Álcool, o frágil limite entre prazer e destruição

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Todos os anos o dia 20 de fevereiro é dedicado ao combate e conscientização da dependência do álcool, e é de suma importância que haja uma reflexão individual sobre o papel que a bebida exerce em nossas vidas e como ela pode impactar nossa realidade.

O álcool, diferente de outras drogas, pode estar presente desde muito cedo na vida das pessoas e a dependência que ele muitas vezes causa afeta milhões mundialmente. Socialmente muito bem aceito, e proposto em quase qualquer ocasião, a falta de controle no seu consumo às vezes está relacionado à busca de alívio da tensão e do estresse do dia a dia, entre outras razões. Seja para ser bem aceito num grupo, seja para perder a timidez, ou tantos outros motivos, a bebida é muitas vezes vista como uma boa alternativa.

O Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (DSM), na sua última edição (DSM-5) atualizou o abuso e dependência de álcool que antes era chamado de alcoolismo, para Transtorno por Uso de Álcool (TUA), sendo uma condição na qual uma pessoa tem desejo ou necessidade física de consumir bebidas alcóolicas, mesmo que isso tenha um impacto negativo e traga consideráveis prejuízos em sua vida. É uma forma de extrema dependência em que a pessoa tem uma necessidade compulsiva de ingerir álcool para ser funcional nas suas atividades diárias.

Atualmente são identificados quatro padrões de consumo de álcool: o consumo moderado, sem risco; o consumo arriscado, que tem o potencial de produzir danos; o consumo nocivo, que se define por um padrão constante de uso já associado a danos à saúde; e o consumo em binge, que diz respeito ao uso eventual de álcool em grande quantidade.

Fonte: encurtador.com.br/syCT0

Alguns autores trazem este abuso como uma doença crônica, com fatores genéticos, psicossociais e ambientais influenciando seu desenvolvimento e suas manifestações, ou seja, as teorias levam em conta a complexidade do transtorno e reconhecem que geralmente é causado por uma combinação de fatores.

Mas porque referir-se a este assunto como um frágil limite entre prazer e destruição?

O álcool atua sobre o sistema de recompensa do cérebro, através da liberação de dopamina (entre outros neurotransmissores), trazendo a sensação de prazer e recompensa. Por ser uma droga lícita, difundida e muito usada até mesmo como ferramenta de aceitação e desenvoltura social, entender o mecanismo por trás deste sistema de gratificação que o cérebro produz e as consequências deste tipo de condicionamento, nos fazem perceber quão tênue é esta linha entre o prazer e o perigo.

Segundo o psiquiatra Dr. André Gordilho, “o paciente pode desenvolver tolerância, precisando de uma quantidade cada vez maior da bebida para sentir os efeitos que ele busca. Às vezes ocorrem sintomas físicos, como insônia, irritabilidade, e outros sintomas de abstinência”, completa.

Para um diagnóstico eficaz, ele traz que a atenção ao histórico do paciente é essencial. Normalmente a pessoa começa a estreitar o intervalo dos dias em que bebe, passando a consumir álcool de forma cada vez mais frequente. Também pode passar a ter comportamentos inadequados, como beber em locais em que não deveria, como no trabalho.

Fonte: encurtador.com.br/ckmwN

Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), o abuso de álcool é responsável por 3,3 milhões de mortes todos os anos no mundo. Dentre outras consequências podemos listar algumas patologias como: cirrose e outras doenças do fígado, depressão, crises de ansiedade, tremores e etc.

O álcool pode piorar os sintomas de depressão e ansiedade já existentes, além de aumentar as explosões emocionais. Muitas vezes, os alcoólatras têm uma falta de controle emocional (autoregulação) e às vezes podem causar perturbação nos contextos onde estão inseridos se estiverem altamente intoxicados.

O vício em álcool é perigoso, e ele vai aumentando gradativamente sem que o indivíduo perceba. O usuário não pensa que tem um problema, e quando vai se dar conta já não consegue assumir o controle em relação ao comportamento de beber ou à quantidade consumida.

Esta prática, além de conduzir o indivíduo a sérios malefícios para a saúde, contribui para a deterioração das relações sócio familiares e de trabalho, causando sérios prejuízos para a pessoa tanto fisicamente, quanto psicológico, emocional e socialmente.

Fonte: encurtador.com.br/rvQX9

Alguns sinais e sintomas do transtorno incluem:

  • beber sozinho ou em segredo;
  • não ser capaz de limitar a quantidade de álcool consumida;
  • não ser capaz de lembrar alguns espaços de tempo;
  • ter rituais e ficar irritado se alguém comentar sobre esses rituais, por exemplo, bebe antes, durante ou depois das refeições ou depois do trabalho;
  • perder o interesse em hobbies que eram apreciados anteriormente;
  • sentir muita vontade de beber;
  • sentir-se irritado quando os horários de beber se aproximam, especialmente se o álcool não estiver disponível;
  • armazenamento de álcool em lugares improváveis;
  • bebe para se sentir bem;
  • adquire problemas com relacionamentos, leis, finanças ou trabalho que resultam da bebida;
  • precisa cada vez mais de mais álcool para sentir seu efeito;
  • sente náuseas, sudorese ou tremor quando não está bebendo;

O tratamento da dependência possui algumas características particulares, visto que o indivíduo precisa de um programa bem personalizado, específico para ele. As perspectivas trabalhadas são medicação, abstinência, psicoeducação e responsabilização, dentro de uma visão multidisciplinar, envolvendo profissionais como psiquiatras, psicólogos, terapeutas ocupacionais e quaisquer outras especialidades como hepatologistas por exemplo. Para cada uma dessas abordagens é realizado um tratamento específico que vai depender do estágio que o paciente se encontra.

