esforço e contatos físicos. Percebe-se, portanto, o prejuízo da interação social, já que a criança passa a maior parte do seu tempo dentro de sua casa, sozinha com um equipamento eletrônico.

De acordo com o psicólogo Cristiano Nabuco, quanto mais uma criança é apegada à tecnologia, mais distante ela fica do ambiente social, tornando-se incapaz de se entrosar com outras. Ainda segundo o psicólogo, essa incapacidade impede de serem desenvolvidas habilidades sociais que compreendem a inteligência emocional, portanto, a criança ligada à tecnologia não é capaz de empatizar, sentir-se no lugar do outro, um nobre gesto indispensável para uma sociedade melhor (FOLHA DE SÃO PAULO, 2014).

Fonte: http://zip.net/bktJpD

Eisenstein e Estefenon (2011) escrevem que a criança se vê envolvida numa mistura de mundo real com o mundo virtual. No caso das redes sociais, são criados novos códigos de relacionamentos, resultando na aquisição de novos “amigos”. São construídas uma ou várias versões virtuais de identidade. Nesse caso, o nome já não é tão importante, sendo substituídos por logins e senhas.

Já que a criança está por perto, contidamente entretida com a tecnologia, dentro de casa, os responsáveis ficam mais tranquilos, sentindo-se sob o controle, mantendo a ordem sem grandes dificuldades. Henríquez (2014, s.p.) diz que isso pode ser útil a curto prazo, mas a longo prazo os efeitos viciantes desses aparatos trarão consequências nefastas ao vínculo familiar e à vida futura da criança.

Portanto, é necessário analisar a que ponto a situação da criança pode estar chegando, e se isso está sendo benéfico ou maléfico, esse papel cabe exclusivamente aos pais, pois a criança ainda não tem discernimento sobre si mesma e poderá desenvolver uma profunda dependência da tecnologia, acarretando por fim o isolamento social.

Assim sendo, é inerente aos pais ou responsáveis a responsabilidade de zelar pela vida social das crianças, estimulando a interação pessoal dela com os colegas do bairro ou da escola, leva-las a passeios e programações culturais.

Ações como esse fortalecem o vínculo familiar e causam efeitos positivos não só no presente como no futuro, tornarão a criança em um adulto de saudáveis relacionamentos cognitivos, profissionais e afetivos, aprimorando, portanto, todo o viver em sociedade. A participação dos adultos é essencial para que a criança compreenda a função das tecnologias presentes em seu dia a dia, para que elas as usem com confiança (KELLY, 2013, s.p.).

Fonte: http://zip.net/bxtKf4

Efeitos negativos da tecnologia na vida educacional da criança

É inquestionável a grandeza do papel escolar na vida do ser humano, especialmente nos primeiros anos de sua existência. Quinalha (2010, s.p.) escreve que a escola é o segundo lugar mais importante na vida da criança, vendo-o como o ambiente onde emerge “uma segunda sociabilidade”. Tal relevância se deve ao fato de que é na escola onde a criança irá aprender a observar e questionar, constituindo-se assim como um ser pensante, além de prepará-la para um pleno exercício da cidadania.

Assim sendo, deve-se garantir que, ao adentrar no ambiente educacional, o estudante tenha suas capacidades fisiológicas e cognitivas preservadas para que seu aprendizado seja pleno. Infelizmente, pesquisas têm apresentado relações de causa e efeito entre o uso abusivo da tecnologia e problemas de aprendizagem.

É importante ressaltar que, para fins de debate e reflexão, o presente trabalho abrange somente os efeitos deletérios da tecnologia usada de forma abusiva ou em fases não adequadas para crianças, portanto, essa pesquisa não tem um caráter generalizador e nem radical.

Fonte: http://zip.net/bktJpG

Estudos têm mostrado que uma ou duas horas de TV (televisão), sem a supervisão dos responsáveis, trazem significativos efeitos danosos ao rendimento escolar de crianças, especialmente no quesito leitura (ROJAS, 2008). A televisão dá aos pequenos uma série de informações já prontas, o que, de modo geral, os impede de raciocinar e desenvolver seu pensamento crítico. Isso explica o fato de a leitura, que envolve não só a decodificação de palavras, mas também o assimilar do conteúdo, tornar-se dificultosa e por fim ser desprezada por quem gasta expressivas horas com tecnologias.

Problemas de atenção também advêm do uso abusivo de aparatos eletrônicos, especificamente da televisão. Um efeito do abuso desse aparelho é a hiperatividade, uma condição física que se caracteriza pelo subdesenvolvimento e mau funcionamento do cérebro, cuja principal característica é a atenção deficiente. Setzer (2014, s.p.) declara:

A produção de hiperatividade pela TV é fácil de ser compreendida: crianças saudáveis não ficam quietas, estão sempre fazendo algo, pois é assim que aprendem, desenvolvem musculatura, coordenação motora etc. Uma criança saudável só fica parada se ouvir uma história: aí se pode observar que ela fica como que olhando para o infinito, pois está imaginando interiormente os personagens, o ambiente e a ação. No caso da TV, a criança fica fisicamente estática […], não tendo nada a imaginar, pois as imagens já vêm prontas e se sucedem com rapidez. Ao se desligar o aparelho, a criança tem uma explosão de atividade, para compensar o tempo que ficou imóvel e passiva […].