O primeiro passo deve partir da pessoa e o desejo de mudar aquele comportamento, reconhecendo que o consumo excessivo, progressivo e abusivo de bebidas alcoólicas está causando problemas em sua vida. A rede de apoio (familiares, amigos) é essencial para o sucesso da restauração da saúde e bem estar do usuário.

Um retorno ao consumo normal de álcool é muitas vezes possível para indivíduos que abusaram do álcool por menos de um ano, mas, se a dependência persiste por mais de cinco anos, os esforços para retornar ao consumo social geralmente levam à recaída.

Fonte: encurtador.com.br/bjIO3

Existe uma negação muito grande em reconhecer a doença por causa do estigma que ela carrega. E por ser tão bem socialmente aceito, as pessoas demoram a reconhecer e a procurar tratamento. Existe também muita vergonha envolvida nesse processo, e acaba sendo em alguns casos uma situação velada, e muitas vezes nem os próprios familiares conseguem se mobilizar para ajudar a pessoa que sofre com isso, às vezes por falta de informação ou por falta de acesso a estes meios de assistência.

Algumas formas de abordar e reduzir os níveis de consumo nocivo de álcool podem vir da promoção de conhecimento sobre saúde na população, fornecendo evidências da relação do consumo de álcool e os danos causados pelo abuso. A conscientização precisa ser mais bem trabalhada na sociedade como um todo, e precisa haver uma quebra de paradigmas, e buscarmos desmistificar o processo de tratamento, para a não normalização da doença e como qualquer outro transtorno ou patologia, procurando ajuda, pois é possível com tratamento superar e melhorar a qualidade de vida significativamente dos indivíduos prejudicados, tanto o portador do transtorno quanto seus familiares, amigos e colegas de trabalho.

O mais importante (e na verdade essencial) neste processo é que não se abra mão de um olhar psicossocial do indivíduo, que esteja ampliado e atento às relações deste sujeito, que ele seja protagonista nesta trajetória, e que haja este olhar nas interações entre os profissionais de saúde e o usuário e a sua rede de apoio, para um tratamento humanizado, que respeite as vontades do sujeito e busque sua melhora gradativa, de acordo com o seu caso e seu contexto.

REFERÊNCIAS

Transtorno do Uso de Álcool: uma comparação entre o DSM IV e o DSM – 5, NIH – National Institute on Alcohol Abuse and Alcoholism, outubro de 2021. Disponível em:  <https://www.niaaa.nih.gov/sites/default/files/publications/AUD-A_Comparison_Portuguese.pdf> . Acesso em: 15/02/2022.

O que é Transtorno por abuso de Álcool e qual é o Tratamento?, Seu Amigo Farmacêutico, 2019. Disponível em: < https://www.seuamigofarmaceutico.com.br/artigos-e-variedades/o-que-e-transtorno-por-abuso-de-alcool-e-qual-e-o-tratamento-/404#:~:text=O%20alcoolismo%2C%20agora%20conhecido%20como,era%20chamada%20de%20%22alco%C3%B3latra%22 >. Acesso em 15/02/2022.

Alcoolismo pode ser um inimigo invisível, Holiste, 27/05/2019. Disponível em: <https://holiste.com.br/alcoolismo-pode-ser-um-inimigo-invisivel/>. Acesso em: 15/02/2022.

Os cinco tipos de problemas com a bebida são mais comuns em diferentes idades, Third Age, 2019. Disponível em: < https://thirdage.com/the-five-types-of-problem-drinking-are-more-common-at-different-ages/>. Acesso em 16/02/2022.

Alcoolismo, Rede D’or, 2021. Disponível em: <https://www.rededorsaoluiz.com.br/doencas/alcoolismo>. Acesso em 16/02/2022.

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A Maternidade e o Espectro Autista – (En)Cena entrevista Camila Vieira

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“Não sei como ser mãe de uma criança fora do espectro,
não conheço outra realidade.”
Camila Vieira

Camila Vieira, advogada, 37 anos, mãe da Alice de 6 anos, que em novembro de 2016 foi diagnosticada com transtorno do espectro autista (TEA). Desde então tem acontecido uma série de mudanças nas relações familiares, que causaram impacto na rotina e no cuidado com Alice.

Nessa entrevista Camila partilha um pouco da sua visão como mãe, de quais os desafios após o diagnóstico de Alice, das intervenções realizadas, das experiências positivas, nos ajudando a ampliar nosso olhar acerca das várias formas de manejo e estímulos voltados para uma criança com esse diagnóstico.

Fonte: Arquivo Pessoal

(En)Cena – Quando e como foi o processo de descoberta do diagnóstico?

Camila Vieira – Não tive gravidez planejada, ao contrário. Tenho ovários policísticos e todos os médicos diziam que o mais provável é que eu teria que fazer tratamento para engravidar. Meus ciclos eram tão irregulares que eu menstruava quatro vezes ao ano e isso era normal para mim. Quando fui consultar, com um ginecologista descobri que estava grávida e teria uma menina em maio. Até um 1 ano de idade, Alice teve desenvolvimento normal, sentou-se, engatinhou, amamentei pouco, desceu pouco leite, mas alternei peito e fórmula até os 3 meses. Usou chupeta. Brincava muito conosco. Fazia festa quando o pai chegava do trabalho, demonstrava atenção ao que acontecia no ambiente, portas abrindo, Tv ligando, saltos altos, coisas assim. Brincava de esconder, como toda criança, ria muito, balbuciava papai, nunca mamãe. Ela se interessava por outras crianças, mas não tinha nenhuma por perto, sendo o primeiro sinal de alerta, o atraso na fala, já que ela andou antes de um ano e atingiu os demais marcos esperados. Depois os balbucios pararam, então o pediatra disse para colocar na escolinha que os estímulos a fariam falar e entrou na escola em agosto de 2015, porém só que levar ela para a escola fez ela adoecer sequencialmente, gripava e não melhorava nunca, chegando a ter coqueluche, mesmo sendo vacinada.

Em dezembro do mesmo ano, meu marido e minha irmã levaram Alice numa consulta com uma fonoaudióloga num dia que não pude ir, na época minha irmã cursava medicina e Alice tinha um ano e meio. A fonoaudióloga simplesmente mandou esperar até dois anos e meio que a fala viria naturalmente, que estávamos sendo ansiosos demais, enfim ignoramos. Passei o semestre seguinte investigando com otorrinolaringologista se ela tinha algum problema de surdez e nada, até um episódio no fim de agosto de 2016, onde levei ela para a escola e esqueci a mochila, como era perto de casa, deixei ela na escola e voltei sozinha para pegar as coisas. Quando retornei, encontrei toda turma, professores e alunos, no pátio externo, brincando de roda, e ela sozinha na sala vendo desenho. Fui conversar com a diretora, perguntar sobre a frequência disso. E era alta “porque ela gosta mais assim”. Retruquei que ela não tem que querer, ela tem dois anos e eu sou a mãe e eles tem obrigação de me dizer esse tipo de coisa. Foi só aí que soube do problema de socialização e comecei a investigar autismo, mas só tive diagnóstico no fim de novembro em Goiânia, com um médico excelente como profissional, mas sem tato como humano. Depois uma outra médica com quem consultamos, amiga dele, disse que ele tem filho com autismo severo e eu respondi que as coisas não se comunicam.

Fonte: Arquivo Pessoal

(En)Cena – Após o diagnóstico quais as principais providências que foram tomadas voltadas para o cuidado?

Camila Vieira – O mesmo médico sugeriu testes genéticos e perguntei para que serviriam, se guiariam a medicação ou terapia e ele disse que não fariam isso, mesmo assim acabei fazendo por insistência do meu pai, o exame de cariótipo para Síndrome do x frágil, não deu em nada. Acho inútil gastar dinheiro em testes se não vão trazer utilidade prática, vale quando se pensa num segundo filho, o que não era o caso. A primeira providência foi contratar fonoaudióloga, a primeira mesmo, na mesma semana que voltamos para Palmas e Alice está com ela até hoje, Dra. Edna Manzano e ela ama essa mulher. Ajudou demais em áreas que nem são em tese da competência da área dela, como foco, concentração, olhar nos olhos.

(En)Cena – Quais foram as principais mudanças no cotidiano ocorridas após o diagnóstico?

Camila Vieira – Eu não querer morrer antes da Alice ter independência funcional. Tive o diagnóstico da Alice na última segunda de novembro de 2016 e na primeira semana de abril de 2017 fiz bariátrica. Era inconcebível para mim não conseguir pegar minha filha direito no colo pelo tempo que ela precisasse e poder morrer de infarto a qualquer instante. Eu precisava estar viva, enquanto ela aprendia a cuidar de si mesma, então, além de organizar a busca por terapeutas para ela – primeiro veio a fonoaudióloga particular, depois conseguimos psicólogo pela Ulbra por 18 meses, Terapia Ocupacional pela Unimed, Fonoaudiologia pela Unimed (hoje ela faz com as duas, uma sabe da outra), depois conseguimos psicólogo pela Unimed, aí mudamos para terapia ABA, primeiro na clínica, agora em casa… Foram muitas mudanças. E essas foram algumas das mudanças de agenda na rotina. Nesse meio tempo fizemos seis meses de equoterapia e outros tantos de fisioterapia, um ano de balé, outros tantos meses de natação (com pandemia nem sei contar). Fim do ano passado descobrimos a Kumon para alfabetização e vinha ajudando muito até o último decreto fechar o lugar. Esse foi o mais doloroso.

(En)Cena – Como você tem lidado com essa rotina de cuidados e outras tarefas?

Camila Vieira – Não sei, não sei mesmo. Tenho transtorno de pânico generalizado, diagnosticado há mais, sei lá, quase 15 anos! Aí quando decidi levar a sério a terapia com psiquiatra, na anamnese ela descobriu que devo ter depressão desde a adolescência, o que faz muito sentido. Então não sei mesmo, faço o que dá, levo ela onde preciso. Ano passado, não consegui dar continuidade a rotina de estimulação e esse ano tentei retornar, mas não consegui. Tentei não deixar Alice perder outro ano escolar e nisso estou me esforçando mais. Estou me esforçando também para brincar mais, dar mais atenção para ela, por menos energia que eu tenha. Não consigo entregar no trabalho o que me é exigido. Home office não é pensado para mulheres com crianças atípicas. Escola a distância não é pensado para crianças atípicas. Governantes ignoram completamente a existência de famílias atípicas. Vou te dar um exemplo pessoal: ano passado eu reclamei sobre isso de EAD para crianças com autismo e a prefeita disse para mandar mensagem privada. Só que as mensagens privadas dela são BLOQUEADAS! Eu já tive simpatia pela ideia de ter uma mulher no gabinete, mas já passou. Tenho me sentido negligente com as tarefas em geral, comigo, filha, marido, trabalho, amigos, casa… Dá uma sensação de que tenho falhado em tudo. Tenho dormido mal, em horários inadequados e tido insônias frequentes.