Por sua vez, a hiperatividade afeta negativamente o aprendizado da criança, já que a atenção desta está desordenada. Santos (2016, s.p.) escreve que as escolas frequentemente lidam com esta questão, registrando que pesquisas apontam que para cada vinte alunos de uma turma escolar, cinco apresentam comportamento hiperativo.

Amâncio (2014, s.p.) cita a sobrecarga cognitiva como outro resultado negativo da exposição às tecnologias da informação. Rebouças (2015, s.p.) explica:

Toda demanda de memória utilizada no processo de aprendizado é referida como carga cognitiva, ou seja, toda quantidade de conteúdo e desdobrar de conhecimento que a pessoa registra em sua memória durante a instrução e capacitação. No uso do computador e da internet como meios de instrução, a carga cognitiva abrange o processo mental capaz de acessar e interpretar o conteúdo apresentado em janelas, ícones e objetos. A sobrecarga cognitiva gera um descompasso entre experiência, habilidade e temperamento da pessoa. Além de prejudicar o nível de detalhes e qualidade de uma tarefa.

De acordo com Luiz Vicente Figueira de Mello, do Ambulatório de Transtornos Ansiosos do Hospital das Clínicas, da Universidade de São Paulo (USP), o excesso de informações, que supera a capacidade neuronal, leva à sobrecarga das conduções elétricas do cérebro e ao estresse (REDE GLOBO, 2016).  Não é ilógico concluir que uma sobrecarga cognitiva é extremamente danosa ao cérebro de uma criança, órgão este que ainda está em formação, e extremamente prejudicial a ela como aluna, seu aprendizado escolar é limitado.

Fonte: http://zip.net/bwtHVL

Agora falando especificamente sobre a Internet, esta trouxe novas formas de escrever e expressões. Deve-se ressaltar o tão falado “internetês”, que consiste em abreviar palavras e ignorar pontuações, desrespeitando assim as normas gramaticais. Alguns exemplos são: “Td d bom p vc”; “xau bju” e “A gnt se fla por aki”. (O certo seria “Tudo de bom pra você”; “tchau, beijo” e ”a gente se fala por aqui”). O problema está no fato de tal linguagem ser usada no ambiente escolar, devido à confusão gerada por diferentes formas de escrita.

Hamze (2008, s.p.) ressalta o seguinte:

Em português, ou em qualquer outra língua do mundo, a Internet já começa a modificar os habituais meios de comunicação considerados como politicamente corretos. É melhor pensar nas consequências desse acontecimento antes que haja uma descaracterização dos idiomas cultos pela extrema e cada vez mais rápida fama da rede. 

Não se deve demonizar o “internetês” que facilmente pode ser assimilado pela criança, nem proibir o seu uso, mas ressaltar aos pequenos a maior importância da língua materna, falando-lhes sobre os benefícios que existem em obedecer às normas gramaticais, e não se desvincular delas. Papéis não podem ser invertidos, é, portanto, dever dos responsáveis de averiguarem se esses novos dialetos não estão confundindo a criança em seu ambiente escolar.

Portanto, percebe-se que o abuso da tecnologia por parte das crianças traz a elas efeitos negativos a curto e longo prazo.  Diante dessa situação, é reafirmado o fato de que recai sobre os pais a responsabilidade de monitorar os filhos, sempre dialogando com eles sobre a importância do uso adequado desses aparelhos que inevitavelmente compõem o cotidiano do presente século, características marcantes da sociedade da informação.

Os pais devem orientar seus filhos do mesmo modo que o fariam em relação às atividades e relacionamentos convencionais. O diálogo deve preceder o uso consciente da internet (PERES, 2015).

Fonte: http://zip.net/bwtHVM

A recomendação supracitada deve estender-se além da internet, abrangendo a tecnologia em suas mais diversas formas de representação. Como consequência do esclarecimento a respeito desses aparatos eletrônicos, aliado à orientação dos responsáveis, a criança terá uma plena participação no contexto social, garantirá um pleno aprendizado no ambiente educacional e, portanto, terá um futuro com menos problemas.

REFERÊNCIAS:

AMÂNCIO, Wagna Ferreira S. Pontos Positivos e Negativos em relação ao uso da Tecnologia no Processo de Ensino-Aprendizado. Disponível em: <http://www.pedagogiaufesead2014.blogspot.com.br/>. Acesso em 04 outubro 2016.

BRANCO, Anselmo Lázaro. Sociedade: Relações sociais, diversidade e conflitos. Disponível em: <http://www.educação.uol.com.br/>. Acesso em 08 outubro 2016.

EISENSTEIN, Evelyn; ESTEFENON, Susana B. Geração Digital: Riscos das novas tecnologias para crianças e adolescentes. Revista Hospital Universitário Pedro Ernesto, Rio de Janeiro, v. 10, 2011. Disponível em: <http://www.revista.hupe.uerj.br>. Acesso em 27 setembro 2016.