Fonte: Arquivo Pessoal

(En)Cena – Já passou por alguma situação desconfortável de preconceito no processo de inserção da sua filha nos espaços públicos? qual o tipo?

Camila Vieira – Poucas, pela minha personalidade. Sou intimidadora e tenho uma cara ruim. Só sorrio para fotos e amigos, não sou convidativa. Então, as pessoas pensam muitas vezes antes de se manifestar sobre Alice. E quando o fazem, respondo, de forma curta e grossa, que a única pessoa a agir errada é quem está reclamando. Alice está no espectro autista e tenho laudo na carteira para provar.

(En)Cena – Poderia partilhar sua experiência positiva com sua filha para que outras mães com dificuldades no diagnóstico possam se inspirar?

Camila Vieira – Depois do diagnóstico eu só pensava no que tinha perdido. Em todos os sonhos bobos de coisas que queria fazer com ela e não faria. Tipo, ela ia gostar de DC ou Marvel? Ia ser rockeira ou hippie? Que tipo de livro ia gostar de ler? Ela tinha dois anos quando recebeu o diagnóstico e eu estava de luto pela criança que nunca chegou a existir. O tempo passou. Ela foi comigo ao cinema ver Mulher Maravilha, Thor Ragnarok, Os Caça Fantasmas, Capitã Marvel. E semanas atrás, em casa, eu estava na sala, começando a rever Dr Estranho e ela se sentou no sofá comigo, então mudei o idioma para português e ela não deitou no meu colo, não foi ficar comigo, comer, nada disso, foi ver o filme. Ela está se encontrando. Está descobrindo algo que gosta. Tem quase sete anos e tem seu próprio universo de super heróis, Miraculous, as aventuras de Ladybug. Conhece e não é só um hiper foco, porque ela cria coisas que não estão no desenho. Cria kwamis, miraculous, poderes. E faz quando quer, não quando é solicitada. Acho fascinante.

(En)Cena – Como você atualmente ver o processo de evolução do tratamento de sua filha?

Camila Vieira – Confesso que mais lento que eu gostaria, mas responsabilizo a pandemia. A falta de contato social com crianças da idade dela e a quebra de rotina não só atrasaram, mas trouxeram perdas. Ainda é difícil avaliar se poderemos reverter esse quadro e quanto tempo isso vai levar, mas ter sido afastada da escola bem no primeiro ano do ensino fundamental foi o pior de tudo. Gerou depressão e ansiedade a ponto de precisar de medicação.

(En)Cena – Gostaria de deixar alguma mensagem para os nossos leitores sobre ser mãe de uma criança com diagnóstico de espectro autista?

Camila Vieira – Não sei como ser mãe de uma criança fora do espectro, não conheço outra realidade. Não posso dizer se é mais fácil, só sei que cada maternidade é única. Que não existem anjos azuis. Que crianças são crianças tenham ou não atipicidades. Que a convivência com diversidade é bom para todo mundo. Que a pandemia deveria ter ensinado as pessoas que escola em casa é um retrocesso a ser barrado e que professores precisam de salários dignos.


Para conhecer um pouco do cotidiano da Alice é só seguir no @a_incrivel_alice

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Gratidão traz inúmeros benefícios quando inserida no cotidiano das pessoas

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A psicóloga, ​coach e mentora Bia Nóbrega propõe atividades que resultam em uma maior qualidade de vida

A gratidão não é um estilo de vida muito partilhado na sociedade. É notável que as pessoas passam muito mais tempo se queixando por não terem determinadas coisas, sejam posses, relacionamentos e outros valores que são ostentados no nosso dia a dia, do que agradecendo pelas coisas boas que possuem. No entanto, essa qualidade pode ser trabalhada como um hábito.

Mesmo quando a Bíblia e até William Shakespeare atestam que “a gratidão é o único tesouro dos humildes”, algumas pessoas insistem em reproduzir os mesmos discursos derrotistas. Mas para psicóloga e coach Bia Nóbrega, é essencial remar contra essa maré e fazer algo a respeito: “há comprovação científica que identificar e agradecer pelas coisas boas que acontecem todos os dias melhora a vida dos indivíduos”, garante.

De acordo com a psicóloga, a gratidão opera através da Lei da Atração, que controla toda a energia do Universo. Segundo essa lei, você atrai para si tudo o que pensa e sente. Portanto, se você pensa coisas positivas, muda sua frequência pessoal e atrai coisas boas.

Por essa razão ela propaga ideias e também um pequeno programa para exercitar a gratidão no cotidiano, apesar dos problemas normais da vida cotidiana. As atividades foram apresentadas durante a palestra “1, 2, 3 já é hora de mudar a sua Vida” no Congresso Mundial da Gratidão e englobam 3 passos, sendo elas: autoconexão, conexão física e conexão social.

Para iniciar, é preciso saber quais são as áreas da sua vida você deseja melhorar, como saúde, relacionamento, finanças etc. Quanto mais precisão, melhor. Na sequencia você aprende técnicas simples para se conectar melhor consigo mesmo, o seu corpo, o ambiente em que você vive e as pessoas ao seu redor.

Com base nas respostas das perguntas sugeridas pela psicóloga é mais simples identificar quais são os caminhos que você deve seguir para alcançar o objetivo. Na última etapa basta colocar os ensinamentos em prática para ser mais feliz.

Psicóloga, ​Coach e mentora Bia Nóbrega

Sobre Bia Nóbrega

É coach, mentora, palestrante e atua há mais de 19 anos na Área de Recursos Humanos em empresas líderes em seus setores. Graduada em Psicologia pela USP, pós-graduada em Administração de Empresas pela FGV-SP, em formação para Conselheira, possui diversos cursos de formação, certificação e atualização. Liderou projetos de clima e cultura, estratégia, políticas, programas e práticas de RH, desenvolvimento organizacional, gestão de talentos e desenvolvimento de liderança. É afiliada à International Coach Federation (ICF), Associação Brasileira de Coaches (ABRACOACHES), Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH), Associação Brasileira de Treinamento & Desenvolvimento (ABTD) e Associação Brasileira de Qualidade de Vida (ABQV) e coautora do livro “Mapa da Vida” – Editora Ser Mais. Possui mais de 500 horas de atendimentoem coaching executivo, carreira e vida. Para saber mais, acesse o canal no YouTube 

 

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O cotidiano nas lentes de Alberto Korda

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Alberto Diaz Guetierrez, mais conhecido como Alberto Korda foi um fotógrafo cubano é conhecido por retratar a simplicidade de uma nação e ter o seu olhar voltado para o aspecto revolucionário através de suas lentes fotográficas. Ele se tornou mundialmente famoso por Guerrillero Heroico, retrato que fez de Che Guevara.

Fonte: https://goo.gl/75D3VG

Assim como muitos fotógrafos, Korda começou sua carreira como fotógrafo de cerimônias de casamentos, aniversários e batismo. Isso serviu de motivação e inspiração para fazê-lo abrir um estúdio de fotografia em Havana em 1954 e começar a desenvolver ainda mais o seu olhar para a fotografia de moda e publicitária.

A vida do fotógrafo e o seu estilo fotográfico mudaram radicalmente quando o mesmo começou a retratar as causas e as conseqüências dos movimentos socioeconômicos e políticos que se passavam por cuba em sua época. Um grande exemplo da sensibilidade de Korda ao retratar as conseqüências que todos esses aspectos e movimentos causavam na época foi a forma como ele enxergou uma criança que vestia roupas surradas e segurava um pedaço de madeira e uma boneca.

A Menina com a Boneca de Madeira, 1958. Foto: Alberto Korda. Fonte: https://goo.gl/75D3VG

A partir desse retrato, Korda conseguiu dar maior visibilidade do seu registro sobre a pobreza, a beleza e a sensibilidade de sua região, rendendo a ele, a partir de 1959, o trabalho como voluntário para o jornal Revolución, onde conseguiu promover uma maior divulgação dos seus trabalhos.

Korda tomou ainda maior notoriedade por retratar o convívio do líder e a sua relação mais humanizada do revolucionário Fidel Castro com a sua população. O fotógrafo teve uma relação muito estreita com Fidel, possibilitando-o registrar de perto todo o cotidiano dessa grande e importante figura com o seu povo e sua nação cubana. Além disso, também é autor de uma das fotografias (feita em 1960) que é tida como a mais reproduzida ao longo da história e foi mundialmente conhecida por retratar o líder Che Guevara. A fotografia ganhou o mundo a partir da morte de Che, em 1967.

El Guerrillero Heroico – versão sem recorte, 1960. Foto: Alberto Korda. Fonte: https://goo.gl/75D3VG
Versão divulgada do El Guerrillero Heroico. Foto: Alberto Korda. Fonte: https://goo.gl/75D3VG

Alberto Korda nasceu em Havana – Cuba no dia 14 de setembro de 1928 e faleceu em Paris na data de 25 de maio de 2001, na França. Alguns de seus trabalhos são intitulados como: Cuba por Korda, Diário de uma Revolución e Che: El álbum.

Referências

Disponível em: http://mundo-e-arte.blogspot.com.br/2015/07/fotografia-alberto-korda.html>. Acesso em 27 de agosto de 2017

Disponível em:  http://resenhanodiva.blogspot.com.br/2011/12/alberto-korda-o-fotografo-da-revolucao.html>. Acesso em 27 de agosto de 2017

Disponível em: http://iphotochannel.com.br/fotopedia/a-fotografia-mais-reproduzida-de-alberto-korda >. Acesso em 27 de agosto de 2017

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Os Deuses Devem Estar Loucos: máquinas ou humanos?

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Os deuses devem estar loucos é uma trilogia antiga (primeiro lançamento em 1980) que, através do cômico, levanta questões sociais e culturais pertinentes e reflexivas ainda na atualidade. No presente texto será abordado o primeiro da trilogia, que conta a história de Xixo, um bosquímano do deserto Kalahari, chefe de sua tribo, que ainda não tinha contato com o resto do mundo. A tribo mantem sua sobrevivência graças aos seus conhecimentos sobre a natureza, caça e coleta. Xixo logo enfrentará uma dura escolha, agindo de modo a proteger sua tribo, tal como suas crenças.