FOLHA DE SÃO PAULO. Obesas e sedentárias, 54% das crianças passam mais de 4 horas por dia em frente à TV ou celular. Disponível em: <http://www.maternar.blogfolha.uol.com.br/>. Acesso em 06 outubro 2016.

HAMZE, Amelia. Internetês. Disponível em: <http://www.web.archive.org>. Acesso em 06 outubro 2016.

HENRÍQUEZ, Omar. Adicción a la tecnología em los niños. El papel de los padres em la prevención. Disponível em <http://www.colombianosune.com>. Acesso em 03 novembro 2016.

KELLY, Clare. Los niños y la tecnología.  Disponível em: <http://www.cbeebies.com/>. Acesso em 03 outubro 2016.

PAIVA, Natália Morais de; COSTA, Johnatan da Silva. A influência da tecnologia na infância: Desenvolvimento ou ameaça? Psicologia, Teresina, 2015. Disponível em: <http://www.psicologia.pt>. Acesso em 26 setembro 2016.

QUINALHA, Ivone Honório. A importância da escola e seu lugar na constituição humana. Disponível em <http://www.cuidademim.com.br/>.  Acesso em 19 novembro 2016.

REBOUÇAS, Fernando. Sobrecarga cognitiva. Disponível em: <http://www.agendapesquisa.com.b/r>. Acesso em 04 outubro 2016.

REDE GLOBO. Excesso de informação pode causar exaustão do sistema nervoso central. Disponível em: <http://www.redeglobo.globo.com/>.

ROJAS O., Valéria. Influencia de la televisión y vídeo juegos en el aprendizaje y conducta infanto-juvenil. Revista Chilena de Pediatría, Santiago, v. 79, 2011. Disponível em: <http://www.scielo.com>. Acesso em 27 setembro 2016.

SALEH, Naíma. A tecnologia está afetando as relações familiares dentro da sua casa? Disponível em: <http://www.revistacrescer.globo.com/>. Acesso em 08 outubro 2016.

SANTOS, Bárbara. Como agir com crianças hiperativas e desatentas na escola. Disponível em <http://www.centropsicopedagogicoapoio.com.br>. Acesso em 17 novembro 2016.

SETZER, Valdemar W. Efeitos negativos dos meios eletrônicos em crianças, adolescentes e adultos. Disponível em <http://www.ime.usp.br>. Acesso em 17 novembro 2016.

UOL. Infância sem risco – Saiba como proteger as crianças dos criminosos digitais. Disponível em: <http://www.uol.com.br>. Acesso em 06 outubro 2016.

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Os percursos da Democracia: reflexão, crítica e conflito

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A democracia é, atualmente, uma forma de governo que abrange todo o Ocidente. De origem grega, o termo designa o poder que é exercido pelo povo (demos: povo; kratía: poder). O presente trabalho aborda, sobretudo, a perspectiva de Goldhill (2007), para compreender o contexto de desenvolvimento desse sistema, bem como contrastá-lo com a democracia moderna. O contexto social da Grécia Antiga, mais precisamente em Atenas, no século VI a.C., contribuiu para a adoção de diversas medidas políticas, estas culminando em uma forma de governo democrático.

As sociedades ocidentais afirmam constantemente a relevância de uma política fundamentada na democracia. Esta é compreendida como a melhor estrutura de governo, desprezando-se aquelas que lhe são opostas, tais quais os regimes ditatoriais. Mais que mero exercício popular do poder, a democracia implica em reflexão, crítica e conflito [1]. Desde o seu surgimento “A discussão era indispensável […]. O povo ateniense queria que cada questão lhe fosse apresentada sob todos os seus diferentes aspectos e que lhe mostrassem claramente os prós e os contras” [2].

Fonte: http://zip.net/bptHNj

Considerando seu emprego usual nos discursos políticos de grande parte das sociedades, convém voltar-se aos primórdios da democracia para além da origem conceitual. A exploração histórica que remete a Atenas de 2.500 anos atrás se justifica ao passo que “Os democratas precisam questionar que forma deve tomar seu governo, e como ele se compara com outras formas de autoridade, hoje e no passado” [1]. O panorama fornecido pela Grécia Antiga permite que se compreenda os rumos que a democracia tomou no decorrer dos séculos, bem como suas possibilidades e limitações.

Primórdios da democracia

Atenas era governada por uma classe privilegiada de aristocratas, os quais detinham o poder político e econômico. Antes de a democracia ser implementada de fato, Goldhill destaca dois nomes que a influenciaram positiva e negativamente. O primeiro, Sólon, foi líder da cidade-Estado em 590 a.C. De acordo com o autor, dentre as medidas adotadas, destaca-se o direito de todos os cidadãos em recorrer a um júri, e a servidão tornou-se ilegal quando implicava em empréstimos feitos pelos abastados aos mais pobres. Tais ações foram positivas visto que favoráveis às classes populares.

O segundo líder, Pisístrato, tornou-se um ditador em 560 a.C. Sua influência é considerada negativa devido a liderança de um grupo de homens das colinas, visto que “A tirania era o trunfo desse […] grupo” [1]. Apesar de ser reconhecido como um tirano, o autor mencionado revela que Pisístrato realizou grandes obras que contribuíram ao desenvolvimento cultural de Atenas.