Fonte: http://migre.me/vFt1m

O filme inicia mostrando o cotidiano da tribo dos bosquímanos, que até então, está tudo dentro da normalidade para eles. Eis que Xixo avista um pássaro estranho no céu, que voa sem precisar bater as asas. Esse “pássaro”, na verdade, era um avião. O piloto está a tomar um refrigerante, cuja marca é conhecida mundialmente e é um dos maiores representantes do capitalismo (logo, se perceberá a genialidade do filme em usar esse símbolo). Então, o piloto joga a garrafa da Coca-Cola no deserto, vindo essa a cair perto de Xixo.

O bosquímano concebe aquele objeto estranho como um presente dos deuses (é um povo politeísta), pois, até o momento, tudo que ele e sua tribo recebiam dos deuses eram coisas boas, para ajudá-los, assim como a chuva. Isso porque os deuses amavam muito eles. Logo, aquele objeto torna-se atração na tribo, cumprindo funções que atendiam as necessidades de todos.

Fonte: http://migre.me/vFt1U

Porém, o presente dos deuses logo mostra sua real face: causar discórdia no grupo. É importante ressaltar que a tribo não possui leis, os pais não castigam seus filhos, sendo todos ali livres para agir como queiram, não há o conceito de posse, tudo é de todos, não havendo brigas e disputas por nada. A paz reina entre eles. Mas a presença da garrafa muda isso, pois, “de repente, todos precisavam dela o tempo todo. Algo que nunca haviam tido, tornara-se indispensável” (narração do filme). Assim, os integrantes da tribo, que nunca haviam brigado antes, agora encontram-se em grande querela e violência uns com os outros, disputando pelo objeto mandado pelos deuses.

Xixo percebe que tudo isso está ocorrendo devido ao objeto, que agora passa a ser chamado por eles de coisa má. Depois de enterrar o objeto distante da tribo e ele retornar para lá (uma hiena o desenterra e uma das crianças da tribo o encontra), Xixo imagina que os deuses não querem a coisa má de volta, sendo responsabilidade dele levá-la ao fim do mundo para não causar mais problemas. Conversando com os membros da tribo, eles lhe dizem que o fim do mundo deve ser muito longe, então, sem entender por que os deuses mandaram a coisa má e por que não a queriam de volta, Xixo embarca em uma jornada cheia de novidades, um mundo diferente do que ele conhecia, tudo para dar fim ao objeto causador de discórdia.

Fonte: http://migre.me/vFt29

Fazendo parte de uma tribo que sobrevive com o que a natureza oferece e que a única visão de mundo que possuem é o campo desértico do Kalahari, Xixo, em sua jornada, se depara com “animais” nunca vistos por ele (carros de homens que estavam ali em missão, inclusive, esses homens também lhe eram estranhos, devido a sua palidez).

Mas a pior desventura ocorrida com Xixo se deve ao fato de, por um mal entendido, principalmente linguístico e cultural, ele ter sido preso. Com fome, Xixo avista um rebanho de cabras e tenta abater uma. Como não conhece nada das regras sociais, ele não entende que a cabra não é para todos, que é posse de alguém. Assim, é levado para o mais desconhecido mundo, sem árvores, sem animais, sem deserto, sem sua tribo e o pior, sem sua liberdade, apenas uma vasta solidão e um vazio angustiante guardados entre quatro paredes, onde ele se recusa até mesmo a se alimentar, pois nem isso seguia os padrões ao qual ele estava acostumado.

Fonte: http://migre.me/vFt30

A poucas milhas dali, há uma cidade, onde o povo é denominado como civilizado. É um povo que, segundo o narrador do filme, recusou-se a adaptar-se ao seu meio, então, adaptou o meio ao seu modo, construindo cidades, estradas, veículos, máquinas e redes elétricas para realizar seus projetos racionais. O problema é que o homem civilizado não soube quando parar, e o meio ao qual ele adaptou a si tornou-se complicado, tendo o homem que adaptar-se e readaptar-se constantemente ao meio criado por ele para conseguir sobreviver.

Fonte: http://migre.me/vFt3v

Até então, várias reflexões já se tornam possíveis com o filme. São visíveis dois tipos de sociedade, uma que deixou a naturalidade original do mundo guiar seu modo de viver e outra que recusou isso. Podem ser levantadas questões acerca do capitalismo, desenvolvimento tecnológico, individualismo e como tais vêm influenciando a vida da maioria dos indivíduos.

Na sociedade dita como civilizada, percebe-se que aquilo que não é natural ao meio torna-se algo perigoso para ela, causando brigas, cansaço e mal estar nas pessoas. Fazendo uma correlação com a biologia, pode-se dizer que o meio/mundo é o corpo humano, aquilo que não é natural a ele são os invasores ou corpos estranhos ao organismo, e as brigas e o mal estar são os mecanismos de defesa que o organismo utiliza para expulsar o que não pertence a sua ordem.

Ou seja, percebe-se que as atividades que o homem civilizado passou a executar passaram a causar consequências negativas em suas vidas, como, por exemplo, ele ter que passar horas a fio trabalhando ou estudando como máquinas, esquecendo-se muitas vezes de sua humanidade, de suas relações, de aproveitar melhor o seu tempo, etc. Como reflexo disso, o filme mostra os bosquímanos, que seguem a ordem natural das coisas, sendo interpelados pela garrafa da Coca-Cola. Eis que ocorre uma mesclagem dos aspectos da sociedade civilizada e dos bosquímanos, de modo a enfatizar como a primeira influencia negativamente na segunda.