Bustos de Sólon e Psístrato, respectivamente.

Após a queda de Pisístrato e seus liderados, entra em cena a figura principal a firmar a estrutura para o estabelecimento da democracia: Cleistenes. Em 508 a.C., ele conquistou a liderança de Atenas e propôs

[…] a completa reorganização da política referente ao espaço de Atenas, e com isso o senso de pertencimento, de cidadania. Ele requeria que todo cidadão – cidadãos emancipados do sexo masculino, maiores de 18 anos – se registrasse em uma deme. […] O importante impacto político dessas bases se dava no estabelecimento de estruturas de autodeterminação em cada uma das comunidades, concedendo a elas um senso de responsabilidade por tudo o que acontecia ali [1].

As demes eram como distritos, porém, constituídas com base no sentimento de pertencimento de cada cidadão que a habitava. Atenas organizava-se em dez conjuntos de demes, formando tribos que autogeriam-se e possuíam estruturas religiosas e financeiras próprias [1]. A responsabilidade tratada acima se relaciona ao fator de grande destaque na democracia ateniense: o poder concedido aos homens, que de forma igualitária tomavam as decisões referentes a cidade-Estado. Por meio da Assembleia e das cortes populares, Cleistenes contribui à participação popular na tomada de decisões políticas, retirando da autocracia os privilégios quanto a tais questões.

A participação ativa na política era um sinônimo de cidadania, algo sobremodo relevante para os atenienses. No entanto, estabeleceu-se às custas da exclusão de mulheres, homens escravos, menores de idade ou aqueles que não fossem atenienses (nascidos em Atenas, bem como os seus genitores). Betthany Hughes destaca em documentário [3] que, “De cada três pessoas que moravam em Atenas uma era escrava. Os atenienses eram vigorosos democratas porque tinham […] os prisioneiros de guerra feitos escravos para realizar o trabalho sujo”. Corroborando com a ideia de Aristóteles quanto ao servilismo inato de determinadas classes [1], tem-se uma das bases inconvenientes sob as quais a democracia se desenvolveu.

Cleistenes. Fonte: http://zip.net/bvtHx7

Apesar dos aspectos negativos dessa democracia, a partir de Cleistenes,

Pela primeira vez, o povo de um Estado estava comprometido com a autodeterminação, com a autonomia e a responsabilidade para tomar decisões – a tarefa de governar. Cleistenes estabeleceu os princípios estruturais por meio dos quais a democracia ainda funciona: cidadania baseada em afiliações locais e nacionais, instituições administradas por e para os cidadãos, estruturas de poder combinadas e responsáveis, num sistema de controle mútuo das repartições governamentais [1] .

Estrutura democrática ateniense versus democracia moderna

O funcionamento da democracia na antiga Atenas revela o quão engajado estava o cidadão ateniense no agir político da cidade-Estado. Ali, a participação era o estandarte. Assim, é delineado o contraste entre o agir democrático em seus primeiros tempos com o dos tempos hodiernos, onde os indivíduos limitam-se a assistirem passíveis o desenrolar político de sua comunidade.

O significado de cidadania unia os cidadãos atenienses, independentemente da posição social que eles tivessem.  Aos que eram das classes mais baixas e não tivessem condições financeiras para participar de certa atividade política, como uma eleição, outorgava-se lhes dinheiro para que pudessem ir ao local no qual exerceriam papel de sujeitos democráticos. O ideal era que todos participassem enquanto sujeitos que conheciam e se importavam com seu sistema de tomada de decisões.

O modo pelo qual eram escolhidos os oficiais – exceto o posto de General –, através de seleção aleatória ou pela sorte, deixava claro que todo e qualquer cidadão poderia ser um personagem importante no agir político de sua cidade. Assim sendo, essa forma de seleção dava enorme possibilidade a grande parte dos cidadãos atenienses de atuarem em cargos públicos. Goldhill [1] ressalta que, numa década, “[…] entre um quinto e um décimo de todos os cidadãos serviria no Conselho […]”, onde eram deliberados assuntos importantes ao povo.

Fonte: http://zip.net/bvtHyk

O sujeito democrático ateniense era ativo, poderia (e deveria) decidir acerca de todos os temas importantes para a comunidade, desde as leis até iniciativas de guerras. O indivíduo se envolvia em questões cujos desfechos inevitavelmente afetariam sua vida. É evidente o contraste com as democracias ocidentais modernas, cujos cidadãos são aficionados por direitos e, de modo geral, limitam-se a somente verem seus representantes tomarem decisões por eles, muitas vezes sem consultar seu eleitorado.

Na democracia ocidental moderna, uma parcela reduzida de indivíduos é tida como apta para o agir político; na antiga, todos os cidadãos poderiam desenvolver em si o sujeito democrático, sendo personagens ativos e determinantes. Mesmo o cargo de general, ou a magistratura – postos mais elevados, sendo esta última determinada pelo sorteio de uma lista final –, “[…] permaneceram estritamente sob a autoridade da Assembléia, e não podiam dirigir ou instruir a Assembléia ou o Conselho” [1].

Ainda que distinta da incipiente democracia grega, o atual sistema assemelha-se àquela no que tange a três princípios, a saber: a liberdade de expressão, a igualdade perante a lei e a responsabilidade. O primeiro implica na liberdade que todo cidadão tem para falar, expressar-se nos eventos públicos ou governamentais. Embora o referido princípio subsista até os dias de hoje, é perceptível que na prática não ocorra da forma que deveria ser. Muitos cidadãos vivem uma falsa liberdade, onde são tolhidos e induzidos pelas classes superiores a não expressarem-se.

A igualdade perante a lei, como o termo sugere, indica que, em julgamento, um cidadão não deve ser privilegiado em detrimento de outro, ou da lei publicada. As reformas de Sólon, no que tange ao direito de apelação a corte, seguidas das ações de Cleistenes, contribuíram com o decrescimento da estrutura hegemônica autocrática.

Diferentemente das cortes modernas, não havia juízes ou advogados profissionais […]. Cada reivindicador tinha de falar por si próprio, e era julgado pelos colegas. […] Esse era um processo em aberto, debatido e anotado publicamente, regulamentado pelo estatuto da lei publicada. A seleção aleatória dos jurados evitava o suborno e decisões políticas tendenciosas […] [1].

Embora atualmente encontre-se prerrogativas tais quais o foro privilegiado em determinadas instâncias políticas, em suma, a isonomia prevalece como um princípio fundamental da democracia.

Fonte: http://zip.net/bqtH4d

A responsabilidade, por sua vez, implica em que “[…] todo homem [deve] […] se responsabilizar pela coletividade de cidadãos. Isso significa que cada homem é responsável por seu voto e suas ações, e que ele pode ser responsabilizado” [1]. Reforçando o que foi mencionado, sabe-se que a democracia grega funcionava com base em uma população restrita, excluindo escravos, mulheres e menores de idade. A democracia atual, no entanto, sobressai-se – com algumas reservas – pela conquista do direito ao voto, independente de gênero ou classe social. Contudo, Goldhill questiona determinada inércia dos cidadãos modernos, bem como o desagrado com a estrutura democrática vigente.

Críticas ao modelo democrático

Para explicar os caminhos que a democracia atual tomou, o autor citado propõe uma análise das críticas a tal sistema, principalmente aquelas feitas por Platão. Suas influências a democracia moderna residem principalmente em proposições quanto a especialização necessária para se atuar em determinado cargo, incluindo os políticos. Platão criticava a não exigência de preparo técnico e intelectual dos governantes, bem como alegava a incapacidade dos cidadãos para decidir acerca de temas políticos.

A oposição de Platão “[…] à democracia em nome da lei e da ordem continua a prover uma autoridade intelectual fundamental para governos totalitários (e democracias nervosas)”. Para o filósofo, a democracia ateniense aproximava-se da anarquia, enquanto Esparta, conhecida por um sistema social e leis rigorosas, era o modelo ideal de governo fundamentado na “ordem social” [1].

Soldados espartanos. Fonte: http://zip.net/bntG6J

Tratando-se de ordem social, outro filósofo aparece como influente no modelo atual de democracia. Sócrates, segundo afirma Goldhill, “[…] foi executado pela Atenas democrática, devido àquilo em que acreditava. O que ele ensinava, e como o fazia, parecia muito perigoso para ser tolerado pela sociedade”. O autor expressa a relação de Sócrates com a fragilidade do sistema democrático, no que tange ao “[…] equilíbrio entre a liberdade de expressão e as exigências da ordem social” [1].

Platão e Sócrates ainda hoje movem questões clássicas de democracia e liberdade de pensamento. De certo modo, ambos apresentam posições distintas, porém, mobilizam a reflexão já proposta anteriormente: a democracia implica em crítica, conflito entre “liberdade individual e a regulamentação da comunidade” [1] e divergência de opiniões. O percurso histórico acerca da democracia revela as potencialidades e fragilidades, tanto nos primórdios quanto atualmente. Winston Churchill afirma que “A democracia é a pior forma de governo, tirando todas as outras” [4]. Apesar de ter se expandido como uma estrutura de governo desejável, percebe-se que ela implica, inevitavelmente, em que haja constante discussão, tanto sobre suas bases quanto sobre os rumos a serem tomados.

É notável que a democracia moderna ampliou alguns de seus princípios, no entanto, outros decresceram no decorrer do tempo. O engajamento percebido nos atenienses, por exemplo, bem como seu grande poder de decisão política são exemplos de aspectos nos quais os cidadãos modernos mostram-se estagnados. Algumas sociedades atuais, ditas democráticas, sequer contam com a participação de parcelas significativas da população para a escolha de seus líderes. Assim como Platão afirmava, supostamente deve-se confiar as decisões mais importantes a sujeitos capacitados.

Fonte: http://zip.net/bftG35

O descontentamento com a democracia atual, conforme abordado, pode ser analisado de acordo com diversos pensamentos, dentre eles os dos filósofos Sócrates e Platão. Além das reflexões anteriores quanto a dinâmica da democracia, as proposições desses filósofos fornecem lentes para se avaliar o sistema atual, bem como os seus impasses com a ordenação social. Considerando o posicionamento de Churchill, bem como o de Goldhill, para que se mantenha a democracia deve-se sempre questioná-la e compará-la com os modelos anteriores, ou seja, implica em conhecer sua história.