O objetivo do presente não é criticar o desenvolvimento tecnológico/industrial que o homem alcançou. Longe disso. Até por que é notável grandes avanços e descobertas que se deram graças a esse desenvolvimento. O problema está no fato de, como já foi dito, o homem não saber quando parar e não saber administrar aquilo que ele produz. Dessa forma, enxurradas de produtos são desenvolvidos, talvez sem haver real necessidade, e a humanidade se encontra em um mar de opções e acaba caindo em desespero frenético para obter, obter, obter, consumir, consumir, consumir, trocar, trocar, trocar.

E essa é uma das principais características do que Zygmunt Bauman (2000) chama de modernidade líquida, em livro de mesmo nome. Líquida por que tudo é fluido, tudo se esvai, assim como a água. A era do consumo exacerbado gerou indivíduos ansiosos, desejosos do imediatismo e da possibilidade de trocar produtos (quando não relacionamentos) que já não lhe satisfazem por outro melhor.

O individualismo passa a substituir relacionamentos substanciais. As pessoas passam a enxergar somente o “próprio umbigo” e a conceber os outros como meros coadjuvantes da existência humana, em que cada um se sente como sendo o principal protagonista (Adam Curtis, 2002).

Fonte: http://migre.me/vFt43

Levando isso em conta, retoma-se a história de Xixo que, em sua visão simplória da vida,  no momento antes de ser preso, é levado a julgamento e entra na sala sorrindo para as pessoas. Porém, ninguém retribui. No decorrer do filme, oberserva-se várias vezes essa atitude de Xixo, tão simples e bonita, mas tão escassa atualmente. Observa-se, também, ele ajudando pessoas que encontra ao longo de seu caminho, deixando por momentos a própria tarefa a qual ele se responsabilizou.

Talvez essa gentileza nos abraçaria comumente se o homem zelasse mais por sua humanidade e natureza e não permitisse que as máquinas ocupassem o lugar das suas relações.

FICHA TÉCNICA DO FILME

OS DEUSES DEVEM ESTAR LOUCOS

Direção: Jamie Uys
Elenco: N!xau, Jamie Uys, Marius Weyers, Sandra Prinsloo;
Ano: 1980
Países: África do Sul/Botswana
Classificação: Livre

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Relato sobre a preparação do próprio funeral: implicações psicológicas

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Só se pode morrer quem está vivo. E eu estou muito viva, portanto, a qualquer momento posso morrer. A morte é algo que pode estar “programado”, no caso de a pessoa estar, por exemplo, em estado terminal de uma doença, ou nos pegar de surpresa, quando, por exemplo, se é atropelado, assassinado ou até mesmo sofrer um ataque cardíaco. Em todos os casos, a situação é que ninguém está de fato preparado para este momento, o que não deixa de ser curioso, pois a morte é uma das condições da vida e, ainda assim, aterroriza a muitos.

Fonte: http://www.ahmanolo.com.br/wp-content/uploads/2015/04/hj_nao.jpg

Há algum tempo fiz um trabalho acadêmico cujo objetivo era elaborar o meu próprio funeral; assim, tomei a liberdade de me colocar nas duas situações descritas acima: a morte esperada e a morte surpresa. Enfatizo que não pretendo projetar o funeral em si, mas o antecedente a ele, pois acredito que o que eu fizer em vida será o meu legado e, baseado nisso, as pessoas próximas a mim são quem irão conduzir o funeral conforme eu merecer.

Supondo que neste momento, na minha doce juventude, eu esteja carregando alguma doença que pode me levar à estado terminal, pois não tenho conhecimento dela e não faço o devido tratamento (amanhã mesmo vou correndo fazer um check-up!), então, com o passar do tempo, me vejo no leito de um hospital, beirando o óbito. Nesse caso, com a premissa da minha morte, meu desejo é passar meus últimos dias fazendo o que gosto, com quem eu amo. Pretendo confortar o máximo possível meus entes e amigos queridos, para que minha morte não se torne um peso em suas vidas. Eu gosto muito de olhar fotos, então, acho que seria legal olhar todas da minha vida, talvez, até faça um book, denominado “Pré-perecimento”, até daria a ideia para meus familiares mostrá-lo no dia do funeral, mas como já disse, ficaria a critério deles.


Fonte: https://67.media.tumblr.com/tumblr_lxm7ry7ghc1qey7szo1_500.jpg

Agora, no caso de uma morte surpresa, bem, ela obviamente não é esperada (se é que alguma vez ela é “esperada” de forma direta, racional), então, eu não teria um aviso prévio e não poderia programar como passar meus últimos dias. Acredito, então, que a possibilidade de morrer a qualquer momento seja como uma força motriz que me impulsiona a viver a vida intensamente, aproveitá-la o máximo possível, ser uma pessoa que possa inspirar as outras, sem guardar mágoas, ressentimentos e inimizades, então se eu morrer amanhã, por exemplo, morrerei com a consciência leve, satisfeita com a vida que tive e sabendo que estarei partindo sem deixar nada mal resolvido para trás.