REFERÊNCIAS:

ALMEIDA, J. B. Grécia – a caminho da democracia. Disponível em: <http://www3.pucrs.br/pucrs/files/uni/poa/direito/graduacao/tcc/tcc2/trabalhos2007_2/Jeronimo_Basil.pdf>. Acesso em: 04 mar. 2017.

[1] GOLDHILL, S. Amor, sexo e tragédia: como gregos e romanos influenciam nossas vidas até hoje. Tradução Cláudio Bardella. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2007. Parte III, cap. 1-5.

[2] COULANGES, 2004, p. 356 apud ALMEIDA, s.d., p. 25.

[3] A HISTÓRIA da democracia (Athens: The Truth About Democracy). Apresentação: Betthany Hughes. 2007. (95 min). Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=P3yVRkvP-w4>. Acesso em 01 mar. 2017.

[4] CHURCHILL apud GOLDHILL, 2007, p. 149.

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Em Palmas, diretora do Facebook exorta força do empreendedorismo

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A diretora de empreendedorismo do Facebook para a América Latina, Camila Fusco, esteve em Palmas  – TO para participar da Fenepalmas 2015. A convite da Acipa – Associação Comercial e Industrial de Palmas -, Fusco ministrou uma palestra sobre protagonismo empreendedor e, ao lado de uma equipe – que mantém stand de atendimento até sábado – procurou dissolver as dúvidas sobre o uso da rede social e a aplicação da mesma na geração de negócios e/ou serviços. Esta é a primeira vez que o Facebook vem a um evento no Tocantins.

Foto: Arquivo Pessoal

Ao (En)Cena, Camila Fusco comentou que o  empreendedorismo – em todas as suas matizes –, além de gerar riquezas, é um importante fomentador da cidadania, uma vez que incentiva o auto-aperfeiçoamento, o senso de pertencimento e, acima de tudo, contribui para que as engrenagens financeiras se ampliem, fazendo com que mais e mais pessoas se beneficiem. “Neste movimento, é extremamente importante a ação e engajamento de jovens e universitários. A ideia de que empreender é para poucos não passa de um mito. O nosso país é um exemplo de ações empreendedoras. E hoje há uma gama de opções no Facebook que, se usadas adequadamente, podem potencializar os mais variados tipos de negócios/serviços, em diferentes áreas, formatos e portes”, destaca, ao acrescentar que, na rede social, há uma verdadeira democratização e inclusão por meio dos diversos pacotes oferecidos, que variam de acordo com as condições do empresário/empreendedor.

Especificamente sobre o curso de Psicologia no contexto das redes sociais, assim como já ocorre nos Estados Unidos e outros países centrais, o destaque é para a complementação profissional – no âmbito da Psicologia Organizacional –, com enfoque nas oportunidades geradas pelas redes e, também, o destaque à identificação e captação de mão de obra qualificada tendo a tecnologia como uma aliada. Há, portanto, uma ampliação do sentido atribuído ao empreendedorismo. Muito mais que a geração de negócios, entender como funciona a “engrenagem” das redes sociais – e o Facebook, hoje, é a principal delas – dá aos profissionais um capital intelectual extra para atuar nos mais diversos setores. “Nosso objetivo, nas visitas às feiras espalhadas pelo Brasil, é mostrar a potencialidade contida na rede. Afinal, o Facebook é a principal vitrine para pequenas empresas no Brasil, com mais de 94 milhões de pessoas conectadas”, complementa Fusco.

Mais números

Outro detalhe importante sobre o Facebook é que, hoje, ele tem se caracterizado como um importante gerador de empregos e renda para as pequenas e médias empresas brasileiras. De acordo com a Deloitte, 231 mil empregos foram criados e 10 bilhões de dólares foram injetados na economia nacional entre 2013 e 2014. São três milhões de páginas de pequenas empresas usando o Facebook, o que representa um aumento de 50% em relação ao ano passado, com 2,7 mil páginas criadas por dia no último ano.

Para os profissionais liberais de qualquer área, outra informação importante é que o Facebook se tornou, ao longo dos últimos anos, um imenso agregador de conteúdo. Sobre este assunto, o último relatório divulgado pela Parse.ly, agência que monitora e pesquisa o tráfego de várias empresas de mídia, aponta que a rede social é a maior fonte de visitas para os principais sites de notícias, ficando na frente inclusive do Google.

Fenepalmas

A Fenepalmas é uma realização da Associação Comercial e Industrial de Palmas (Acipa). Nesta quarta à noite, durante a abertura do evento, dentre as autoridades presentes esteve o governador Marcelo Miranda, o prefeito de Palmas, Carlos Amastha, além de presidentes de entidades parceiras e secretários municipais e estaduais. Todas as autoridades realizaram visita aos estandes.

Para o governador do Tocantins, Marcelo Miranda, a Fenepalmas é a expressão da força e da capacidade dos empresários. “É muito bom, é motivo de muito orgulho, constatar o progresso, a inovação e a competitividade das nossas empresas. E a Acipa exerce um papel preponderante para o sucesso dessa categoria, que muito contribui para o fortalecimento da nossa economia”, pontuou o governador. (Com informações da TecnoBlog, da ascom/Facebook e ascom/Acipa)

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2º Fórum de Direitos Humanos e Saúde Mental

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O evento tem como tema “Direito às Diversidades: Cidades, Territórios e Cidadania”.


Com o objetivo de problematizar as violações de Direitos Humanos das diferentes formas de viver nas cidades, a Associação Brasileira de Saúde Mental realiza o 2ª Fórum Brasileiro de Direitos Humanos e Saúde Mental, com o tema “Direito às Diversidades: Cidades, Territórios e Cidadania”. O evento acontece entre os dias 4 e 6 de junho de 2015, na cidade de João Pessoa – Paraíba, com foco em movimentos sociais, pesquisadores, estudantes, ativistas e militantes que desejam construir uma ampla Mobilização Social e Popular em favor de Cidades Inclusivas, Justas e Solidárias.

Atualmente, diante da multiplicidade cultural, vivenciamos o crescimento de violência e crimes contra segmentos considerados diferentes do que a sociedade contemporânea tem como padrão. As principais formas são preconceito racial, social e sexual. Cabe então as poderes públicos e à própria sociedade zelar pelo direito à expressão destas diferenças.

Nesse contexto, as cidades se tornam palcos onde esses discursos e práticas discriminatórias se materializam, seja pela ação dos sujeitos políticos, seja pela ação das instituições na consecução das políticas públicas. Vale destacar que durante parte da história social brasileira ações e políticas baseadas no higienismo, na medicalização social e na segregação dos considerados como diferentes ou anormais geraram graves violações aos Direitos Humanos.

Por isso o 2º Fórum de Direitos Humanos e Saúde Mental será um importante espaço de reflexão sobre ações que visem mobilizar setores sociais para questionar e lutar contra os discursos de ódio e de intolerância e a crescente monopolização das cidades em favor do lucro e da exclusão social. A programação conta com rodas de conversa, mesa redonda, tenda com Paulo Freire, oficinas, cursos, feira de economia solidária, mostra de cinema e vídeo sobre Direitos Humanos e Saúde Mental e atividades artísticas e culturais.

Clique aqui para fazer sua incrição e conferir a programação completa.

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Crescendo com sabedoria: diretrizes para a formação de homens de bem

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“Quando os pais elogiam e reforçam as atitudes de solidariedade dos filhos,
atitudes de amizade, de respeito pelos animais, de honestidade,
estão valorizando o seu lado humano”.

Anabela Sabino

A escritora Anabela Sabino – Foto: Arquivo Pessoal

Cuidar do desenvolvimento infanto-juvenil  vai além de suprir necessidades físicas ou materiais, envolve dedicação, empenho, persistência, amor e acima de tudo respeito. O novo livro de Anabela Sabino, “Crescendo com Sabedoria”,  trata de temas como:  (da descoberta do)  o amor, a amizade e a família.

Segunda filha de quatro irmãos, Anabela foi criada pelos pais e a avó paterna. Teve muito espaço para brincar, amigos de vizinhança, boa saúde e uma família estruturada, aspectos importantes no desenvolvimento de qualquer criança. Já na adolescência fez magistério e com quinze anos estagiava em uma pré- escola. De professora à psicóloga, foi uma transição natural.

Atualmente trabalha como psicóloga na “Casa de Joana D´Arc,” uma das unidades do Lar Fabiano de Cristo, que tem sede no Rio de Janeiro, atividade semelhante ao que exercia na Alvorecer Ação Social e Educacional, onde trabalhou por quatorze anos, em contato direto com crianças, adolescentes e pais,  mediando conflitos familiares.

(En)Cena – No livro Crescendo com sabedoria você aborda temas como amor, amizade, comportamento, família entre outros. Conte-nos um pouco mais sobre o livro e o que te motivou a escrevê-lo?

Anabela Sabino – Sempre gostei de crianças e estou sempre envolvida em algo que diz respeito a elas.   Em “Gestação à Luz do Afeto”, meu primeiro livro, trabalho o vínculo afetivo entre mãe gestante e o bebê, fortalecendo a relação de amor entre eles. Embora o livro seja dirigido às mães, meu foco é a criança que está para nascer.

Comecei a escrever para crianças depois da encomenda de um livro, que seria usado em uma campanha, com crianças, visando a paz. Assim, surgiu “Brincando de Ajudar”, e a constatação de que, através do faz de conta, eu poderia valorizar ideias positivas através de outros livros.

Geralmente, nos livros infantis um tema é tratado de cada vez. Em “Ero´ Baloc”, por exemplo, um dos meus livros infantis,  falo sobre a colaboração. Vi em “Crescendo com SABEDORIA” a oportunidade de levar às crianças e jovens muitos conceitos valorosos para as suas vidas em um único livro.