Fonte: http://65.media.tumblr.com/76553bff481af0ff8c39c92d490dd476/tumblr_mgwmw6mY5i1rqt502o1_500.jpg

Enfim, só morre bem quem viveu bem, ou pelo menos buscou nos últimos instantes deleitar-se da abundância de maravilhas que a vida oferece. Pensar demais, preocupar-se demais, sofrer demais, guardar coisas ruins… para que tudo isso? A vida é linda, mas não é infinita. Todos temos um “prazo de validade”, como um ingrediente de bolo. Então, antes que o prazo vença, vamos nos jogar e fazer da vida um bolo delicioso e que cada pedaço desse bolo faça as pessoas que dele provar mais felizes…

Fonte: http://67.media.tumblr.com/tumblr_ma0dds9ktW1rfyxemo1_500.jpg

“A morte não é nada para nós, pois, quando existimos, não existe a morte, e quando existe a morte, não existimos mais.”

                                                                       – Epicuro

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Sofrimento e superação

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O sofrimento é uma condição sine qua non da existência humana. O bebê nasce chorando, talvez por já pressentir a dor permanente da existência.  Não só a pobreza material faz sofrer. O sofrimento nos faz perceber em quê somos iguais, e está aí para lembrar-nos de nossa condição carnal, da deterioração da vida física.

Vivemos em uma época de pessoas sensíveis, onde se tenta a todo custo evitar o menor arranhão físico ou emocional. Com o avanço econômico e tecnológico dos últimos tempos avança também a tendência de querer tornar tudo mais cômodo. Isso embota os sentidos e deixa o espírito frouxo. Pais que passaram por dificuldades para “vencer na vida” buscam meios para que seus filhos não passem pelos mesmos desafios, e assim constroem uma redoma de vidro para eles. Mesmo que as ações sejam baseadas em boas intenções, elas impedem que os filhos aprendam com os próprios erros.

O sofrimento pode ser encarado como uma oportunidade. Uma porta que se abre para uma nova realidade. “Essas pessoas estão se esquecendo de que, muitas vezes, é justamente uma situação exterior extremamente difícil que dá à pessoa a oportunidade de crescer interiormente para além de si mesma”, alertava o psicólogo Viktor Frankl. Não há autoconhecimento sem sofrimento. E como seremos capazes de evoluir sem sabermos quem somos?

Em diversas culturas existem ritos de passagem que representam a transição de um estágio da vida para outro. Um jovem índio coloca a mão em uma luva cheia de formigas para demonstrar sua virilidade. De alguma maneira, tais rituais têm um simbolismo que dão sentido a quem os vive, e representa uma evolução em sua vida.

Na era do politicamente correto e do bullying, qualquer tipo de desconforto é abominado.  O projeto de acabar com a pobreza e o sofrimento, além de utópico, é ingênuo e indesejado. Caso não houvesse dor e necessidade, o ser humano perderia sua característica mais nobre: a virtude da caridade.

A capacidade de enxergar no próximo seu semelhante e condoer-se com sua situação faz o homem transbordar o seu ser e abrir os olhos à miséria humana e o coração à caridade. “Nunca deixará de haver pobres na terra; é por isso que eu te ordeno: abre a mão em favor de teu irmão que é humilhado e pobre em sua terra”, é o conselho presente em Deuteronômio. De que seria feito o herói e o mártir senão da superação e do sacrifício? A marca dos santos são as provações pelas quais são submetidos.

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O tempo não é relativo… Nós somos relativos

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Fonte:http://thiagocorreia.web1003.kinghost.net/wp-content/uploads/2012/01/tempo-25281-2529.jpg

Em qual momento do tempo podemos nos situar? O presente é fugidio. Quando pensamos que o capturamos, ele nos escapa como a água que escorre por entre os dedos quando tentamos segurá-la. O futuro é incerto, imponderável. O futuro é uma promessa. O passado passou, e dele podemos ter não mais que uma pálida lembrança.

As frustradas tentativas de impedir as revoluções dos ponteiros do relógio nos lembram de que a marcha autoritária do tempo não cessa. Não poderia aceitar que só o presente existe, pois toda vez que tentamos captura-lo nós o perdemos. Quando penso no presente ele já ficou no passado. Quando eu soletro uma palavra, as letras já se foram. Quando escrevo numa folha de papel, esta ficou na história.

Do futuro nunca teremos certeza. Com base em nossas experiências, podemos fazer projeções sobre os acontecimentos vindouros com algum nível de acerto. Mas as expectativas criadas no presente são facilmente ignoradas pelo curso do tempo. Sempre que planejamos algo e somos totalmente desarmados, entendemos que nós mesmos não somos completamente donos e senhores de nossos destinos.

O passado está talhado em nossa memória. Ele vive em nossas tradições. Nosso corpo e as coisas que nos rodeiam estão impregnadas de história. Não há como nos livrar do que já aconteceu. Somos descendentes e herdeiros diretos do que foi feito no tempo pretérito.

O tempo não é relativo. Nós somos relativos. De uma forma ou de outra, sabemos que somos seres espaço-temporais. Sentimos a ação do tempo em nossa pele, a pressão da gravidade em nossas costas. Estar contido no tempo é estar à disposição do perecimento. Não vale sacrificar o presente em virtude de uma prometida utopia terrestre.

Talvez, uma resposta mais razoável sobre “quando” nós nos encontramos, é que estejamos em um istmo do tempo espremidos entre o passado e o futuro. O que está ao nosso alcance é cogitar, no presente, um esboço do futuro de acordo com as vivências do passado. Mais preciso sobre a temporalidade foi Santo Agostinho, quando disse: “O que é, por conseguinte, o tempo? Se ninguém me perguntar, eu sei; mas, se o quiser explicar a quem me fizer a pergunta, já não sei”.

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