São duzentas e vinte pequenas mensagens para a autoeducação infanto-juvenil,  onde são abordados assuntos como:   limites impostos pelos pais, crianças com necessidades especiais, bullyng, tolerância, diferenças e igualdades entre as pessoas, direitos e deveres, separação dos pais, adoção, nascimento de irmão, mudanças , sobre os avós, a falta de controle, saúde, doenças, morte, o certo e o errado, escolhas, otimismo, gratidão, o exemplo, novos hábitos, força de vontade, acreditar em si mesmo, oportunidades, valor da vida, autonomia, valor da família, fazer escolhas, modismos,  honestidade, o valor de ser, consciência ecológica, respeito, ansiedade, tristeza, solidão, resignação, amor dos pais, esperança, buscar solução para os conflitos, assédio, assertividade, raiva, inspiração, Deus, Jesus, valor da oração, fraternidade, saber escutar, ciúmes, vícios, perdão, lazer e outros.

Espero que não somente os jovens o leiam, mas os pais, também, pois, a leitura, pode levá-los  reflexões úteis sobre a formação do “ser”. Todos nós desejamos um mundo melhor para se viver, e isso só acontecerá quando as pessoas forem  da paz e do bem. A família é o maior laboratório para  se aprender a amar.

(En)Cena – O dia das crianças foi criado para incentivar o consumo e com as intervenções midiáticas esse incentivo tem sido cada vez mais agressivo, como mostrar para as crianças que ser é mais importante que ter?

Anabela Sabino – Os pais passam seus valores aos filhos muito mais nas pequenas coisas do dia a dia do que contendo o consumo nas grandes datas comemorativas. Quando os pais elogiam e reforçam as atitudes de solidariedade dos filhos, atitudes de amizade, de respeito pelos animais, de honestidade, estão valorizando o seu lado humano. Quando os pais enaltecem as atitudes de honestidade ou de trabalho voluntário,  noticiadas na televisão, também estão mostrando para a criança o que realmente é importante. A criança pequena só se torna um consumidor voraz e insaciável porque os pais permitiram, ela cresce, e continua a exigir dos pais, mais e mais. Há um grande vazio nesta relação familiar que é preenchido com coisas.

(En)Cena – Você escreve para o publico infanto-juvenil, o que mais te chama a atenção nesse publico?

Anabela Sabino – As crianças de qualquer classe social desejam a mesma coisa, têm a mesma necessidade básica: serem amadas,respeitadas  e aceitas por serem exatamente como são. Quem é amado incondicionalmente, tem o ponto de partida seguro para seguir seu caminho.

(En)Cena – Você é espírita e através de seus livros busca passar aos leitores algumas máximas da sua doutrina, você acredita que a religião pode ajudar na formação dessas crianças e jovens?

Anabela Sabino – O livro “Crescendo com SABEDORIA” pode ser lido por crianças de todas as religiões cristãs, pois tem suas bases nos princípios cristão universais. Valores como o respeito, a honestidade, família, o amor, sinceridade, empatia, tolerância, simplicidade, caridade e tantos outros que norteiam o homem de bem. Falo de Deus como sendo o pai de toda a humanidade,  de Jesus como sendo o nosso irmão mais velho,   o mestre que aconselha e que deixou o seu exemplo de amor ao próximo.  Cito a oração e a meditação como forma de buscar inspiração.  E, principalmente, sentir a si mesmo como essência espiritual, imortal em processo  evolutivo constante.

Entendo que uma boa educação deve fortalecer o vínculo com o divino.  A ligação do jovem a uma força universal maior  traz sentido e significado à vida,  e pode ser fator importante  de prevenção aos estados depressivos, da fuga através das drogas, banalização da vida, rebeldia e outros comportamentos perigosos ao equilíbrio emocional do jovem.

(En)Cena – A falta de tempo dos pais tem sido umas das maiores dificuldades na criação dos filhos, como driblar essa dificuldade e dar as diretrizes necessárias para a formação dessas crianças e jovens? 

Anabela Sabino – A falta de tempo dos pais é um problema,  mas não é o maior deles. O maior problema é a indiferença quanto a sua missão perante os filhos: formar o homem de bem.

(En)Cena – Como psicóloga quais dificuldades você aponta na relação de pais filhos na atualidade?

Anabela Sabino – Acredito que a maior dificuldade na relação entre pais e filhos está na comunicação.  Nas gerações passadas, o autoritarismo dos pais a dispensava. Embora a dinâmica das relações entre eles tenha mudado, a comunicação continua ineficiente. Muitos problemas poderiam ser resolvidos através de uma comunicação assertiva. Por trás desta falha no relacionamento, estão envolvidos sentimentos de difícil  lida, como: ciúmes, posse, egoísmo, orgulho, medo de perder o amor, rejeição, culpa, raiva etc.

Que mensagem você gostaria de  deixar aos leitores do (En)Cena?

Anabela Sabino – Sou profundamente grata por ter sido inspirada a desenvolver este trabalho, espero que possa influenciar, positivamente, os jovens leitores a buscarem caminhos mais felizes para as suas vidas.

 

Para saber mais sobre o trabalho de Anabela Sabino acesse: www.anabelasabino.com.br

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FICHA TÉCNICA DO LIVRO

CRESCENDO COM SABEDORIA

Autora: Anabela Sabino
Editora: BOA NOVA
Meditações – 240 págs.

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